Contentamento - Capítulo Extra

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Existem momentos que nos marcam, etapas que nos tocam, fatos que guardamos em um lugar precioso em nossa mente para que nunca possamos esquecer. O contentamento de se eternizar um segundo de forma que mesmo distante, sempre possa ser revivido.

Obviamente que esta sensação de ser marcado pelo inesquecível já havia acontecido em minha vida. Minha primeira bicicleta, a viagem com meus pais para a França, meu primeiro beijo, minha primeira matéria publicada na primeira página. Coisas corriqueiras as quais gostávamos de lembrar, mas ele... ele parecia ter uma sessão inteira de momentos inesquecíveis dentro de mim. Fatos que cada vez que recordava faziam meu coração bater de forma desritmada e acalentada.

E pode parecer bobo, mas por Deus como eu amava acordar e vê-lo dormindo em minha cama, os cachos espalhados pelo travesseiro, os lábios entreabertos, a expressão serena. Eu não precisava nomear o sentimento, porque mesmo depois de dois anos juntos, eu ainda acordava pensando em como tinha "sorte" de ter uma pessoa tão especial ao meu lado. E pensar que tudo havia se iniciado com um texto simples que havia me mandado. Uma poesia visceral, que demonstrava a real sensação de término, o desejo por se desintoxicar e um texto expondo as frases que levavam um relacionamento ao fim, assim como os processos de "luto amoroso" que as pessoas passariam. Eu não sabia quem ele era, só sabia que a pessoa tinha talento, só sabia que queria um texto daquela qualidade e daquela forma em meu jornal e antes que consultasse qualquer pessoa, antes que tivesse tempo de colocar pontos críticos em seu trabalho eu estava ali, digitando uma mensagem profissional e impessoal para o escritor desconhecido. Céus, eu ainda lembrava as palavras que eu havia usado em nossa primeira troca de mensagens, o quão tolo era aquilo?

"Prezado Senhor Styles,

Sou Louis Tomlinson, um dos editores da versão digital do Telegraphy e por meio dos recentes compartilhamentos tive acesso ao seu texto. Devo admitir que me surpreendeu a abordagem tão madura e multifacetada da temática, assim com o poema que diz ser de sua autoria. Gostaria de pedir permissão para cita-lo em nossa plataforma digital assim como debate-lo em uma de nossas crônicas sobre relacionamentos. Espero que tenha sucesso em sua carreira de escritor, porque pelo que vi você tem talento.

Aguardo uma resposta.

L.T"

E ele respondeu prontamente, tão adorável, tão prestativo, tão profissionalmente cru, mas ainda assim educado. Eu sentia meu coração inchado de orgulho, de saber que eu ajudei em seus primeiros passos, que descobri o talento bruto o qual o meu garoto demorou tão pouco para lapidar. Sua matéria tão acessada, a repercussão, as vozes e murmúrios na redação por conta de um texto tão inspirar. É engraçado lembrar que talvez por conta dele um ou dois casais tenham rompido a fachada que tentavam manter. E hoje eu percebo que eu já havia me apaixonado por ele muito antes de conhecê-lo, muito antes de desejá-lo. Eu havia me apaixonado por suas palavras, por suas opiniões tão bem embasadas, por seu cérebro e por seus pontos finais. Uma nova troca de mensagens, uma nova proposta. Sim, eu estava viciado em como suas palavras corriam pelo papel, em como sua linha de pensamento astuta me dava gosto na leitura. E tudo isso em um jovem estudante. Eu estava viciado na ideia de ter o meu próprio pupilo, o jovem estudante que ficava grato por qualquer oportunidade, que me fazia me lembrar do meu período de faculdade, que me via como um mentor. E hoje eu penso em que combinação mais perigosa e tola eu estava fazendo.

Apaixonado por sua arte, viciado em seu jeito. Obviamente que aquilo seria minha ruína e por sorte, também foi minha ascensão. Afaguei com carinho seu rosto, contendo minha vontade de beijar seus lábios. Ainda era cedo demais e ele merecia descansar, mas minha ruína estava ali, agarrado a minha cintura como um pequeno filhote, protegido dentro do meu abraço.

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