Minha mãe um dia
pegou meu diário e leu
as muitas mensagens
de amor,
de ódio,
de dor...
Oh meu Deus,
sua filha é depressiva.Eu poderia ficar com raiva
pela invasão de privacidade,
por ler a minha mente
nessas muitas folhas de papel.
Mas não.
Estou cansada demais
do dia, da vida.
Não consigo esboçar uma emoção,
nem que seja de tristeza,
por ter meus sentimentos
mais obscuros
expostos dessa maneira.- Filha, você se mataria?
Ela me perguntou.
Eu ri sem reação.
Ri de dor.
- Eu nunca faria isso.
Respondi querendo fugir.Pela resposta negativa,
ela se encheu de esperança:
--- E por que não?
Eu me virei para ela
com lágrimas nos olhos.
Não as deixei cair.- Por que pra morrer
quando se precisa morrer,
pra tirar a vida
quando já se não tem mais ela,
precisa de coragem.
Sorri amarga:
- E sua filha é uma covarde,
que não consegue sair desse mundo
mesmo que sofra tudo o que tiver.Ela se sentou na minha cama
e respirou fundo:
- Os suicidas não são fracos
por morrerem.
Eles morrem porque seu lugar não é aqui.
E eles têm coragem suficiente
para sair daqui
e voltar pra casa.Limpo o meu rosto e digo:
- Suicidas são anjos
que são apedrejados
por pessoas que não conhecem
a palavra sensibilidade.Pego sua mão:
- Eles tem a coragem.
E sua filha é uma covarde.