Ele podia ouvir claramente os gritos de dor vindos de seu pobre escudeiro enquanto o maldito árabe se divertia com a imagem do garoto sendo tostado pelas chamas, como se fosse um leitão empalado. Edmond tentava salvá-lo, mas não conseguia de modo algum se livrar das correntes que atavam suas mãos ao chão.
Assistir ao seu escudeiro, um menino que não devia ter mais do que quinze anos, sendo queimado lentamente até a morte era algo que fazia suas entranhas se revirarem em completa agonia. Não suportava aquilo! Tinha que fazer algo para pôr fim naquele sofrimento. Sentia os pulsos em carne viva, mas não podia desistir. A gargalhada do árabe se fazia cada vez mais sonora e sádica, até o ponto em que finalmente Edmond acordou.
A luz forte machucou seus olhos sensíveis, deixando-o completamente cego em meio às brumas. Tentou abri-los novamente e sentiu a cabeça doer mediante a terrível claridade. Céus, onde estava? Sentia-se como um morcego sobrevoando o escaldante deserto árabe em pleno meio-dia, com o sol em suas costas e o vento seco lhe queimando a garganta. Seria isso? Teria regressado à Terra Santa? Só em pensar naquela possibilidade, seu coração disparou dentro do peito. Tentou abrir os olhos mais uma vez, mas só conseguiu enxergar borrões ao seu redor e isso lhe fez ficar ainda mais desnorteado.
Onde estaria? E por que sentia a boca tão seca como se tivesse comido um punhado de sal? Começou a tremer e, finalmente, percebeu que sentia um frio capaz de congelar sua alma. Não, não estava na Terra Santa. Aquele lugar era tão quente quanto o inferno e seria impossível sentir tanto frio assim em plena luz do dia. Então, onde foi parar?
Edmond fez força para tentar se recordar, mas a única coisa que vinha a sua mente era o árabe desgraçado. Teria matado Derek também, se Edmond não tivesse se soltado e estrangulado o general com suas próprias correntes. Lembrar-se de seu irmão mais novo fez com que sua mente trabalhasse de uma forma mais lúcida, e tudo ficou mais claro.
Recordou-se de estar no meio de uma estrada, cavalgando junto a Derek rumo às terras de Northgate. Como um raio, as imagens do ataque vieram a sua mente. Tinha sido abordado por quatro mercenários. Matara dois e perseguiu os outros por uma trilha apagada no meio do bosque. E depois disso? Teria sido apanhado? Era pouco provável. O tato lhe dizia que estava deitado sobre uma cama de feno coberta por uma grossa colcha de lã e o olfato lhe alertava para o doce aroma de flores silvestres e especiarias, que deveriam ter sido misturadas à palha para que esta cheirasse bem.
Provavelmente foi encontrado por algum camponês que tentava cuidar de suas feridas, não os malfeitores, mas por quê? Também notou que estava nu, apenas coberto por um grosso manto e deitado de barriga para baixo, e isso o fez se sentir ainda mais vulnerável.
Tentou abrir novamente os olhos e, dessa vez, forçou-os a permanecerem abertos. A luz incomodou bastante, mas, pouco a pouco, ele foi se adaptando à claridade e passou a distinguir algumas formas que o rodeavam. Parecia estar em uma típica cabana de camponeses, com o piso feito de terra batida e teto de palha seca. Viu uma fogueira bem no centro, mas as chamas estavam baixas e o calor que chegava até ele mal o aquecia. Também conseguiu identificar uma mesa de junco ao seu lado e a terrina que estava sobre esta indicava que ele não estava sozinho.
Fazendo um esforço hercúleo, conseguiu virar o corpo para se deitar sobre as costas e logo percebeu que essa foi uma péssima ideia! Sentiu uma dor aguda por sobre o ombro esquerdo, que tirou todo o ar de seus pulmões, mas ainda assim não se deixou levar por aquilo. Tinha que descobrir onde estava.
A única porta que havia no pequeno cômodo ficava no extremo oposto ao que sua cama se localizava e estava escancarada, deixando que a luz do amanhecer entrasse na cabana. Edmond pensou em se levantar e fechá-la, mas, antes que pudesse se mover, uma criatura pequena e delgada adentrou na cabana. Ele tentou distinguir suas formas, mas a única coisa que enxergou foi um borrão negro e vermelho que se movia pelo cômodo enquanto colocava alguma coisa sobre a mesa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Predestinados
RomanceDegustação (disponível apenas os 4 primeiros capítulos): Lorde Edmond Bertrand, Barão de Northgate, estava cansado de travar guerras em nome da Coroa. Após lutar bravamente nas cruzadas pela Terra Santa, conseguiu a admiração do rei e foi recompensa...