1ºCapítulo

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1ºCapítulo

Acordei com a luz da manhã a bater-me na cara, meti a cabeça debaixo dos cobertores na esperança de poder dormir mais um pouco, mas a minha mãe acordou-me:

- Mãe, por favor! Deixa-me dormir mais um pouco! Estou cansada!- virei-me para o lado contrário á janela, mas a minha mãe, literalmente que me arrancou da cama.

- É hoje, minha filha. As cerimónias dos Congressos. É hoje que vais saber a que criatura sobrenatural te irás entregar para o resto da vida.

As cerimónias. Anjos, vampiros ou lobisomens… Era hoje que eu iria partir da minha casa e entregar-me de corpo e alma a uma destas criaturas. Se o protocolo das cerimónias fosse quebrado por um dos candidatos, ele morreria no minuto a seguir. Não me apetecia morrer de maneira alguma, por isso teria que me apresentar, tal como todos os outros rapazes e raparigas do meu estado. Éramos cerca de 150, mas só um iria ser escolhido.

A minha mãe estendeu um vestido preto com uma grande cauda branca em cima da minha cama, o degradé do vestido era completamente fantástico, era uma peça maravilhosa. Mas o que chamou realmente a minha atenção foi o choro da minha mãe:

- Mãe, porque é que estás a chorar?- levantei-me da cama e fui para junto dela, dando-lhe um abraço.

- Vou ficar sem ti, minha filha. Sei que te vais tornar numa boa pessoa, que vais servir muito bem o teu amo, mas está a custar-me saber que, depois de 19 anos ao meu lado, te vou ver partir.

Sorri levemente e apertei ainda mais o abraço. Ela estava triste porque eu me ia embora, mas o que ela não sabia é que era eu quem ia sentir mais a falta dela, mas não lhe quis demonstrar isso, porque sabia que ela ficar ainda pior do que já estava.

Ela limpou as lágrimas e afastou-me, para poder alcançar o vestido:

- Chega destas coisas! Temos que te preparar para a cerimónia, tens que estar deslumbrante! Se a minha filha for uma das escolhidas, quero que seja vista como a mais bonita de todas!

Acenei que sim e ela começou a ficar mais entusiasmada com os preparativos, esquecendo, por uns momentos, a dor que sentia.

O vestido desenhava linhas pretas perfeitamente ajustadas ao meu corpo, as minhas pernas bronzeadas sobressaiam do vestido de uma maneira que eu achei exagerada, mas sentia-me mais bonita do que na maioria dos dias. A minha mãe maquilhou-me e ajudou-me com o resto dos trabalhos de preparação para as cerimónias. No fim, entregou-me uma coisa muito especial:

- Toma, filha. A tua avó ficaria muito orgulhosa por saber que o vais usar- a minha mãe apareceu com um pano azul petróleo, de onde revelou o chicote-cobra da minha avó.

- Mãe, não posso aceitar. A avó deixou-te isso como herança.

- E agora, eu dou-to a ti.

Ela pegou na cobra de prata e tocou levemente com ela no meu braço. O metal ganhou vida e rastejou pelo meu antebraço acima, enroscando-se numa forma perfeita.

- Estás linda, minha filha.

A minha mãe tinha o orgulho estampado, o que me deixou feliz e triste ao mesmo tempo. Iria abandoná-la.

Abanei a cabeça negativamente para esquecer esses pensamentos e agarrei na mão que me estava a ser estendida, por um dos seguranças do Senado. Cada um dos concorrentes era escoltado por um segurança até ao Senado, para que não tentasse nenhuma manobra de fuga e se tentasse, teriam que o matar.

A minha mãe sentou-se ao meu lado no carro e agarrou na minha mão, para me transmitir confiança. Com ela ao meu lado, eu sentia-me segura.

Demorámos cerca de vinte e cinco minutos a chegar ao Senado, onde avistei o Jace, o meu melhor amigo, encostado a um dos pilares que aguentava o edifício. Ele estava com um fato preto com alguns traços de vermelho-fogo. Fui ter com ele:

- Lily, estás linda!

- Obrigada, Jace. Eu estou a morrer de medo, só quero fugir daqui, mas sei que se o fizer, morro.

Senti os braços fortes puxarem-me para um abraço. Nós conhecíamo-nos desde pequeninos e eu confiaria a minha vida ao Jace sem pensar duas vezes:

- Aconteça o que acontecer, estarei sempre aqui para cuidar de ti- sussurrou no meu ouvido.

Agradeci-lhe com um sorriso e apertei a mão dele com força, ele sorriu-me, como se no fundo dissesse que aquilo iria correr bem.

A Sunshine, presidente do Senado, entrou no edifício e todos os concorrentes se reuniram para a ouvir:

- Sejam bem-vindos, concorrentes. Presumo que saibam porque estão aqui hoje… Hoje, serão escolhidos os representantes de cada estado, que irão servir como escravos às entidades sobrenaturais simbolizadas no Conselho das Trevas. Que a Luz vos guie! Comecem as cerimónias!

A Sunshine desapareceu numa nuvem de fogo e os representantes entraram para se sentar nos respetivos tronos. O primeiro a entrar foi o lobisomem, tinha cerca de dois metros, o cabelo castanho claro e tinha os olhos verdes. Chamava-se Harry. O segundo foi o vampiro, tinha um metro e noventa e oito e usava tatuagens num dos braços. Chamava-se Liam. O último fez com que o meu coração parasse de bater. O seu cabelo era da cor do ébano, tinha também tatuagens e os seus olhos castanhos estavam envoltos numa aura de mistério. Chamava-se Zayn.

Cada um sentou-se no seu trono e os candidatos alinharam-se por estado. A Sunshine aproximou-se da tômbola com os nomes dos concorrentes. Rodou e tirou o primeiro papel:

- E o concorrente que se irá entregar aos lobisomens é… Jonathan Rydel, do estado do Sol Nascente!- avançou por entre a multidão, um rapaz com cerca de vinte anos e foi juntar-se ao lobisomem, saudando-o com uma vénia.

A Sunshine deu um sorriso falso e preparou-se para a próxima volta da tômbola. Tirou o papel e anunciou para a plateia, o escravo dos vampiros:

- O concorrente que será entregue aos vampiros é… a Jessica Selbourne, do estado da Esperança!- ri-me. Esperança era o que mais faltava ali.

O último e derradeiro papel, que iria decidir quem seria escravo dos anjos, foi tirado. A Sunshine decidiu fazer suspense, o que me estava a deixar com os nervos á flor da pele:

- E o candidato que se irá entregar aos anjos é… a Lylianna Crowley, do estado da Concórdia.

Fiquei completamente em choque. O Jace ainda me tentou abraçar, mas eu afastei-o, caminhando entre a multidão, para alcançar aquele que seria o meu amo durante os próximos anos da minha vida.

Ajoelhei-me diante dele e ele tocou na minha cabeça, como sinal de bênção. As entidades levantaram-se dos seus tronos e juntaram-se aos seus escravos, dando-lhes a mão. Quando senti a mão do anjo tocar na minha, uma corrente elétrica trespassou todo o meu corpo:

- Longa vida aos concorrentes! Viva!- gritou a Sunshine, fazendo com que todos os concorrentes gritassem com ela. Os que estavam no palco erguiam os punhos em sinal de vitória.

A minha mãe estava na plateia, eu olhei com pena para ela e sussurrei-lhe um “gosto muito de ti”. Ao Jace, fiz o nosso sinal de amizade, ao qual ele correspondeu.

Iria sentir falta deles na minha vida.

I'm The Slave Of An AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora