1. Os Ingredientes

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A SALA DE AULA não era um dos lugares preferido de Rafael. Não era o melhor aluno da sala, mas era o popular. Gostava de sentar na frente, o que iria contra os princípios do clã do fundo, mas, foda-se. Gostava mesmo era de sentar nas primeiras carteiras, isso lhe dava uma impressão de vantagem competitiva sobre os outros.

O ambiente era amarrotado de jovens burgueses, a estrutura aconchegante, com tapete, cortinas e cadeiras acolchoadas.

- E aí cara, o que vai ser? – Rafael assustou-se. Observava as casas alinhadas no horizonte através da fresta da cortina, e tinha perdido noção de tempo e espaço.

- Fala aê Biel, o que foi? – Gabriel era um rapaz pálido, de lábios rosados, com cabelos de uma cor tão preta quanto o petróleo. Rafael e Gabriel eram amigos desde a pré-escola, eram como cú e peido, estavam juntos para todas as desventuras. Importante ressaltar que, três vezes por semana Gabriel fazia participação especial na mente de Rafael durante a ducha prolongada.

- Vamos montar dupla nóis dois? Temos que fazer o baguiu que a professora pediu. - O que Gabriel tinha de simpático, recebia em dobro em burrice. Pensou Rafael, mas reconsiderou com apenas um estalo. Gabriel era gostoso, e somente isso importava na amizade.

- Claro – Arrastou a carteira. – Essa aula fica a cada dia, mais chata. – disse Rafael quase cochichando.

- Nem me fala, a prova dessa vadia está chegando, e não tenho ideia do que ela falou desde o primeiro bimestre.

- Vamos reprovar – comentou Rafael.

Os dois se olharam e riram. O papo de que grana compra tudo, funcionava no Colégio São Francisco. Rafael tinha ouvido uns casos.

- Presta atenção – Gabriel cutucava Rafael indicando o outro lado da sala, onde uma garota se inclinava desnecessariamente para conversar com a amiga. A saia curta revelava mais do que se era permitido, e muitos sabiam que era proposital.

- Lá em casa em Paola – berrou Rafael assoviando, e esboçando um sorriso safado. A ação chamou atenção da sala que riu descontroladamente.

 - Os senhores já estão com o exercício em dia? – Esbravejou a velha professora. Rafael tomou a maior bronca da vida. Como se culpa fosse inteiramente dele. Passou o restante da aula na medida do possível, quieto. Olhava incansável para o relógio de pulso, e somente sossegou com o soar do sinal. Finalmente estava livre, e a tarde prometia. Os pais de Gabriel haviam viajado, e a galera toda, daria uma “super festa”.

A CASA DE GABRIEL era notada a quarteirões. Impossível não ver uma redoma de vidro, cercada por um jardim bem cuidado. Era verde que não acabava mais.

- Nossa que perfume bom é esse Biel? – Rafael soltava masculinamente o interesse pela colônia, quando na verdade, não era bem isso que tinha em mente. Olha o verde, para colher maduro surgindo.

- Thu an Thû (Two One Two) – Gabriel estufou o peito e foi logo abrindo o porta-luvas do carro, exibindo o belo frasco do perfume, e uma coleção de preservativos.

- Nossa. Show! – Não levou o assunto adiante, abaixou o vidro, e durante o caminho ouviam músicas aleatórias na rádio, e logo se empolgaram com o lançamento do rapper americano Eminem, a música chamava-se Not Afraid.

And I just can't keep living this way

(E eu simplesmente não consigo continuar vivendo assim)

 So starting today, I'm breaking out of this cage

(Por isso a partir de hoje, estou saindo dessa jaula).

 Rafael pressentia que a letra era um sinal divino, a letra dizia – a partir de hoje, estou saindo dessa jaula.  - será que seria o DIA dos finalmente?

Berravam dentro do carro, e pulavam juntamente com as batidas do som, e logo chegaram. Rafael como já acostumado foi logo entrando. Sentia-se em casa, foi até o amplo espaço que a sala oferecia e se jogou no sofá tirando os sapatos.

- Ufa! Que dia! – esticava os pés, enquanto se espreguiçava.

- Quer uma cerveja? – Perguntou Gabriel, que já empunhava a lata e a lançava no ar.

- SEMPRE! – enfatizou Rafael, agarrando a lata em um movimento rápido, sugerindo todo caminho da felicidade. Totalmente ignorado por Gabriel - que decepção.

 Destino 2 pontos X Rafael 0.  

I: Nunca jogue verde com homens heterossexuais, a probabilidade de acerto é zero.  Homens, só enxergam o que estão diante de seus olhos, e aquilo que afeta diretamente seus interesses.

 Talvez estivesse sendo muito cauteloso. Pensou Rafael. Estava tentando travar a batalha da descoberta: se seu amigo era ou não gay. É ou não é? Eis a questão.

O fato de Gabriel gostar de futebol, tomar cerveja, namorar garotas e ser radicalmente preconceituoso, não significava nada no conceito de Rafael, que não descansaria em paz enquanto não descobrisse a verdade.

 II: A principal atividade dos gays durante uma conversa no bar, no corredor de escola, no trabalho, enfim..Nas horas vagas, é julgar que todo homem livre que cruza seu caminho é gay, ou tem traços.

Rafael foi brutalmente arrancado de seus devaneios com a chegada da turma, a sala inteira parecia comparecer na festa, que até então havia sido convidado apenas os mais chegados. Ao todo se podiam contar no mínimo oitenta pessoas, a bebida estava gelada, os petiscos estavam sobre a mesa, e Clarity tocava no quintal.

- Rafa! – berrava uma garota loura, de pele clara e lábios avermelhados. Não, não era branca de neve, embora sua beleza fosse cativante, e chamasse atenção. Rafael reconheceu a voz de imediato. Virou-se e encarou Izabela.

Conhecia a garota desde o primeiro ano do ensino médio, criaram um forte laço de amizade, e dentro dessa amizade, nasceu um amor. Era mais do que amor de irmãos, era uma paixão que Rafael alimentava desde então.

– Eaê Gata! – Exclamou Rafael, que agora segurava um copo de Vodca com energético. Estendeu os braços, e colocou ao redor da jovem, que o aceitou de bom grado, claro. Os dois se cumprimentaram com um beijo de língua, e foi possível ouvir alguém caçoar ao longe.

“Arranjem um quarto caralho”.

Ele com braços definidos, e peitoral malhado, fazia questão de exibir que tudo era resultado de muito treino e alimentação. Rafael ornava com o belo corpo da jovem. As coxas e peitos era o ponto forte de Bela, que fazia questão em exibir, com uma calça jeans apertada e uma regata branca, quase transparente. Todos morriam de inveja.

Era o casal da rodada.

Laranjeira PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora