Avulso

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Talvez fosse melhor eu não contar sobre minha vida, mas vou de qual quer forma. Vou conta-la me meio a textos onde posso explicar melhor minhas sensações.

E como um de meus personagens vou lhe apresentar, o tédio. Está entre os amigos que mais me frequentam e se faz presente no cotidiano. Sempre aqui, ali, lá,  sempre comigo, sempre em mim. Se eu vou me deitar ele lá está e parece gostar de prosa, pois não me deixa só. E que sorte não estar só e ter ele comigo, sendo que assim meus pensamentos saem e se vão para o tédio. O foco é outro. O foco é achar algo para entreter meu amigo, tédio. Isso que faço agora, por exemplo, o distrai e me distrai junto.

Me disseram que não devo ficar em casa o dia todo e me disseram até que ficasse a mercê da sorte em uma praça qualquer para que fizéssemos amigos, mas o tédio não gosta de sol, e a noite faz frio e ele também não gosta. Sorte a nossas as semanas chuvosas.

O Destino, velho amigo ou tenta ser, me trouxe uma amiga real e me fez sair de casa, da cama, e não levei o tédio nesse passeio, eu levei o medo. O medo me cobriu com seu manto protetor e me escondeu de todos, assim quase não fui notada, ou achei que não tivesse sido. Elogiam minha aparência, e eu sorrio como o medo me ensinou, elogiam minha personalidade, e eu me espantei, como o medo faria. Tudo acaba e o passeio finalmente acaba. Mas agora a contradição pega carona até em casa e se junta ao medo e falam sobre o tédio, e me lembram sobre o que irei fazer quando chegar, e nada tenho a fazer.

A culpa também me faz visitas longas e assustadoras, me dizendo sobre o que fizemos e como isso nos afetou no agora, e sua personalidade detalhista não deixa escapar um passo que dei em minha vida. Ela é de boa memória e gosta de me visitar nas noites que a insônia me assombra. Sempre sendo a dona da verdade, vem me aponta todas as minhas ações e cada consequência. O erro me trouxe e me levou, e a culpa me mostrou.

Um novo amigo, ou era o que eu pensava ser, é o pânico. Mas dele não tenho muito o que descrever, já que ele mesmo tira as palavras da minha boca, o movimento dos meus músculos e distorce minha visão, sempre que se aconchega em meu peito. Muitas das vezes me tira o ar, e leva junto a minha memoria, mas bem que eu quero esquecer algumas coisas, e coisas estas que fizeram ele se apresentar para mim.

E de todos que me visitam, o que eu sempre espero e dificilmente dá a cara, é o amor, esse se faz de difícil. Mas antes se fazer de difícil, do que vim da forma errada, na qual eu não posso abrir as portas da minha morada. Antes não vir. Mas eu o aguardo ansioso, e sei que um dia ele vem, com seu cheiro de paz, olhos pequenos, e sorriso largo.

O  princípio paranoicoOnde histórias criam vida. Descubra agora