Liz triturava folhas secas de beladona com a ajuda de um pilão, rezando para que a quantidade fosse o suficiente. Aquela planta era proibida pelos romanos e tida como demoníaca, mas, para os druidas, a beladona não passava de uma erva natural que, se usada de forma correta, poderia fazer um homem, por maior que fosse, dormir como uma criança durante todo o dia. Liz aprendeu a usar aquela erva mística desde que era uma menina e por isso sabia que os temores dos romanos não passavam de tolas superstições.
Depois de ter triturado as folhas até que virassem um pó escuro, ela jogou aquele refinado extrato em uma caneca com água fervente para que apurasse suas propriedades. Gostaria de ter algumas raízes de mandrágora ou de valeriana para encorpar mais a beberagem, mas, infelizmente, teria que se contentar apenas com a beladona. Teria que ser o suficiente.
Com a caneca em mãos, Liz se encheu de coragem e entrou na velha cabana, sentindo os batimentos do coração ecoando pelo pequeno cômodo. Tudo lá dentro parecia calmo e etéreo, exatamente como na época em que viveu com sua avó, mas havia algo diferente. Bem no canto da cabana onde ficava uma cama improvisada de feno, um enorme guerreiro travava uma batalha contra a inconsciência. Os olhos dele pareciam perdidos, fitando o teto como se não soubesse exatamente onde estava, e mesmo assim, Liz se sentiu estremecer no momento em que se sentou ao lado dele, rezando para que o homem não tentasse nada contra ela.
- Sir... - disse em um fio de voz, tentando ser o mais corajosa possível. - Acha que consegue sorver um pouco de água?
O cavaleiro nada respondeu, apenas olhou para ela com as pestanas meio caídas, como se não compreendesse o que ocorria ao seu redor. Mesmo assim, Liz segurou sua cabeça e levou a caneca até os seus lábios, fazendo-o sorver aquela beberagem em grandes goles. Agora que o tinha tão próximo de si, deixou que sua curiosidade falasse mais alto e passou a analisar seu rosto de feições angulares, estudando cada um de seus traços. Possuía cabelos escuros mais compridos do que os saxões costumavam usar e sua barba era bem-feita, como ditava a moda normanda. Ele era um homem de aspecto bruto, mas, ainda assim, Liz o achou harmonioso.
Tentando afastar esses pensamentos de sua mente, ela terminou de lhe dar a beberagem e em questão de pouco tempo o grande guerreiro caiu em um sono pesado, fruto da beladona. Agora o trabalho começaria e Liz pediu forças para fazer o que precisava ser feito. Tomando extremo cuidado para não o machucar, pôs-se a remover a lustrosa cota de malha e a camisa de couro cozido que ele usava, ficando assombrada com a quantidade de sangue que tingia o tecido.
Liz temeu pelo pobre guerreiro, mas, assim que viu seu torso nu, achou que ele seria forte o bastante para resistir ao ferimento. O normando possuía músculos firmes e bem trabalhados, além de ombros largos que sustentavam seus braços, mas toda a pele que o cobria estava repleta de cicatrizes. Que tipo de inferno aquele homem enfrentara? Parecia jovem, talvez nem estivesse perto dos trinta anos, e ainda assim possuía mais marcas de batalha do que se poderia contar.
As botas foram certamente o mais difícil de remover, e quando conseguiu tirá-las, Liz as pôs ao lado da fogueira para que pudessem secar por completo. Agora vinha a parte mais constrangedora: tirar a calça. Sabia que era o dever de muitas mulheres nobres ajudar os homens a se vestirem ou a se lavarem, mas jamais vira um homem completamente nu em toda vida e, por isso, relutou um pouco. Claro que Liz não precisava tirar a calça para tratar uma ferida nas costas, mas a peça estava encharcada de água e sangue, não seria nada higiênico mantê-la assim.
Vendo que não tinha opção, resolveu pôr o pudor de lado e se pôs a desatar o cinto negro que ele usava, determinada a acabar com isso. A bainha da espada estava presa naquela peça e Liz se surpreendeu com o peso da arma, mal conseguindo erguê-la com as duas mãos. Tentando não pensar no que estava fazendo, removeu finalmente as calças com um rápido puxão, deixando o cavaleiro despido sobre a cama.
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Predestinados
RomanceDegustação (disponível apenas os 4 primeiros capítulos): Lorde Edmond Bertrand, Barão de Northgate, estava cansado de travar guerras em nome da Coroa. Após lutar bravamente nas cruzadas pela Terra Santa, conseguiu a admiração do rei e foi recompensa...