As folhagens das árvores caídas que anunciavam a chegada do outono, formavam um enorme tapete de folhas laranjas pela calçada molhada pela chuva. O clima cinza e frio, que deixava tudo ainda mais depressivo e sem vida.
Finalmente chegamos, pensou.Encarava sua nova casa pela janela do caminhão de mudança. A vista era de uma casa amarela, com um jardim agradável, não muito diferente das outras casas do bairro. O que a diferenciava das demais casas era sua cor ( amarela) e uma enorme janela no topo que encarava a rua. Por conta de seu pai ter os expulsado de casa ,Wes acabou sendo obrigado a deixar para trás tudo que era de costume, sua antiga casa e sua antiga escola. Não que o problema fosse o apego ao antigo lugar, mas o problema de ter de se acomodar, socializar e recomeçar tudo de novo o incomodava demais. Por mais que fosse na mesma cidade, ele estava prestes a mudar de escola, logo no começo das aulas; isso passava em sua mente como um pesadelo, onde teria de encarar um batalhão de pessoas novas, mal olhares e comentários de sua presença. Era basicamente assim que funcionava entrar em uma escola nova e tudo poderia ser ainda pior para ele, já que mal se comunicava com as pessoas, talvez nem soubesse como fazer isso. Uma vizinhança nova também não era de se alegrar, ainda mais quando olhava os arredores e só se deparasse com casas pálidas e jardins decorados, mas pelas portas e janelas os olhares de estranhamento como um incômodo nítido. Os vizinhos olhavam o movimento da mudança como se aquilo não pudesse estar acontecendo. Era um pouco constrangedor pensar que provavelmente não seria bem-vindo em seu novo bairro, mas esse era o menos de seus problemas.
Pulou do caminhão com os fones reproduzindo Skillet em seus ouvidos, vendo desconhecidos entrando em sua nova casa com caixas em mãos. Wes apenas carregava uma mochila em suas costas, com pertences pessoais e importantes demais para serem enfiados em uma caixa de papelão. Tinha um grande apego a pequenas coisas que o recordavam de poucos momentos bons. Por ele, aquilo que carregava em sua mochila seria as únicas coisas que traria de sua antiga casa.— Venha escolher seu quarto, Querido. — gritou sua mãe.
Não era uma casa enorme, era uma simples e típica casa de bairro, coisa que sua mãe, Sônia, poderia pagar. Nada que não fosse o suficiente para os dois.
Subiu até o segundo andar e pode avistar um corredor longo, com algumas portas para os quartos. Uma das portas lhe chamou mais atenção, já que era diferente das outras duas. Parecia ser mais nova, a maçaneta era de fato nova, pois ainda estava envolto com o plástico de proteção. Foi a primeira porta que abriu. Um quarto grande, com as paredes brancas e um carpete bege; o quarto da janela enorme que lhe dava um vista vasta para a rua. — grande até demais. — Era um antigo sótão que havia sido transformado em quarto pelos antigos moradores.— havia escutado que a casa tinha passado por novas reformas a pouco tempos — Pensou que aquele era perfeito, e imaginava as estantes com seus livros e HQ's de heróis decorando as paredes. Wes era um grande fã de ficção e seu hobby favorito era ficar imerso em outro universo, silenciando a realidade injusta, era tranquilizante e viciante como uma droga.
Girava no centro do quarto, abobalhado com tanto tamanho. Já que seu antigo quarto mal cabia uma cama e o topo de sua testa tinha dores que pareciam permanentes de tantas pancadas por conta do baixo quarto que não o cabia em pé. Assim que o primeiro filho nasceu, seu pai construiu às pressas um quarto no segundo andar, justamente onde era o sótão em sua antiga casa, era espaçoso como o quarto em que estava na nova casa. Mas assim que sua mãe descobriu que estava grávida do segundo filho, não havia muito o que fazer. A casa era pequena e não havia aonde colocar outro quarto. Chegou a dividir o quarto com seu irmão por um termo, mas não tinha condições de prolongar essa divisão. Wes então passou a dormir na despensa de baixo da escada, era pequeno demais, porém o único lugar. Desde então lá passou a ser seu quarto.Anoiteceu e havia acabado de arrumar seus livros e pôsteres no quarto, prateleiras foram estaladas justamente para isso — um luxo que sua mãe lhe prometeu assim que passaram a procurar uma nova casa — . O guarda-roupa já estava montado e suas roupas guardadas. Caixas e mais caixas desmontadas tomavam conta do carpete. Seus retratos grudados com um imã em um quadro de aço ( justamente as que carregava em sua mochila) e sua cama que havia sido montada encostada à parede; logo abaixo da janela grande. Olhava aquelas fotos grudadas e lembrava de sua antiga casa, em uma foto específica que estava balançando em uma balanço na árvore quando tinha 6 anos. Costumava passar a tarde escutando musica nos fones e balançado, era como um refúgio pessoal. Sempre foi solitário, então a música era sua melhor companhia, junto às centenas de palavras que lia diariamente. Seu irmão Rodnei zombava desse seu comportamento, fazia-o sentir-se como um aliem perdido no planeta terra, pois de acordo com Rodnei, homens só deveriam colecionar revistas de mulheres peladas e não HQ's de heróis.
Trabalhou duro, mas terminou de arrumar tudo, e sua barriga gritava de fome.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Colinas
Teen FictionWes Duval é um jovem que enfrenta os desafios da adolescência cruel. Sua vida toma um rumo inesperado ao conhecer um garoto rebelde , com quem começará uma intensa relação e uma viagem que romperá os fios de sua realidade, percebendo que é maior que...