the nights

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Passei a noite em claro, tentando processar tudo o que aconteceu. Eu estou morto e virei um anjo? Foi isso? Ah, não ligo...é tanta loucura.
- Você não conseguiu dormir? - Anthony diz chegando no quarto e subindo na cama.
- Não muito...isso é muito novo pra mim. - digo ainda deitado.
- Você se acostuma...A Scar! - ele diz animado e logo sai correndo do quarto. Me levanto e fico andando pelo quarto. Encontro um espelho que estava coberto com um pano branco. Tiro o mesmo e me observo. Eu estava sem a blusa, então eu conseguia ver todas as novas cicatrizes que habitavam em meu corpo. Já não tinha mais asas, porém ainda podia sentir elas.
- Cheguei em uma hora ruim? - Scar aparece no quarto e eu a vejo pelo espelho.
- Só quero entender isso tudo.- digo passando a mão pelas cicatrizes.
- Você não irá entender, irá se acostumar. - ela fala se sentando na ponta da cama, olhando pra mim.
- Mas se eu sou um "anjo", porque eu ainda estou com roupas normais? Porque você usa preto e botas de couro?
- Porque somos anjos caídos. - ela engole a seco.- temos que parecer humanos. E você nunca pareceu ser um humano, talvez deveria ser seu destino vir pra cá. - ela dá uma risada sarcástica.
- Por que? Não acredita em destino? - digo me aproximando dela e me sentando ao seu lado.
- Se eu acreditasse, eu não estaria aqui. - ela diz se afastando um pouco de mim.
- O Anthony...- me levanto e continuo a andar. - Ele percebe que você está por perto antes de você aparecer. Isso é um tipo de dom?
- Ele é cego. Ele apenas vê vultos e enxerga as pessoas de áurea branca, ou seja, anjos.
- Por que ele está aqui? Do que ele morreu?
- Você ja está fazendo perguntas demais, Avery. - ela diz se levantando e saindo do quarto. Saio do quarto, seguindo ela.
- Eu morri, eu mereço uma explicação né? - digo a afrontando.
- VOCÊ MORREU, ANTHONY MORREU, EU MORRI. - Ela vira pra mim, e vejo seus olhos em um tom mais vivo, um vermelho. Logo depois ela respira fundo e continua a andar.
- Eu vou sair, cuida do Anthony. - ela pega uma jaqueta que estava na beira do sofá e sai de casa, batendo a porta.
- Ela já foi? Posso ouvir? - olho para Anthony e vejo ele com as mãos tampando os ouvidos e eu dou uma risada.
- sim, vem cá. - digo pegando ele no colo e me sentando no sofá.
- Você é um menino muito especial, sabia? Você agora é meu melhor amiguinho. - faço cócegas nele e o mesmo começa a rir.
- Eu te enxergo, Tio Jack. Você é um anjo muito bonito. - ele passa a mão em meu rosto, e eu deixo escorrer uma lágrima. Quem é capaz de matar uma criança? Essas pessoas deveriam estar mortas, isso sim.
- Você quer comer alguma coisa? Pera aí...a gente sente fome?
- Acho que sentimos, Tio Jack. - ele começa a rir.
- eu tô falando sério, bobão! - coloco ele sentado no sofá e vou até a cozinha preparar alguma coisa.
- Você tá realmente com fome? - pergunto novamente à Anthony.
- Não, não estou. - ele dá um sorrisinho. Fico olhando a casa, vou até a janela, e eu estou num bairro bem estranho mesmo. É como se tudo o que eu tivesse para oferecer foi jogado por água abaixo, eu era tão jovem...eu sou tão jovem. Nunca imaginei em toda a minha vida que eu poderia morrer assim, foi tudo tão rápido que acaba sendo engraçado.
- Qual é a graça? - Saio dos meus pensamentos e vejo Scar sentada no sofá me olhando, olho para a janela e vejo que já havia escurecido. A noite estava tão bonita.
