Enganos

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"O nome dado às coisas do mundo são muito enganadoras pois desviam nossos pensamentos do que é correto para o incorreto...

Evangelho Apócrifo de Felipe"

Eram 18hs, embaixo do pé de árvore, que despejava sementinhas arredondadas vermelhas, em frente nossa casa... 1980… eu tinha apenas 5 anos de idade. O céu estava avermelhado e as cores verdes das árvores ainda se tornavam mais  vividas e bonitas. Minha mãe, tinha acabado de parar, o balançar dos pés, em sua antiga, máquina de costura vigorelle, movida à roda e o impulso de seus pés... Aquele era o horário que ela tirava, pra passar um pedaço de tempo, junta aos seus filhos, vendo os sorrir e conversar... Sua barriga estava enorme, o décimo filho, já estava pra nascer. Ainda não tínhamos, ouvido falar, em ultra-som, e ninguém sabia, qual seria o sexo do bebê, na realidade, a pequena Margareth, já estava quase chegando. Era dela, que minha mãe, estava grávida.

Ela sentou-se, em uma de  nossas cadeiras, de couro e como sempre, peguei minha cadeirinha, de couro, infantil. Sentei me também, para usufruir de sua atenção, pois eu adorava, aquele singelo momento, com minha mãe. Pus minha cabeça derriada, em seus joelhos, como de costume, em frente, nossa residência, e, eu já estava ressonado, com suas mãos, acariciando, minha cabeça...

Sofia, pegou o pente grande, da Avon, e começou a pentear os enormes cabelos negros de minha mãe... Esse era o hábito  predileto de Sofia, quando meus pais sentavam, em frente,  nossa casa, para prosear. Quando Sofia não estava, penteando os cabelos de minha mãe, estava penteando os cabelos de meu pai, que eram muito lisos e de um lindo brilho negro, penteados para cima, em um corte social, que me fazia invejar e passar horas visualizando...

Jared, Lemuel e Dani eram os maiores e mais velhos, de meus irmãos, e já estavam, em suas brincadeiras e risadas de adolescentes, que eu achava muito chato e não via graça nenhuma. Derrepente, Jared e Dani começaram uma discussão, com ânimos exaltados, não lembro por qual motivo. Derrepente, Jarde voou para cima de Dani e deu lhe, um soco no rosto, então, a troca de socos, entre os dois, ficara muito sério.  Minha mãe gritou para eles, como de costume...

Parem com isso agora mesmo. Você é uma mocinha, pra está com palhaçadas na rua, Dani. Tu já é um rapazinho, Jared, vocês tem que temer ao Senhor, vocês não podem ficar com esse escândalo na rua. Mas eles fizeram de conta que não ouviram minha mãe reclamar e continuaram naquela troca de socos...

meu pai, chegou sem avisar,  puxou o cinto e partiu pra cima de Jared, armado para acertar suas costas. Dani correu para traz de minha mãe, e, ela,  levantou-se, num impulso apressado, sem, se dar conta, que eu, já estava, quase dormindo com a cabeça encostada, em seus joelhos. Ela aparou o cinto que ia pegando nas costas de Jared, com as mãos... Quase caí no chão com seu impulso, e tudo, acabou em risadas...

Minha mãe, não gostava, de bater ou ver seus filhos levando uma surra. Quando ela chegava a corrigir batendo, algo muito sério, tinha acontecido...

Me refiz do susto, com todos sorrindo ao meu redor... Olhei assustado para minha mãe, pois lembrei, de algo inacreditável, até mesmo para ela, que sabia de coisas que sua religião, não lhe ensinara...

Mãe, mãe... Eu lembrei... Eu lembrei mãe... Foi da mesma forma... Da mesma forma... Aconteceu do mesmo jeito...

Meu pai me olhou, com seu costumeiro olhar cético e quase sempre, desconfiado de minha integridade moral, mesmo ciente, de minha pouca idade...

Minha mãe, eterna protetora com certeza, anonimamente  pedia a Deus que eu continuasse dormindo o sono da ignorância para que meu destino sofredor, nunca chegasse, ou adiasse, a vida cruel, que me aguardava. Ela não queria dá confiança para o que eu queria falar. Ela talvez almejasse que eu não vivesse a mesma vida que ela viveu tendo que guardar segredos espirituais e passasse pela mesma necessidade de guardar silêncio. Eu não entendia o mínimo de seu sofrimento e nem que segredo ela guardava. Eu sempre via minha mãe, como uma ovelha transitando em meio aos lobos e com um mistério guardado em seu interior...
Eu só não entendia, o porquê... E nem que mistérios, ela escondia. Essa era uma intuição, que não me acontecia naturalmente, pois minha ingenuidade às vezes era lamentável e vizivel, que todos me viam como uma criança boba, que não enchergava, um palmo além do nariz, capaz de cair em ciladas bobas, de qualquer criança, de idade inferior à minha. Era algo do meu espírito... Ou quem sabe mesmo, dos espíritos - Acredito que sim...

Coisas Que Não Me ContaramOnde histórias criam vida. Descubra agora