N O A H

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Rachel estava em meus braços, sua pele estava cinzenta. Pelo menos ela ainda respirava. As outras duas garotas corriam logo atrás e Charles berrava, ao meu lado:

"ALGUÉM CHAME TED! É RACHEL" Os campistas ouviram e o obedeceram, dezenas de campistas corriam em direção ao chalé de Apolo. Ted levaria um baita susto. Noah pensou.

Correram pelo acampamento inteiro, até, finalmente chegarem à Casa Grande, que é uma casa rustica de três andares. O que a diferenciava das outras casas, é que a madeira era pintada de azul e branco, representando o céu. Charles abriu a porta com certa força, o que causou um estrondo, de madeira batendo em madeira. Noah correu para dentro e deitou Rachel em uma namoradeira velha. A garota de cabelos cor âmbar corre para dentro e voltou com um pano molhado. Ela colocou o tecido sobre a testa quente da ruiva.

"Isso vai impedir com que tenha febre." Passou uma mecha rebelde de seu cabelo para trás de sua orelha direita. Na verdade, todo seu cabelo era rebelde. Ela prendia a metade de trás do seu cabelo em um rabo de cavalo, mas algumas mechas caíam sobre seu ombro. A metade da frente era uma franja uniforme, como se ela tivesse a cortado com uma tesoura cega. Havia uma pequena trança que caía sobre seu ombro direito, então Noah teve certeza que o cabelo fora cortado assim propositalmente. Seus olhos eram da mesma cor do cabelo, mas eram calorosos. Suas mãos tremiam, mas sua face estava tranquila, mesmo que quase tivera um ataque de pânico na gruta. "Ela está bem. Só precisa de um pouco de descanso. Essa profecia foi poderosa demais."

"Como você sabe disso?" Perguntou a outra garota. Essa tinha cabelos pretos que quase chegavam aos seus ombros. As pontas foram repicadas e sua franja era diagonalmente cortada para a direita. Seu rosto pálido era pontilhado de sardas. Noah teve a impressão de que preto não era sua cor natural, mas nada disse.

"Bem, eu sou filha de Apolo. Sei bastante sobre medicina... E profecias."

"Isso explica muito" Disse Charles. "O que vocês duas estavam fazendo lá? Digo, na gruta."

As duas ficaram caladas, como se guardassem um segredo.

"Olha, se for por cau–" Charles foi interrompido por um jovem de 17 anos, que entrara correndo na casa. Seu cabelo castanho estava bagunçado e seu rosto amassado. Provavelmente estava dormindo.

"Pensei que a guerra havia chegado quando aquele exército de campistas entrou no chalé." Brincou e caminhou até a ruiva, que ainda não dera sinal se estava bem. "Sam." Ele olhou para a filha de Apolo. "O que houve?"

Após a garota lhe explicar tudo, ele coçou a cabeça e sorriu. Seus óculos estavam tortos, mas ele os consertou. "Ela ficará bem. Foi uma profecia poderosa demais, só isso. Dizem que quando a primeira grande profecia fora falada, o oráculo ficou desacordado por três semanas. Espero que isso não aconteça com a nossa Rachel." Ele olhou ao redor, como se estivesse procurando por alguém. "Espere, cadê o Dioniso?"

"Provavelmente por aí, bebendo sua Coca Diet." Falou a morena, que ainda estava de braços cruzados e expressão fechada. Mas Noah podia ver a preocupação pelos seus olhos.

"Quem é você?" Perguntou Charles, enquanto Ted saía á procura de Dioníso.

"Alex. Filha de Hades." Respondeu e cobriu seu antebraço com a manga de seu casaco, que por sinal, era três vezes maior que o tamanho ideal. Charles se aproximou da garota e ergueu o braço direito.

"O que você tem aí?" Apontou para o local que a outra cobrira.

"Quê? Nada?" Ela disse, mas o garoto agarrou seu braço e puxou a manga para mostrar o que quer que houvesse ali. Noah tentou para-lo, mas o filho de Hefesto era rápido. No braço pálido da garota, havia a mesma constelação que Noah tinha em sua testa. A mesma marca. Alex puxou seu braço bruscamente e empurrou Charles para trás, fazendo-o esbarrar em Noah, que o segurou. "Qual seu problema?!"

"Me desculpe." Falou, não muito convincente e se desvencilhou dos braços do amigo. "Você, Sam, tem uma marca também?" Ela assentiu e puxou a gola da camisa. A constelação estava sobre sua clavícula.

"Apareceu nessa madrugada. Doeu muito." Ela disse, melancólica. "Pensei que fosse alguma maldição, ou algo do tipo."

"E quem disse que não é?" Resmungou Alex, com os braços cruzados. "Sonhamos com algo esquisito e acordamos sentindo a pior dor da nossa vida. Claro que não é algo ruim." Suspirou e fitou Noah. "E o que ele tá fazendo aqui?"

"Ele tem a marca também. Mostre-a, Noah." – Charles disse e Noah levantou sua franja, revelando-a.

"Espere." Alex disse, olhando diretamente para Charles. "Você sabe por que essas coisas surgiram?"

"Não. Estou tão confuso quanto vocês."

"Então" Ela se aproximou do ruivo e colocou o dedo indicador à frente de seu peito. "Por que agiu como um louco para ver o que havia em meu braço?"

"Eu tinha de confirmar. Quatro semideuses receberam a marca." Noah o observou. Charles tinha essa diferença dos outros filhos de Hefesto; ele era indiferente perante momentos tensos. Conseguia manter sua calma em momentos em que todos os outros pareciam estar em pânico. Ele pensava mais que seus irmãos, e até era fisicamente diferente dos tais. Ele era alto e magro, não robusto. Seus dedos eram longos e finos, totalmente ao contrário dos irmãos, que possuíam mãos grossas e calejadas. Isso o fazia especial para Noah, de certo modo.

"A profecia!" Noah disse baixo.

"Que tem ela?" Sam perguntou.

"Quatro poderosos semideuses em uma jornada saírão..." O filho de Bóreas recitou. Alex arregalou os olhos negros. Ela abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompida por Ted, que chegou correndo na sala.

"Dioniso não está." Falou e enfiou a mão no bolso direito de sua calça. Ele começou a caminhar em direção à porta. "Venham."

"E a Rachel?"

"Ela ficará bem, Alex. Venham!"

Os cinco saíram da Casa Grande e caminharam em direção do anfiteatro. Os campistas estavam espalhados pelo acampamento, treinando ou brincando entre si. Alguns pararam para perguntar sobre Rachel, mas Charles disse que estava tudo bem. Os sátiros corriam atrás das dríades no limite da floresta. Quando estavam perto de apanha-las, elas viravam arvores e os pobres sátiros se chocavam com a madeira dura.

"Noah." Falou Ted, quando estavam à uns cem metros do anfiteatro. "Congele o ar."

"Quê?" Seus cabelos louros se esvoaçavam com o vento dali. "Para quê?"

"Precisamos contatar Dioniso. A rede fica mais forte se suas origens forem mágicas."

"Mas o gelo não vai descongelar a tempo." Noah disse e fitou o sol, que estava quente. Mas não o bastante.

"Eu posso ajudar." Charles deu um passo à frente e Ted o olhou de cabo a rabo. "Congele Noah." Sua voz estava séria e o louro percebeu que a mão do amigo tremia.

Em um movimento rápido, Noah cortou o ar com sua mão aberta, e, por onde passou, um rastro de névoa brilhante e opaca se formou. Ele pôde sentir a umidade do ar esfriando. De um segundo para outro, a névoa começou a solidificar. Tão rápido quanto o vento, Charles ergueu sua mão e, chamas alaranjadas começaram a envolver seus dedos finos. Mas, elas foram lançadas no gelo, que derreteu imediatamente, água derramando do alto. Com a luz do sol, os cinco puderam ver um pequeno arco-íris se formando.

Ted tirou um dracma de ouro – o dinheiro dos deuses – de seu bolso e arremessou no arco-íris. "Oh, Íris, Deusa do Arco-íris, mostre-nos..."

"QUÍRON!" Charles gritou. "MOSTRE-NOS QUÍRON!" 

A Marca dos DeusesWhere stories live. Discover now