O que diabos você está fazendo, Perséfone?!
Levando um Indouto para dentro da sua casa e... falar com ele sobre o vovô? Isso é uma total quebra de suas regras. Não se envolver. Não interferir. Não sentir.
Chega. Vou apagar a memória dele logo e chutá-lo de minha casa.
— Sr. Karim, onde está você?
— Aqui, Srta. Perséfone — a figura alta de nosso mordomo faz sombra no chão de pedra maciço do corredor, ele é magricelo, mas quem se deixa enganar pela sua aparência é um tolo, ele me ensinou a lutar esgrima e mais tantas outras lutas com armas. E, devo dizer, ás vezes ele ainda ganha de mim.
— Karim, preciso que o senhor leve o Nightcrawler para as masmorras, e também que mande algum Lutin, Duende ou Pixie limpar o banco de trás do carro do... — eu percebo que não sei o nome do garoto ao meu lado, olho interrogativamente para ele, ele sorri estende a mão para meu mordomo.
— Christopher Morgan — ele diz animado, enquanto balança suavemente a mão de Karim, meu mordomo olha para mim com as sobrancelhas levantadas em questionamento, dou de ombros — Prazer em conhecê-lo, senhor.
— Bem, você certamente é entusiasmado, não é? — Karim diz inabalável, e eu sorrio, ele sempre diz que entusiasmo é um desperdício de energia. Christopher olha curioso para mim.
— Onde estão meus pais, Karim?
— Nos lugares de sempre, no porão e no sótão - troço a boca em desapontamento.
— Eles não comeram, saíram, nada? - ele olha triste para mim, e aperta meu ombro.
— Dê tempo a eles, depois que essa fase passar, eles vão estar mais unidos do que antes - sua mão aperta de leve meu ombro novamente, e eu assinto — Bem, vou providenciar tudo o que pediu, senhorita. E, você, rapaz, coloque o corpo ali, naquele sofá.
— Obrigada, Karim. Vou ir preparar alguma coisa para eles comerem.
— Claro — ele inclina o corpo em respeito e vai fazer tudo o que pedi.
— Ok, tire os sapatos — eu já estava tirando as lâminas das minhas botas para poder tira-las, quando noto que Christopher ainda não se mexeu — Ei, é pra hoje, negramotnyy.
— O que é aquilo? — ele pergunta olhando para cima, no lustre que fica entre as duas escadas, uma jovem faz círculos sem parar em volta do lustre com uma expressão cabisbaixa, seus cabelos loiros flutuam a sua volta como se ela estivesse embaixo d'água, o vestido vitoriano é longo e modela perfeitamente a cintura da jovem, ela seria linda se não fosse o acinzentado desbotado de sua imagem.
— Aquela é Charlotte, triste história. Ela era rica, podre de rica, mas solitária, assim quando recebeu uma proposta de casamento de um jovem ambicioso, nem ao menos duvidou de sua integridade — termino de tirar as botas, ajeito o vestido, e aponto para os pés de Christopher, ele retira os sapatos e coloca-os ao lado dos meus, começo a retirar minhas armas escondidas — Ela foi feliz durante o noivado, casou-se e deu a maior festa do ano, mas aí os problemas surgiram, ele começou a ficar agressivo e abusivo com ela, ela, dependente de amor, não ligou, teria sido o fim da história se não fosse pela amante de seu marido, Helena, que estava constantemente com ciúmes de Charlotte, assim ordenou a seu amante que deveria matar Charlotte e se casar com ela. Ele, apaixonado, seguiu a ordem da amante, e antes que a lua estivesse alta no céu ele levou Charlotte para o riacho atrás da casa e a matou afogada, depois alegou a todos que havia sido um acidente.
— Mas por que ela está aqui ainda? Ela não deveria, não sei, "ir para um lugar melhor"?
— A maioria vai, mas Charlotte amava demais seu marido para partir sem lutar, lutou tão bravamente que conseguiu que sua alma vagasse nesse plano terrestre como uma Esquecida, mas sua paixão caiu por terra quando viu seu marido com a amante na cama deles, felizes com a morte da jovem. Em um ataque de fúria, Charlotte matou os dois esmagando-os sob o lustre que havia sobre a cama. Está condenada a passar os dias lembrando sua desgraça.
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Notívagos
Short StoryNesse mundo nada é o que parece. Um garoto comum em uma casa noturna tem uma história. Uma garota fria em um bar tem outra. Você quer saber? Vá atrás dela.