Capítulo IV

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O sol mal havia nascido quando Liz saiu escondida do convento, levando consigo a terrina com caldo de carne e o cantil com leite fresco. Aparentemente, o acordo que havia feito com a irmã Augustine estava sendo bastante vantajoso, pois a noviça até tinha conseguido um pedaço de pão dormido para Liz.

Quando chegara à cabana de sua avó, encontrara sir Edmond ainda dormindo sobre a cama improvisada de feno, ressonando como uma criança pequena. Não quis acordá-lo, por isso deixou a terrina, o cantil e o pedaço de pão sobre a mesa e depois tornou a trancar a porta pelo lado de fora. Pretendia nadar um pouco nas águas termais, uma vez que o clima estava fresco naquela manhã e estava bastante cedo.

A Queda das Almas não ficava distante da cabana e a trilha era fácil de se seguir. Quando finalmente chegou à clareira, parou um pouco para admirar o alinhamento megalítico que circundava toda aquela área, sentindo uma onda de energia percorrer seu corpo ao entrar no círculo.

Havia séculos, o extinto povo celta que vivia nestas terras havia construído aquela obra monumental tão misteriosa quanto seus saberes. Liz não sabia qual era o objetivo daquela construção, mas sua avó sempre lhe dizia que os druidas eram um povo sábio e que aquele lugar era sagrado.

Sua avó nunca negou seu sangue céltico e ostentava certo orgulho disso. Costumava dizer que descendia diretamente de uma grande linhagem de sacerdotisas druidas e que por isso era sua obrigação zelar pela Queda das Almas. Liz adorava ouvir a avó contando histórias sobre seu antigo povo e, inconscientemente, tocou a pequena runa de osso que mantinha atada ao pulso. Aquela era uma velha relíquia de família, e de certo modo, era seu único elo com seus antepassados.

Soltando um suspiro melancólico e sem temer ser observada, desfez-se de toda aquela roupa e passou a desembaraçar os longos cabelos ruivos, decidida a tomar um bom banho. Aquele era um velho ritual de purificação e sempre o executava minuciosamente, assim como sua avó lhe ensinara. Quando finalmente terminou com os cabelos, ergueu-se e se jogou sobre as águas, deixando que aquele líquido limpasse seu corpo de todas as impurezas.

Usou o sabão que tinha trazido para esfoliar a pele e depois aplicou nos cabelos a mistura que preparava com especiarias e extrato de lavanda para deixá-los suaves e perfumados. Os druidas acreditavam na importância de banhos regulares, pois a pureza das águas termais ajudava a fortalecer o corpo expulsando todo tipo de doenças e renovava suas energias. Usou também um óleo essencial feito à base de ervas medicinais para ungir a pele e afastar os maus espíritos, entoando mantras que aprendeu quando menina.

Quando se sentiu suficientemente limpa, deixou o corpo secar sob a fraca luz do sol nascente e, por fim, tornou a vestir a túnica, recolhendo as suas coisas, pondo-se a caminhar de volta para a cabana de sua avó. No meio do caminho encontrou Patas-Suaves e permitiu que o lince a acompanhasse pela trilha, como uma verdadeira sentinela.

Assim que chegou ao seu destino, removeu a tranca da porta e a abriu com um suave empurrão, temendo fazer barulho e despertar seu hóspede. Mas, antes mesmo que pudesse pensar em algo, ela sentiu os ombros sendo puxados e teve o corpo encostado à parede. Seu coração disparou no mesmo instante em que encarou aqueles olhos irritados, achando que só podia estar presa em um maldito pesadelo.

Sir Edmond estava bem na sua frente, tão nu como no dia em que veio ao mundo. Seu forte corpo prendia o dela contra a parede da cabana e fazia com que respirar se tornasse uma tarefa difícil. Sentiu as pernas fracas e o coração apertado, embriagada no medo que a tomava. Sir Edmond era uma verdadeira barreira e seu corpo era tão alto que a cabeça de Liz mal alcançava o seu queixo, obrigando-a a inclinar o rosto para encará-lo.

Tomada por uma coragem que não sabia existir, tentou se libertar dele, mas era inútil. As mãos fortes de sir Edmond mantinham os ombros de Liz presos na parede, fazendo com que não conseguisse mover os braços. Tentou chutá-lo, mas o cavaleiro antecipou seus movimentos e, rapidamente, introduziu uma de suas fortes pernas entre as dela, impossibilitando que erguesse as coxas.

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