O quarto escuro produzia imagens em minha cabeça, minhas unhas estavam coçando para afundar em minha pele. A cadeira com o pé quebrado, ficava balançando, meus pés estavam afundados na lama, mesmo o chão sendo de concreto. A respiração descompassada no quarto mostrava que eu não estava sozinho.
Tentei mover as mãos, mas a corda me machucava cada vez que puxava para me soltar. O ar congelante impedia meus pulmões de respirar livremente, mas a outra respiração continuava ali.
O som se aproximou de mim, até eu sentir o ar quente em meu pescoço, eu não queria abrir os olhos, eu não queria saber o que me cercava, eu não queria saber quem estava ali, quem me olhava. Eu sentia o seu ser ao meu redor. Eu contava sua respirações.
Medo. Minha alma estava aterrorizada. Congelado em um pequeno espaço. Eu estava desesperado por ar, desespero por sair dali, mas não conseguia me mover sem acordar o monstro que estava escondido no quarto, eu sabia que ele estava lá.
Senti algo subir por minha perna, se arrastava e corria, eu senti quando deixou de ser apenas um para ser mais, eu queria me debater, mas se me mexesse iria cair, e então daria poder ao que quer que fosse que estivesse ali comigo.
Então tudo parou, o lugar ainda era o mesmo, o medo ainda era o mesmo, mas as aranhas tinham parado de andar em mim, congeladas. Era como se seguissem o comando de algo ou alguém.
A música que tocava no fundo da minha cabeça destoava de todo o ambiente, Black Eye Pies, eu odiava esse grupo, fazia sentido ser eles tocando no momento da minha morte.
Risadas, eu devia estar sendo observado, imaginava quantas pessoas viam a minha desgraça, o meu desespero.
Calor escaldante caiu sobre a minha pele e senti queimar, como se o sol estivesse dentro do cubículo. Era pior que o frio, sentia vontade de arrancar minhas roupas ou me encher delas. A luz invadia minhas pálpebras fechadas e queimava minha retina.
Eu precisava de água, gelada, descendo por minha garganta.
Meu estômago estava afundado como se não comesse por dias.
Como eu vim parar aqui?
Respirar, eu precisava respirar, sair daqui e viver, eu precisava viver. O rosnado fez a luz se apagar, parecia melhor, até o balde congelante de água ser jogado no meu corpo quente.
Meus pelos eriçados precisando de alívio, meu corpo estava esgotado.Senti a unha comprida se arrastar por minha pele e jorrar sangue. Foi quando algo foi colocado em mim. Eu gritei. O som da minha voz me assustou, não parecia minha. Aquele não era eu.
A visão mudou quando notei que eu estava torturando alguém, o rosnado era meu, o comando era meu.
O prazer que jorrou em meu peito era diferente, como se eu sempre quisesse aquilo. O medo de quem estivesse sentado na cadeira me alimentava, me dava forças e eu adorava a sensação de poder.
Respirei perto de seu pescoço e vi sua pele arrepiar, era maravilhoso ver o terror.Eu não queria dar a volta e o olhar de frente, na verdade, ficar por trás mexendo com sua cabeça era satisfatório demais.
Fiz com que as aranhas andassem ainda mais sobre ele. O calor começou devagar também, mas foi aumentando, eu sabia que sua pele ia queimar, eu já estive ali.
O cheiro da carne fritando aqueceu meu coração.
E então eu mudei de novo para a cadeira e minha mente ficava jogando comigo sobre onde eu realmente estava, ora na cadeira, ora torturando, ora espectador, decidi dar a volta e olhar quem estava sentado enquanto torturava.
A boca aberta com os dentes caindo, o cheiro de podridão que me atingiu, os olhos abertos em agonia, os braços que tinham marca da corda, os cabelos caindo, a imagem era horripilante por si só, mas saber que aquele era eu, foi pior.
Procurei por algum espelho, qualquer coisa que me certificasse que eu estava vivo, qualquer coisa que me fizesse acordar desse pesadelo.
Ao olhar no vidro, só vi refletidos meus olhos, os mesmos olhos aterrorizados, mas a minha mente não era mesma. Fechei os olhos com força temendo pelo que iria encontrar se abrisse.
Inspirar
Expirar
Inspirar
Expirar
O pulmão enchendo de ar.
Inspirar
Expirar
Inspirar
Expirar
Ouvi outra respiração junto a minha e vi que o cadáver se movia junto comigo, a boca aberta recebia o ar e o peito se movimentava. Fechei os olhos e continuei o meu mantra.
Respirar.
A luz de emergência do elevador foi a primeira coisa que notei quando olhei para cima, nos espelhos minha imagem me olhando do seu lugar sentado no chão, os joelhos encostados no peito, pedindo socorro.
Quando o elevador voltou a andar, o ar saiu todo dos meus pulmões.
Eu estava vivo, mas não por muito tempo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Contos; Uma coletânea
Cerita PendekA vida é feita de encontros e desencontros, vivemos procurando por algo que nos preencha ou uma maneira de preencher alguém. Perdemos identidade e usamos máscaras, caminhando por uma imensidão de pessoas sem rumo. Buscamos um lugar para morar, sem s...