Crescente

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Quem ele pensa que ele é?

Acaba de aprender o básico do básico do meu mundo e já quer me dar lição de moral sobre como lidar com os minhas emoções? Quer saber, é muito bom pra ele que eu tenho todas as minhas emoções sob controle, se não ele já poderia estar em chamas desde que riu do meu nome.

— "Não posso ignorar a dor", bem, se eu não a ignorasse eu acabaria fazendo um lago inteiro ferver, e isso só para começar.

Termino de vestir a blusa escura com mangas mais soltas para guardar lâminas e caminho para o closet para pegar minha bota de escalada.

— Uma pessoa que se mete a sabe tudo sendo que é um mero Indouto - pego uma mochila e vou colocando itens necessários para uma caçada, isqueiros e lanternas (nunca se sabe quando se vai precisar de algum desses), mil dólares (às vezes, subornos são necessários neste ramo), lâminas de prata extras, uma bolsa de maquiagem (eu posso ser uma Sentinela, mas isso não anula meu lado feminino), muda de roupas (melhor prevenir do que remediar), um Ipod (música é sempre útil), seringas com nitrato de prata, um celular pré-pago, um manual com todas as criaturas sobrenaturais e suas características (nem eu tenho amplo conhecimento de todas as criaturas), duas garrafas d'água, duas pistolas com três pentes sobressalentes cada, sete facas, dois canivetes táticos militares, e mais algumas outras coisas.

Uma batida na porta me interrompe, falo para entrar, presumindo que seja meu pai que veio me falar que o Christopher já foi embora sem suas memórias sobre nós. Inexplicavelmente, sinto-me triste com sua partida. Continuo checando os itens que preciso levar, depois que termino vou ao meu quarto e me deparo não com meu pai, mas sim com Christopher olhando para minha coleção de livros.

— "Estudo avançado sobre o místico"? "Comparações entre criaturas Notívagas e Diurnas"? "Manual prático da Feiticeira moderna"? — ele levanta as sobrancelhas com curiosidade — Que coleção... diferente.

— Obrigada, levei alguns anos os procurando — vou até ele e coloco um volume sobre Quimeras de volta no lugar — Agora, me diga, porque você está no meu quarto? E o mais importante, como você ainda está com suas memórias?

— Respondendo sua primeira pergunta, você falou para eu entrar.

— Eu não sabia que era você — ele dá de ombros e começa a andar pelo meu quarto.

— Não faz diferença. Respondendo a sua segunda pergunta, um dos ingredientes acabou, seu pai disse que vai demorar algumas horas para conseguir mais. Então, você vai ter que me aturar mais um pouco.

— O quê? — digo indignada.

— Foi isso mesmo que você ouviu, seu pai te colocou como minha babá. Não é emocionante?

— Não. Não, e não. Absolutamente, não.

— Fico feliz com seu entusiasmo.

— O problema não é meu desgosto em tê-lo por perto, mesmo que esse fato seja verídico. O problema é que eu vou caçar, e você não pode ir junto.

— E por que não? — ele para perto de um monte de porta retratos, dezenas deles cobrem as prateleiras, pequenos, grandes, verticais, horizontais, quadrados, redondos, etc. A maioria das fotos em que eu fora retratada foi minha mãe ou meu avô que me fotografara. Algumas de quando eu era pequena, e uma de quando eu desenvolvi meu primeiro poder de Superdotada, o fogo.

— Por que você vai me atrasar na caçada — ele continua olhando foto por foto até que chega a uma que Roman tirou de nós dois.

— Ele eu não vi aqui. Quem é? — impaciente eu pego o porta retrato de sua mão e coloco no lugar.

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