Não me deixaria
de forma alguma,
nem em cubo iria,
matar-me por capricho.E por mais que eu suma
dentro de mim,
eu esperarei, sim,
que a vida me consuma.Me dê um grande princípio,
me dê um horrendo caminho.
Lavar os erros com sangue
e então poderei morrer.Me faça ameaças,
tente matar minha ideia,
me dê uma dose de cicuta
e minha morte será ideia.Mas se não quiser,
então tudo certo.
Matar-me por capricho
também não vou querer.Eu sou um bicho
e ainda vou ser,
até que me torne lixo.Eu estarei de pé,
cambaleando,
aprendendo a andar
e depois a dançar.Se ninguém me matar,
e não me derem um suicídio,
quem eu seria afinal
pra minha vida tirar?Peguem suas taças,
levantem as asas
e vamos brindar.Um brinde aos suicidas,
um brinde aos bombeiros,
um brinde aos guerreiros;um brinde para as vacas,
um brinde para as cabras
- obrigado pelo leite.Um brinde aos soldados,
um brinde aos apaixonados,
um brinde aos meios;um brinde aos músicos,
um brinde aos artistas,
- e nada aos moralistas.Todos que morreram com valor:
o tempo que a terra determinou
ou por princípio e louvor;levantem as taças,
bebam da cicuta
e deleitem-se da morte!Não se esqueçam:
sua morte foi justa,
foi poética
e você é um herói.Os mais belos suicidas
morreram pela vida
ou para tornar eterno
o que era interno.-LP