Seu coração estava aos pulos, cada passo durava uma uma eternidade, o nervosismo era intensificado pelo som de plástico, latas e passos. A escuridão escondia o ladrão, e seu observador, ele não gostava de confrontos, tentaria conversar, poderia até dar alguns mantimentos, mas tinha que levar para ela e a família. E se fosse mais de um?
Seus passos alertam o ladrão que parou de salto olhando em sua direção. Oque ele vida era um vulto, homem ou mulher não saberia dizer, blusa, capuz e algo que cintilava na mão... uma arma. A visão do outro deveria ser pior, pois ele parecia um robô de guerra com todo o equipamento de proteção que usava. Ser tímido nessa hora não adiantaria, respirou fundo, resolveu quebrar o silêncio:
- Olá! Essas coisas são minhas, posso te dar um pouco, mas preciso levar o restante para minha família o mais breve possível - ele disse mesmo com descrença, qualquer um diria isso, comecei errado.
- Eu encontrei, faz dias que não como nada - o ladrão disse em voz abafada, era um homem, estava nervoso - me deixe só ir embora com essas coisas, não quero te machucar!
- Ninguém precisa se machucar, só que não posso te dar tudo isso - ele fala, mas mantinha uma pose estática - tenho outros que precisam de cuidados.
- Eu deixo algumas coisas - ele estava visivelmente nervoso, sua voz tremia ao som das palavras, o corpo deveria estar tremendo também - mas vou levar a moto!
Ele não podia permitir, a moto tinha sido toda adaptada para suas saídas, as bolsas estavam cheias de mantimentos e outras coisas que ele precisava e tinha demorado dias para encontrar.
- Desculpe! Mas não posso permitir - ele trocou o peso do corpo para outra perna, estava cansado da corrida - posso deixar algumas coisas para vc, mas nada mais...
- Cara - ele começou a aproximar-se, havia tirado a mão da vista, para não expor a arma, talvez ele não visse a sua também - Desculpe! - Foi uma má ideia tentar mover o corpo, o ladrão investiu rapidamente.
Como num filme, todaação foi muito rápida. Uma das mão do agressor veio segurar seu ombro, elepoderia ter atirado, mas exitou, ambos caíram. Uma forte queimação afligiu alateral do corpo, era uma faca, ela havia pego uma abertura da roupa.
O ladrão tentou outra estocada, mesmo com os protestos, eles rolavam, a façapor várias vezes acertou as placas da roupa evitando qualquer dano. Pediu maisvezes para que parasse, para conversar, mas foi ignorado. As pessoastornaram-se monstros irracionais, colocando o instinto de sobrevivência acimada razão, esqueceram-se que juntos eram mais fortes e que repartir sempretraria mais.
Já havia recebido vários cortes superficiais, a roupa ajudava. Mas seu agressornão tinha proteção. Um som alto de algo explodindo ecoou pelo beco, talvez atémais naquela cidade vazia.
Na tentativa de se livrar do agressor a arma disparou, o projétil perfurou opeito entre as costelas e saiu na nuca, talvez o ladrão nem tivesse notado aprópria morte quando caiu de lado. Ele permaneceu no chão, sentia o sangue doinimigo penetrando pela malha e deixando seu corpo úmido e gelado.
Talvez o cano da arma estivesse soltando fumaça, ele sentia cheiro de pólvora esangue, sabia que no corpo ao lado haveria um pequeno buraco sangrando, commarcas pretas em volta, sua nuca estaria sangrando também e seus olhos estariamfixos e sem vida focados no nada.
Ele sentou ao lado do corpo, puxou o capuz. Era uma garoto jovem como ele foi,deveria ter uns 20 anos, seu rosto estava magro um pouco chupado para dentro,ressaltando o osso da face, os olhos abertos foram fechados pela mão docarrasco.
Ele pegou tudo o que se espalhou, guardou nas bolsas, ajeitou sua mochila esubiu na moto. Lágrimas escorriam do seu rosto enquanto o barulho do motordeixava apenas um eco na cidade, os faróis acessos iluminavam o caminho e elese distraia com a rua que passava rápido.
As pessoas tinham enlouquecido, aquela situação era como um abismo puxandotodos para dentro, monstros por todos os lados... Quando se olha o abismo pormuito tempo, mesmo que não se caia nele, nota-se que ele começa a olhar devolta. E assim devemos lutar contra os monstros para não cair no abismo, masdepois de tanto lutar contra os monstros, passamos nós mesmos a se confundircom eles? Quem seriam os monstros no final? Nós ou eles?
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Noah
General FictionQuase todos haviam perecido, os poucos que sobraram tem que lutar diariamente para não ter o mesmo destino. Como lutar contra a fome que está cada vez mais proxima com a excasses de recursos? Como não morrer de sede quando é tão perigoso caminhar lá...