Visita inesperada - PoV Maven

2.5K 156 112
                                    

Sobre o capítulo: resolvi escrever um capítulo que se passa durante o terceiro livro A Prisão do Rei. Espero que gostem. O ponto de vista é do personagem Maven Calore.


Já era tarde da noite. Estava deitado porém não conseguia dormir. Quando fechava os olhos, só via uma coisa: o rosto dela, emoldurado numa prisão que eu mesmo construí. Meu subconsciente me acusava. Eu dizia que a amava, então porquê a tratava dessa forma?

Puxei as cobertas para o lado e forcei meu corpo a levantar da cama. Com poucos passos vesti uma capa por cima do pijama e saí do quarto em direção ao dela. Ok, aquilo não deveria ser chamado de quarto. Era mais uma gaiola vigiada, algo que a manteria sob meu controle pelo tempo que ela estivesse ali.

Haviam dois guardas na porta. Silenciadores da casa Arven. Os dispensei com um movimento das mãos e eles liberaram a porta, me permitindo passagem. A encontrei parada junto à janela. O olhar parado, cabisbaixa.

"Parece que mais alguém está tendo problemas para dormir" comecei.

Ela não se virou, mas percebi seu corpo estremecer ao ouvir minha voz.

"Só enquanto termino de planejar sua morte. Depois disso posso dormir tranquila."

Eu ri. Com um breve movimento fechei a porta atrás de mim.

"Que bom que não perdeu o senso de humor."

Ela não respondeu, o que me deu espaço para caminhar no quarto. Os livros estavam arrumados, sinal de que ela nem mesmo havia tocado neles. Um presente na verdade. Ignorei.

"Sabe, Mare... Preciso de você ao meu lado."

Falei por cima dos ombros. Ao me virar, notei ela me encarando.

"Você me tinha. Jogou isso fora quando ouviu as mentiras da... sua mãe."

Com a sobrancelha arqueada, suspirei. Aparentemente ela estava magoada.

"Me desculpe por isso" falei.

"Pelo quê? Por matar pessoas inocentes? Ou por me fazer de trouxa? Nos dois casos, não vai ter meu perdão, Maven."

"Mare" caminhei até ela, perto o bastante para segurar suas mãos. Ela não recuou, embora seu olhar denunciasse que queria. Continuei: "Eu só preciso de uma chance."

E sei que não merecia.

Não era assim que deveria ser. Queria que ela entendesse que quando a tratava bem não era um jogo. A pessoa por quem Mare se apaixonou ainda estava aqui, mesmo usando essa capa que muitas vezes era minha proteção.

Dessa vez foi ela quem suspirou.

"Não posso me dar ao luxo de confiar em você mais uma vez, Maven."


Engoli em seco.

"Eu entendo. E não estou pedindo para confiar em mim" ela riu, me deixando desconfortável por dois segundos. Mesmo assim arrisquei: "Estou pedindo que me dê uma chance. Uma chance para provar que posso ser o Maven que você um dia se apaixonou. E..."

Devagar, inclinei o rosto para perto dela. Ela recuou um pouco, me fazendo parar bem perto do seu ouvido.

"Que ainda está apaixonado por você."

Era verdade. De uma forma distorcida e um tanto confusa, eu ainda estava apaixonado por ela. Achei que não seria capaz após o que aconteceu com Thomas, mas... Mare preencheu um vazio que existia em mim. E eu precisava dela.

De repente, notei sua pele arrepiar por conta da proximidade. Não pude conter um sorriso de satisfação por isso.

"Prove"

Franzi a testa.

"Como?"

"Assim"

Senti suas mãos se fecharem na borda do roupão que eu usava e me puxar para perto, colando nossos lábios.

Um calor brotava no meu peito, aquecendo o que eu pensava que seria eternamente intocável pelo sentimento.

Minhas mãos procuraram sua cintura por cima do robe, apertando levemente suas costas. Quando achei que ela ia se separar, observei ela olhar para a cama. Ergui a sobrancelha.

"Tem certeza?"

A batida que ela deu no meu braço me fez despertar.

"Seu bobo. Quero que durma comigo."

"Ah"

Ela revirou os olhos ao ver meu sorriso desvanecer.

"Não consigo dormir há dias. Por favor, fique aqui."

"Não precisa pedir duas vezes"

Fui puxado por ela até a cama. Ela subiu primeiro e, sem soltar minha mão, me convidou a deitar ao seu lado. Atendi seu pedido sem hesitar. Era estranho, confesso, imaginar que alguém que queria a todo custo me matar de repente quisesse meu conforto por estar longe da família. Obviamente este era o motivo pelo qual ela não conseguia dormir.

Não pude evitar o comentário que saiu da minha boca.

"Só espero que isso não seja por causa dele."

"Dele quem?" Ela se virou para mim após se acomodar no meu peito.

"Você sabe de quem estou falando" Encarei ela. "Cal."

Mare respirou fundo, como que para ganhar tempo até uma resposta.

"Não sinto falta dele."

Franzi a testa. Eu era um bom mentiroso. Sabia reconhecer quando alguém estava mentindo, e, pelas minhas cores, ela estava. Resolvi dar uma chance e deixar ela falar.

"Quando estava com ele, eu..."

"Sim?"

"Eu pensava em você" ela encolheu os ombros, me deixando à vontade para virar um pouco e encarar seus olhos. Dessa vez não vi sombra de dúvida ou mentira no rosto dela. Ela continuou: "Seus bilhetes eram cruéis. Uma lembrança de que estava no controle, sim, mas ainda era uma parte sua. E eu acreditava, Maven, com todas as minhas forças de que você ainda estava lá. Além do controle doentio de Elara e de todos os traumas que queria que eu passasse para chegar até você. Bem, estou aqui agora."

"E o que quer de mim?"

"Quero a verdade." Senti suas mãos pequenas segurarem as minhas e de repente me vi sozinho; sem máscaras, sem as mentiras de Elara ou as marcas que ela deixou na minha mente que me impediram de sentir.

"Verdade sobre o quê? Diga, Mare."

"Você me ama?"

Que pergunta simples. Sim ou não, a resposta poderia lhe dar esperança ou deixar um buraco no seu peito. Abaixei o olhar e suspirei.

"Eu não sei amar. Ela tirou isso de mim, há muito, muito tempo"

"Sim, eu sei. Sobre o garoto no front."

"Foi bem mais que isso. Ela distorceu qualquer tipo de sentimento que eu poderia sequer desenvolver por qualquer pessoa. Bem... Isso não me impediu de amar você. Do meu jeito, entende?"

Seu olhar vacilou um pouco, mas vi um sorriso despontar. Ela não respondeu, apenas se aninhou nos meus braços e fechou os olhos.

"É suficiente para mim."






Maven e Mare - o que poderia ter sidoOnde histórias criam vida. Descubra agora