- Quer ver como as estrelas estão hoje? - ela vem até a janela e se senta ao meu lado, encaro ela e percebo que ela olha com tanta vontade para o céu que seus olhos reluziam a luz do luar.
- Faz tempo que não saio de casa, e seria importante pra mim se eu pudesse. - digo ainda a encarando.
- E quem disse que você não pode? Vai lá, sobe as escadas e vai até o terraço. A cidade tá linda hoje. - ela diz, me olha e dá um sorriso minúsculo.
- Como assim "subir as escadas"? - pergunto. Ela sai da janela, indo para aquelas escadas de emergência que ficam ao lado do prédio.
- Sobe por aqui, ou dá a volta no prédio inteiro. - ela diz e se senta novamente na janela. Subo as escadas de degrau a degrau, com um certo medo de cair.
- Você tá morto, e do chão não passa. - olho pra baixo e vejo Scar me observando da janela, e a mesma solta um sorriso, e eu sorrio. Ando mais rápido e chego no topo. Pulo para a parte descoberta do prédio. Olho para o céu e vejo todas as estrelas lá, reunidas. Sinto falta das noites de quando eu era criança, onde eu só me preocupava quando meu marshmallow derretia na fogueira. Sinto falta do amor que eu recebia, aquele que chega a dar borboletas no estômago, dos sorrisos sinceros de toda a manhã, da minha escola, do meu bairro, de tudo.
- Você é muito dramático, Jack Avery. - saio do meus pensamentos e vejo Scar ao meu lado olhando para o céu também.
- Como assim? - digo confuso e me recompondo.
- Você expressa seus sentimentos demais, e isso é o que mais traz dor. - ela olha singelamente pra mim.
- Eu acho melhor expressar meus sentimentos do que fingir que eles não existem. - a encaro.
- Eu só expressaria algo se existisse, sentimentos falsos são pecados.- ela se senta no parapeito, ficando de costas pra cidade.
- Você pelo menos já amou alguém? - pergunto e ela muda sua expressão para algo sério.
- Por que isso te interessaria? - ela rebate.
- Pois o jeito que você trata os outros parece que você tem tantos sentimentos quanto eu.
- Jack, eu não sinto nada. - ela fecha os olhos.
- Eu duvido. Como você morreu, Scar? Qual a sua história? - digo a provocando.
- Você não precisa saber, ninguém precisa. Jack, fica quieto.
- É a verdade. Seu nome verdadeiro é Margot? Tenho minhas dúvidas. - digo chegando perto dela.
- Pois então permaneça com elas. - ela desce do parapeito e pula para as ecadas, me deixando sozinho. Eu as vezes eu mereço uns tapas na cara mesmo. Fico olhando a cidade por alguns minutos e logo depois desço, indo para casa.
- Gostou do céu, Tio Jack? Ele tava bonito? - Anthony estava sentado na janela, me olhando com um sorrisão.
- Sim, ele estava lindo. - o abraço e encho de beijos sua bochecha. Pulo para dentro de casa e fico segurando ele para o mesmo não cair dali.
- Anthony, posso te fazer uma pergunta? - digo baixo em seu ouvido.
- Pode sim! - ele também sussurra.
- Você está aqui a mais tempo do que eu, a Scar sempre foi assim?
- a tia Margot sempre foi minha melhor amiga, quase uma mamãe pra mim, eu virei anjinho bem pequenininho e ela sempre cuidou de mim. Eu não a enxergo, pois ela fez muita coisa ruim quando estava viva..mas ela foi perdoada e jogada aqui para aprender a ser uma pessoa melhor. Foi isso que eu entendi, pelo menos. - ele dá um sorriso e eu o abraço novamente.
- Muito obrigado, Tony. - dou um beijo nele e o tiro da janela, e fecho a mesma.
- Tia Margot, tô com sono! - ele diz bocejando.
- Vou te por pra dormir, vem. - Scar pega ele no colo e dá vários beijos nele, e o carrega para a cama. Tenho que pesquisar muita coisa a respeito da Margot, ela guarda muitos segredos.

ANGEL• J.AOnde histórias criam vida. Descubra agora