Capítulo 3

1.7K 287 73
                                    

FERNANDA

________________

Acordei com um barulhinho irritante zumbindo próximo ao meu ouvido e com a sensação de que minha garganta estava pegando fogo. Todo o meu corpo parecia protestar quando tentei me mexer e por algum motivo desconhecido, me sentia mais cansada do que o normal.

Droga, eu devia estar pegando um resfriado daqueles...

Abri meus olhos e soube na mesma hora que não estava no meu quarto. Se a cama dura e desconfortável não fosse prova o suficiente, o teto branco e as luminárias longas com lâmpadas fluorescentes não me deixavam dúvidas. Foi, então, que todos os acontecimentos desde que saí de casa surgiram na minha mente e um ataque de pânico tomou conta de mim quando percebi que estava no hospital. A fumaça, o incêndio e o medo de morrer fizeram com que minha respiração acelerasse e meus batimentos cardíacos ficassem descontrolados.

O barulho de antes ficou ainda mais alto e constante, e uma enfermeira entrou correndo dentro do meu quarto.

– Querida, fique calma. Você está bem.

– Por que estou aqui? O que aconteceu comigo?

– Fique calma, por favor. Você foi trazida para o hospital, mas tudo está bem. Você consegue se lembrar do seu nome e o motivo que a trouxeram para cá?

– Fernanda... Eu me chamo Fernanda e eu me lembro de um incêndio no prédio em que eu estava. Tinha muita fumaça e percebi que havia fogo nas escadas me impedindo de sair de lá. Meu Deus! Estava muito quente e eu comecei a ficar sem ar por causa da fumaça. Como eu consegui escapar?

– Os bombeiros te resgataram, Fernanda. Felizmente, você não sofreu nenhuma queimadura, mas inalou bastante fumaça e provavelmente sentirá uma pequena dor na sua garganta pelos próximos dias. Não precisa se preocupar se também tiver um pouco de dificuldades para respirar. Isso é perfeitamente normal.

– Que horas são? Quanto tempo eu fiquei desacordada?

– Um pouco mais de dez horas da noite. Você chegou desmaiada, imagino que pelo choque, e lhe demos um sedativo para que pudesse relaxar e descansar. O médico viu um inchaço na sua cabeça, provavelmente causada pela queda, e decidiu mantê-la por aqui essa noite. Tem alguém para quem você queira ligar? Não encontramos nenhum documento ou celular com você.

– Deixei tudo na minha casa. Estava só entregando uma encomenda antes de... ai meu Deus! Você disse que são dez horas?

– Sim? – A enfermeira me olhou assustada, avaliando se eu estava sofrendo algum tipo de transtorno pós-traumático ou se realmente havia algo errado acontecendo.

– Passou da hora!

– Da hora de que, querida?

– Do meu... droga! Eu tinha um encontro hoje. – Disse, me sentido estranhamente chateada por perder a oportunidade de conhecer o amigo de Daniel. Ele e a Ju me falaram tantas vezes sobre esse rapaz, e de maneira tão carinhosa, que eu não podia negar que estava curiosa e ansiosa para conhecê-lo.

A enfermeira, que devia ter bem mais do que o dobro da minha idade, tentou esconder um sorriso por trás da mão, mas seu olhar divertido me mostrou que ela achava a situação cômica.

– Não se preocupe que logo você poderá marcar novamente de sair com o seu pretendente. Ele é bonito?

– Eu não sei. Era um encontro às escuras.

– Meu Deus, isso ainda existe? Na minha época, isso era tão comum, mas hoje os jovens não querem mais saber dessas coisas à moda antiga.

– Eu sei. Demorei para aceitar, mas minha amiga insistiu tanto que eu acabei cedendo. Só que agora nem adianta mais pensar nisso porque eu dei o bolo e ele já deve estar puto da vida comigo.

[DEGUSTAÇÃO] Antes que tudo acabe - SÉRIE HERÓIS #1Onde histórias criam vida. Descubra agora