7. Dose de Realidade

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ACORDEI NAQUELA MANHÃ e era possível ouvir os pássaros cantarolando próxima a janela, os raios de sol tomavam São Paulo e invadia o quarto sem pedir permissão, eu tive um pesadelo, podia sentir até aquela sensação ruim no corpo, me ergui e vi as gotas de sangue sobre a cocha esverdeada, procurei a causa e não demorei em perceber que eu estava sujo, não quis acreditar, me recusei a dar trela para o pesadelo.

Corri para o banheiro, estava pelado, abri a tampa do vaso e vomitei os acontecimentos da ultima hora, toda a cena se voltou contra mim, me senti sujo e uma dor de barriga me tomou – agora eu podia culpar a bebida barata – sentei no vaso e não consegui defecar, até minhas entranhas doíam, o sangue escorreu e a lágrima também, fiquei no banheiro por mais de quarenta minutos até conseguir fazer o que estava predestinado a tal.

O banho veio como um recurso libertador, a água sobre meu corpo limpava as impurezas e pude sentir aquela alma que outrora me abandonou voltar, e somente um sabonete não foi o suficiente, assim como os palavrões.

Gabriel foi um “fudíssimo” filho da puta.

Sentia espasmos pelo corpo inteiro, o sangue corria pelas veias e respirei fundo antes de surtar, meu corpo estava estranhamente cheio de sensações, mas, na balança atual eu pesava apenas o ódio e a traição. 

Desliguei o chuveiro, arranjei uma toalha na gaveta do armário e saí do banheiro. Gabriel estava no quarto, havia retirado à cocha manchada de sangue e substituída por outra limpa da mesma cor. Depois do banho vaporizado eu estava com o pulmão fresco, senti até o cheiro de sexo no ar, o sangue que estava correndo, parou, e subiu para os olhos. Eu iria matá-lo.

- Bom dia Rafa.

- Como tem coragem de se quer ainda olhar pra mim? Seu filho-de-uma-puta.

- Epa, calma aí!

- Como assim? Você não tem se quer um pingo de dignidade e caráter, qualé? – não aguentei, esqueci-me da toalha que deslizou ao chão, enchi a mão e foi um soco certeiro no nariz, senti prazer naquilo. Gabriel trombou na cama e caiu, esperei o contra-ataque, ao invés disso ele riu.

- Está rindo do que caralho? – Eu estava uma pistola, estava sendo movido por sangue e ódio. 

- Cara, por que está assim? Pensei que tinha curtido a noite, não era isso que você queria? Acha que não percebi que você estava todo animado enquanto eu te comia? Pensa melhor antes de me chamar de sem caráter, você provocou, você deu o primeiro beijo, você me chupou.

- Não venha dizer que eu aceitei a porra toda. Eu te disse que não tinha feito nada disso antes, pedi pra você ir com calma, e você concordou, tinha dado sua palavra. Você fez de propósito, foi um imoral da porra. – Eu nunca tinha falado tanto palavrão na mesma sentença. 

Silêncio.

- Assumo minha parcela de culpa, e acrescento que você chupa muito bem pra um via...[...] - Gabriel engoliu o resto da palavra - [...] Pra que fez pela primeira vez.

V: Nunca chame um cara de “viado” independente da orientação sexual, principalmente á gays, que repudiam essa palavra, pois é extremamente evasiva, ofensiva e violam todos direitos éticos e morais. 

- Eu quero mais que você se foda – A essa altura do campeonato eu caçava minhas roupas pelo chão e vestia apressadamente, tudo estava amassado e cheirava a vomito, um nojo só.  Meu celular tocou e chocou bruscamente com a realidade, o mundo continuava girando, mesmo depois de tudo.

- Alô?

- Oi amor – Aquela voz me deu uma pequena amostra de infarto.

- Oi amor...tudo bem? – Perguntei desconfiado.

Laranjeira PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora