PRÓLOGO

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DOZE ANOS ATRÁS

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Por mais que eu tentasse cobrir meus ouvidos com as mãos ou enfiar a cabeça debaixo do travesseiro, os sons vindos do andar de baixo continuavam altos demais para que eu não os ouvisse. Tentei me concentrar na lição de casa que eu tinha que entregar na manhã seguinte ou na televisão que mostrava os lances finais de um jogo de basquete, mas a voz do meu pai continuava me impedindo de prestar atenção em qualquer outra coisa que não fosse a briga que ele e a minha mãe estavam tendo.

Meus pais sempre foram maravilhosos, mas, nos últimos meses, as coisas em casa não estavam muito boas. Na semana anterior, tinha ouvido uma conversa da minha mãe com a minha avó, dizendo aos prantos que meu pai estava se entregando mais uma vez ao vício da bebida. Foi então que eu finalmente entendi porque ele só bebia água quando íamos a festas ou eventos da empresa dele ou porque não havia nenhuma garrafa de vinho ou uísque guardada no armário da sala. Era por isso também que minha mãe sempre me implorava para não beber nada alcoólico quando eu ia brincar ou fazer trabalhos na casa dos meus amigos. Toda essa preocupação se dava pelo meu pai ser um alcoólatra.

Eu nunca bebi, mesmo morrendo de curiosidade de provar quando os meus amigos invadiam o armário de bebidas dos pais, aproveitando que eles não estavam em casa. Oportunidades como essa aconteceram mais de uma vez, mas eu nunca me submeti à tentação porque a dor e o medo nos olhos da minha mãe vinham em minha mente sempre que eles me ofereciam um copo. Eu tinha quatorze anos e nunca ingerira nenhuma gota de álcool para não ferir a minha mãe.

– O que você quer de mim? Eu não coloco comida na mesa e trago dinheiro para casa? Eu só estou bebendo pra relaxar depois das chateações que preciso aturar lá no trabalho.

– Você precisa parar, querido. Você se lembra do dia em que nos conhecemos?

– Que porra é essa, Cláudia? Eu não sou um alcoólatra! Eu bebia quando tinha vontade e parei quando quis. Aquele dia no bar eu estava mal porque tinha acabado de perder um amigo.

– Você sabe que não foi só por isso, Vitor. Demorou meses para que você...

– Chega, mulher! Me deixe em paz e faça o jantar porque estou com fome.

Finalmente, a casa ficou em silêncio e me perguntei se meu pai tinha saído outra vez ou se eles agora apenas discutiam em voz baixa. Coloquei a cabeça para fora do meu quarto e minha curiosidade aumentou quando continuei sem ser capaz de ouvir algo.

Desci as escadas, sentindo um cheiro estranho de gás vindo da cozinha, e encontrei meu pai de cabeça baixa, debruçado sobre a mesa que normalmente tomávamos nosso café da manhã, segurando firmemente uma garrafa de cerveja quase vazia. Minha mãe estava com o nariz e os olhos vermelhos – provavelmente de tanto chorar –, mexendo no armário que ela guardava os mantimentos.

Nos últimos tempos, passei a encontrá-la cada vez mais com essa expressão no rosto e não sabia o que eu podia fazer para alegrá-la. Sempre que ousava perguntar o que estava acontecendo, ela apenas beijava o meu rosto e me pedia para voltar para o quarto, dizendo que estava com uma alergia boba. Será que ela pensava mesmo que eu era assim tão inocente? É claro que eu sabia que ela estava chorando e que o causador desse sofrimento todo era o meu pai.

– Mãe, que cheiro...

– Filho, pega pra mim um engradado de cerveja que deixei no banco de trás do carro. – Meu pai me pediu, levantando a cabeça e pegando no bolso da calça um isqueiro.

Quase nunca eu o via fumar, e essa era mais uma prova de que nada estava bem, pois nos últimos dias eu sempre o encontrava com um cigarro na mão. Ele, ao menos, tinha a decência de fumar fora de casa, mas hoje parecia ser um daqueles dias que ele não se importaria se estava ou não nos incomodando.

Olhei para a minha mãe que nos observava discretamente sobre o ombro e a dor que vi naqueles olhos idênticos aos meus me fez dar um passo em sua direção. Acabei parando quando ela balançou a cabeça em negação, me dizendo sem palavras para que fizesse o que o meu pai pedia.

– Gabriel!

– Onde estão as chaves? – Perguntei secamente. Não tinha vontade nenhuma de fazer o que ele me pedia, mas contrariá-lo seria pior. Mesmo que nunca tivesse levantado a mão para mim, não sabia o que esperar dele em seu estado de completa embriaguez.

O maldito isqueiro caiu no chão enquanto meu pai vasculhava o bolso da calça à procura das chaves. Depois de esperar calado por um longo tempo, lancei um último olhar à minha mãe e me virei para buscar a maldita cerveja no carro.

Tudo aconteceu muito de repente, mas a sensação de mal-estar me pegou desprevenido no momento em que coloquei o pé para fora de casa. Um enorme estrondo ecoou possivelmente por toda a vizinhança e fui lançado a vários metros de casa, batendo a cabeça com força no asfalto quente. Não sabia o que estava acontecendo, mas flashes de pessoas correndo em minha direção e gritos desesperados vindo de todos os lados ficaram gravados na minha memória.

Não sabia se era sonho ou se eu estava de certa forma consciente, mas tudo o que eu conseguia pensar era no rosto triste da minha mãe e na certeza de que eu nunca mais a veria.


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TRECHO DO PRÓXIMO CAPÍTULO:


– Então, vai ou não usar o vestido?

Olhei para o rosto ansioso da minha amiga e soube da resposta antes mesmo de repensar sobre o assunto.

– Vou sim.

– Eu sabia! Você só precisava de um empurrãozinho para finalmente estrear esse vestido lindo. Nossa, o Vitor não vai saber o que o atingiu quando te ver. Ainda não acredito que vocês nunca se conheceram. Promete que tenta me ligar na segunda ou me mandar mensagem? Odeio que vocês tenham que sair juntos justamente antes da folga que o Dani conseguiu para visitarmos os pais dele. Eu amo aqueles dois, mas eles precisavam morar num lugar onde não pega internet e o sinal de celular é uma droga?

A briga sobre o uso ou não do maldito vestido era um encontro que eu tinha para essa noite. Um encontro às escuras, para ser mais exata. Depois de meses negando os insistentes pedidos de Juliana e do seu agora marido, Daniel, resolvi aceitar sair com o famoso Vitor. Na pior das hipóteses, se a noite fosse um fracasso total, eu simplesmente tentaria me esquecer de que aceitei sair com esse cara.


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O CAPÍTULO FOI CURTO, MAS JÁ DEU PARA PERCEBER QUE O NOSSO PROTAGONISTA SOFREU UM BOCADO E QUE ESCOLHAS FUTURAS POSSIVELMENTE TERÃO EXPLICAÇÃO... E MUITO NOBRES!

OBRIGADA POR TER ADICIONADO ESSA HISTÓRIA E POR ME ACOMPANHAR NESSA NOVA AVENTURA. TORÇO PARA QUE VOCÊ SE DIVIRTA, SE APAIXONE, SOFRA UM POUQUINHO, MAS QUE COLOQUE UM ENORME SORRISO NO ROSTO QUANDO AQUELA CENA QUE VOCÊ ESTAVA LOUCA PARA LER FINALMENTE ACONTECER.

SE GOSTAR, INDIQUE PARA AS AMIGAS E AJUDE ESSA AUTORA! MAS SE NÃO GOSTAR DE ALGO OU ACHAR QUE ALGUMA COISA FALTOU, NÃO DEIXE DE ME MANDAR UMA MENSAGEM COM SUAS CRÍTICAS, POIS ELAS SEMPRE NOS AJUDAM A CRESCER.

UM GRANDE BEIJO E, MAIS UMA VEZ, MUITO OBRIGADA!

;)

[DEGUSTAÇÃO] Antes que tudo acabe - SÉRIE HERÓIS #1Onde histórias criam vida. Descubra agora