Assassinato e Capricho - 2

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Não me deixaria
de forma alguma,
nem em cubo iria,
matar-me por capricho.

E por mais que eu suma
dentro de mim,
eu esperarei, sim,
que a vida me consuma.

Me dê um grande princípio,
me dê um horrendo caminho.
Lavar os erros com sangue
e então poderei morrer.

Me faça ameaças,
tente matar minha ideia,
me dê uma dose de cicuta
e minha morte será ideia.

Mas se não quiser,
então tudo certo.
Matar-me por capricho
também não vou querer.

Eu sou um bicho
e ainda vou ser,
até que me torne lixo.

Eu estarei de pé,
cambaleando,
aprendendo a andar
e depois a dançar.

Se ninguém me matar,
e não me derem um suicídio,
quem eu seria afinal
pra minha vida tirar?

Peguem suas taças,
levantem as asas
e vamos brindar.

Um brinde aos suicidas,
um brinde aos bombeiros,
um brinde aos guerreiros;

um brinde para as vacas,
um brinde para as cabras
- obrigado pelo leite.

Um brinde aos soldados,
um brinde aos apaixonados,
um brinde aos meios;

um brinde aos músicos,
um brinde aos artistas,
- e nada aos moralistas.

Todos que morreram com valor:
o tempo que a terra determinou
ou por princípio e louvor;

levantem as taças,
bebam da cicuta
e deleitem-se da morte!

Não se esqueçam:
sua morte foi justa,
foi poética
e você é um herói.

Os mais belos suicidas
morreram pela vida
ou para tornar eterno
o que era interno.

-LP

Cloaca AmbiguidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora