II

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Ela disse que não gostava da médica. os seus olhos não eram de confiança. o seu cabelo era demasiado perfeito e era absolutamente impossível alguém ser assim tão bonita. Eu respondi-lhe que era só inveja de eu conseguir ver a médica e a ela não.

Hoje será a minha primeira sessão, para dizer a verdade, estava curioso, queria ver o que acontecia no minuto em que os meus pés pousassem naquela sala. Talvez ela mandasse os habituais olhares de medo, isto se tivesse lido a ficha médica. Talvez estremecesse sempre que eu me aproximasse dela ou talvez fosse embora porque a deixámos maluca.

"Zayn, ela é perigosa."

- Nunca te vi com medo. - Estava sentado na cama a fumar o habitual cigarro da manhã.

"medo?"

-Sim, estás com medo que ela te tire da minha cabeça. - Percebi que ela estava a ficar irritada. Às vezes isso era bom outras vezes era mau, podia tornar-se perigoso, para mim claro.

" Provoca-me mais uma vez e vês o que te acontece."

- Oh, e eu é que sou o sociopata. - conseguia sentir o seu sorriso formar-se. era estranho, eu sentia tudo o que ela fazia.

Nunca a vi, nem podia não é? ela vive dentro de mim. Mas consigo sentir sempre que um sorriso nos seus lábios finos aparece ou quando ela chora, porque sim , ela chora. os monstros também choram. Lágrimas de sangue. Mentiras. Os monstros choram porque lhes convém, porque assim não parecem monstros, parecem humanos. Eu próprio já chorei lágrimas dessas.

"Sabes que ela vai-te obrigar a falar sobre o que tu fizeste?"

Soltei um riso alto e Levantei-me da cama, apaguei a beata no pequeno e misero lavatório, ajeitei o cabelo e fui até à sala onde todos se encontram.

"Não gosto quando me ignoras."

- Não gosto de ti. - sussurrei baixinho e ela soltou um riso atrevido.

"claro que gostas. tens que gostar, sabes disso."

Ri sarcasticamente, baixinho e sentei-me na poltrona grande.

- Boa dia Zayn! - revirei os olhos. - Hoje também tens médica? eu ontem já fui! ela é super simpática e amistosa! - Sally abanava as mãos no ar freneticamente.

- Acalma-te. - Ela soltou um sorriso doce e parou, quieta, fitando-me . As suas pérolas verdes brilhavam e gritavam por atenção. infantil.

Ela simplesmente saiu de ao pé de mim.

- Zayn - uma voz rouca e pouco audível soou ao longe e eu acendi um cigarro apagando-o logo de seguida. Levantei-me e virei para a entrada da sala, juntei as mãos e Dylan sorriu . - Ainda bem que já sabes para onde vais. - Ele meteu as algemas desconfortáveis do costume e eu limitei-me a soltar um sorriso divertido.

- Não tenho outro remédio pois não? - ele acenou em concordância e levou-me até ao gabinete da doutora, bateu à porta e não pude deixar de notar um pequeno sorriso formar-se quando a médica apareceu. os seus olhos arregalaram-se a mirar o decote, e ele endireitou as costas. Agarrou as pequenas mãos pálidas.

- Se precisar de alguma coisa estou aqui à porta. - a sua voz soou mais aguda que o habitual e a medica assentiu, sorrindo. por amor de deus, mais valia ele saltar-lhe logo para cima.

Sociopath // z.mOnde histórias criam vida. Descubra agora