Sábados Tristes

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ACORDEI NADA disposto a enfrentar esse longo dia que por mera sacanagem do destino era sempre atormentador. Eu tinha muitas coisas que me faziam bem todos os sábados, uma família equilibrada, sem brigas e discussões, uma mãe que ao chegar do trabalho me dava colo pra deitar e me fazia ver a noite passar. Era meu porto seguro desde então. Mas tudo isso mudou.

Minha mãe trabalhava como segurança em um dos prédios mais importantes da cidade, antigamente ela saia de manhã e voltava pela parte da tarde, nesse meio período eu estava na escola enfrentando o seres humanos mais nojentos e asquerosos da minha vida. Era uma rotina sabe? Será que uma pessoa daquela idade tinha psicológico o suficiente para crescer já sabendo que o mundo não presta? Infelizmente senti na pele isso. Mas deixamos para outro momento.

— Filho acorda, vai se atrasar pra escola.  — Disse a minha mãe com aquela voz de sono e doce de sempre.

— Deixa eu dormir mais um pouco? Só mais dez minutos? — Disse eu.

— Não, cuida logo de se levantar para ir tomar café. Você vai se atrasar para ir a escola. Levanta. — Disse ela falando com instencia.

— Okay, já vou indo...

Minha mãe era a matriarca da família. Eu amava ela, e ainda amo. Porém ela foi mudando com o tempo, acho que por que fui crescendo e me tornando não mais uma criança e sim um "Aborrecente" como dizia ela.

Acordava de manhã, tomava banho, tomava café e corria para quela maldita escola enquanto minha mãe preparava as coisas para ir trabalhar.
É a mãe mais bonita e guerreira que eu tenho, eu tenho orgulho de chamá-la de mãe, apesar de eu não ser o filho de ventre dela.

Então essas rotinas desde a infância se repetiam cada vez mais e mais. Acordar, banho, café e escola. Acordar, banho, café e escola. Era horrível, já estava ficando entediado. Eu não fazia nada. Sinceramente pra quem tem essa rotina, e aguenta calado, é um guerreiro por assim dizer.

Acordei, me levantei abri as persianas e vi o nascer do sol explendido no meio das casas azuis desse bairro. Os pássaros cantando sem parar. Os latidos de cachorros da vizinha, e de vez em quando uma briguinha de leve dos vizinhos. O marido da dona Elizabeth sempre esquecia de limpar o quintal, então vira e mexe a dona Eliza, como gostava de ser chamada, reclamava da bagunça que ficava o quintal. Lembra daquele ditado que diz "A grama do vizinho é sempre mais verde" então. A nossa grama era até bonitinha, mas o quintal da dona Eliza... Dispensa comentários.

Desci para tomar café, graças a Deus que a "Família" feliz não estava reunida na mesa. A mãe já estava tirando para preparar o almoço.

— Bom dia filho! — disse a mãe.

— Bom dia. — olhando com a cara mais desanimada possível.

— Guardei presunto e queijo pra você, estão dentro daquele pote ali.

— Obrigada! — disse eu com uma vontade louca de morrer.

— Então... O que aconteceu pra você sair tão nervoso ontem a noite? Você nem se quer saiu do quarto para se despedir do nosso vizinho. — disse a mãe com um olhar desconfiado.

— Eu estava com um prato enorme de comida na mão, não era educado ir ver uma visita com um prato cheio de comida. Eu me senti, sei lá. Um dragão. Eu estava envergonhado.

— Envergonhado pela nossa família ou pelo fato de não ter se vestido bem para o garoto? — disse a mãe com um tom de ironia.

— Do que a senhora está falando? — olhei sem entender o por quê daquele assunto.

Vizinhança AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora