ME MUDEI, minha mãe estava há tempos procurando uma boa casa para a gente se instalar. Enfim, conseguimos encontrar a tão bendita casa perfeita depois de rondar vários bairros baratos ali por perto. A casa? Obviamente, era linda. Da minha cor preferida.
Era AZUL, um azul forte e intenso, dava gosto de ver as paredes lisas sem nenhuma marca de mãos ou patas de cachorro, ela estava absolutamente impecável! Acho que o antigo morador gostava de tudo na sua perfeita ordem.
Mas pelo incrível que pareça, não era só a nossa casa que era azul não, era nosso bairro inteirinho. Cada casa representada com seus tons de azul, algumas claras e outras escuras. Parecia que eu tinha entrado em um mundo de contos de fadas. Não tinham muros ou grades, eram apenas cercas pequenas pintadas de Branco. Mas o melhor era o Jardim, cheio de flores plantadas em fileiras no cantinho do quintal. Era realmente a casa que a minha mãe sempre quis.
Apesar de ser um bairro chinfrim no subúrbio da cidade, era até bonito e calmo. Sem vizinhos chatos ou fofoqueiros para ferrar com a sua vida. Pelo menos, um ponto bom que outra vez acertamos. A vizinha do lado é bem simpática. Uma mulher que fazia bolos para festas de casamento e aniversários, óbvio ele veio nos dar boas-vindas e com ela, carregava uma cestinha de doces e trufas de cereja. Minhas preferidas.
Bom, arrumamos as coisas na casa, o que não era pouca coisa quando se tem uma mãe acumuladora, acho que muitos de vocês sofrem com o tanto de tralha e objetos antigos e desnecessários a sua mãe tem. Seja revistas de seu cantor preferido dos anos 90, pratos e copos de porcelanas, quadros de gatinhos e outras coisas bem desnecessárias. Enfim, minha mãe tinha tudo isso.
Terminando tudo, fui para a frente da casa olhar o pôr do Sol sumindo no Horizonte dentre as casas azuis, era tão gostoso sentir a brisa gelada da noite que estava por vir depois de um longo dia arrumando a casa por conta da mudança. Me deitei na grama olhando para a tarde indo embora lentamente quando eu escutei um barulho vindo do outro lado da rua. Era um rapaz...
Simplesmente fiquei olhando para ele como se eu estivesse hipnotizado. Der repente meu coração disparou, eu não sabia o que estava acontecendo.
Ele parou, jogou o lixo na lixeira e olhou diretamente para mim. Como eu fiquei? Super, mas super envergonhado. Ele deu um leve sorriso balançando com a cabeça dizendo "Oi" e entrou para dentro de sua casa.
Depois que a noite chegou, entrei para dentro de casa por que a janta já estava pronta, estavam sentados na mesa minha mãe, irmão chata, minha prima, tio, tia, e meu cunhado desempregado. Aquela cena de família feliz e unida era realmente desnecessária e ridícula. Por ser a única pessoa está trabalhando e se matando para sustentar uma família de 5 pessoas, minha mãe se virava como podia para nunca faltar nada na nossa mesa que por sinal, faltava as vezes, e ainda sim era criticada frequentemente por parte dos parasitas que viviam na nossa casa.
Entrei ma cozinha, servi meu jantar e fui direto para o quarto, minha mãe rapidamente pegou no meu braço e falou para mim sentar-se e comer junto da família, quando se ouve alguém bater na porta da frente. Minha mãe se levantou em direção a sala para ver quem era. Eu sorrateiramente também segui para ver o que estava acontecendo e adivinhem quem era? O garoto da lixeira.
Ele entrou educadamente e minha mãe chamou todos da família para dar boas-vindas, eles se sentaram na sala e começaram a conversar. E agora? Como vou para o quarto com tanta gente na sala? Minha comida estava esfriando e eu não queria passar com um prato cheio direto para o quarto sem cumprimentar a visita. Mas, era minha única alternativa.
Estava passando despercebido quando minha prima chama a atenção da minha mãe.
— Vó, Olha! — Disse minha prima apontando o dedo para mim.
— Zack, não vai cumprimentar o nosso vizinho que veio nos dar as boas vindas? Sente-se. — Disse a mãe.
Ele me olhou com uma cara de quem estava com vontade de rir e eu disse.
— Prazer em conhecer? — Eu disse querendo saber seu nome.
— Gustavo! Mas pode me chamar de Gus — Disse ele.
— Prazer Gus. — Apertei as mãos dele já muito nervoso. — Acho que vou pro quarto! Até depois. — Eu corri depois daquele encontro inconveniente e vergonhoso, o que ele vai pensar de mim depois daquilo? Pensei enquanto subia as escadas em direção ao meu quarto.
Fiquei lá em cima até ele ir embora. Ouvi a porta se abrir e corri na janela. Era ele. Tão lindo meu Deus, nem sei como explicar o quão era perfeito aquele garoto. Me encostei na janela olhando pra ele acenando pra minha mãe e saindo da nossa casa, ele deu uma olhadinha de leve na janela de cima onde eu estava e eu me escondi. Acho que ele não me viu, tomara que não.
Meu Deus. O que foi essa noite de hoje? Será que estou gostando desse garoto? Estou super nervoso e confuso. Não posso cometer o mesmo erro de antes, eu sei que sempre vou sofrer no final, sempre foi assim. Odeio quando isso acontece.
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Vizinhança Azul
Lãng mạnZack, um garoto com problemas emocionais e famíliares vive em bastante conflito dentro e fora de casa por conta de sua sexualidade e por ter poucos amigos, ele se vê obrigado pela sua mãe a fazer Teatro para melhorar sua interação com a sociedade. S...