Cheia

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Meu avô sempre dizia: "Mais vale um fim trágico, do que uma tragédia sem fim".

Eu sempre concordei, pois pensava que era a mais pura verdade. Mas hoje, vendo a luz do sol refletindo em um caixão vazio de um menino cujo pai está ainda mais vazio, me pergunto se essa verdade é absoluta.

Em filmes, está sempre chovendo quando acontece um enterro. Nunca entendi o porquê.

Seria a representação das lágrimas das pessoas deixadas para trás?

Eu nunca havia ido a um enterro antes. Mamãe e papai não enterraram vovô. Eles o cremaram e jogaram suas cinzas no mar.

É estranho. Estou no enterro de Christopher, mas ele não está. Ele foi dado como desaparecido por semanas até que encontraram o carro dele queimado na estrada. A polícia o declarou como morto.

Eu ajudei o Sr. Morgan com o enterro, me apresentando como uma amiga de Christopher. Achei que seria um jeito de começar a me redimir pela morte de seu filho, a morte que eu causei, mas ele estava tão quebrado quanto minha mãe estava. Não sabia como poderia ajuda-lo, o curioso é que eu não precisei fazer nada. Ele não precisava da minha ajuda. As pessoas se curam, essencialmente, sozinhas. Mas isso não quer dizer que devam rejeitar o apoio das pessoas. Pelo contrário, quando se está tão fragmentado que não consegue mais juntar seus pedaços, peça ajuda aqueles que se importam com você, tendo o apoio de pessoas para lhe ajudar a sair de seu desespero.

Foi o que eu fiz. Pedi ajuda a meus pais.

O padre pergunta se alguém quer falar algo, e eu levanto-me. Vou até a frente e fico ao lado do padre. Ao fundo, minha mãe e meu pai estão sentados lado a lado de mãos dadas, um recomeço que se iniciou de um fim. Na primeira fileira o pai de Christopher assente em reconhecimento a mim. Eu não conheço mais ninguém ali. Eu sabia tão pouco sobre Christopher e sua vida, e mesmo assim, sinto que fui a pessoa mais pessoa mais próxima a ele.

- Eu sei que a maioria de vocês não me conhece, e eu também sei que não fui a pessoa mais importante da vida de Christopher, mas eu o conheci. E, em apenas algumas horas ele já impactou minha vida tão profundamente que ela nunca mais será a mesma depois de conhecê-lo. Eu devo estar parecendo a pessoa mais egoísta do mundo falando de mim mesma no enterro de outra pessoa, mas se não fosse por ele, eu nunca teria tido coragem - minha voz falha, minhas mãos se contorcem, meu corpo luta para ficar parado enquanto tudo o que eu quero é fugir e me esconder. Sinto-me frágil, mas sei que não é para ser fraca que faço isso, é para ficar mais forte, respiro fundo tomando coragem de permanecer e enfrentar meus sentimentos, como um certo negramotnyy me ensinou - O que estou tentando dizer é que, eu posso não ter sido a pessoa mais importante da vida dele, e que podemos ter tido apenas algumas horas juntos e também que eu posso ter ficado com tanta raiva dele que quis que nunca tivesse o conhecido, mas... eu nunca me esquecerei dele ou do que ele me ensinou, ele foi uma das pessoas que mais me marcaram na vida e ele permanecerá para sempre vivo no meu coração.

Volto em silêncio para o meu lugar, quando me sento ao lado de minha mãe ela segura minha mão e olha-me como olhava antes, com os olhos transbordando de amor. É claro que todos ainda estávamos tristes pela morte de vovô, mas para realmente honrar a memória de alguém não deve-se sentir tristeza pela sua partida, mas sim alegria pelas memórias que se tem dela.

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