Presa no Vício

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   Me sinto grudada no sofá,
   atraída pelas vozes da TV,
   induzida pelo som da notificação
   do meu celular,
   para ver o que se passa no mundo.

   Acordo.
   Planejo o que farei
   no decorrer do dia.
   Me levanto e de frente para o espelho,
   digo: "Sorria".

   ... Mas não me obedeço.

   Um café pousa nas minhas mãos.
   Agradeço,
   sem nem olhar quem me entregou.
   Notícias "quentinhas" chegaram
   Na internet, no celular.
   Estão em todo lugar.

   "Vou ler um livro; sair pra praia;
   dar uma volta de bike;
   aprender tocar gaita..."
   escrevo na lista de desejos,
   no meu caderno mental,
   enquanto enfrento
   um trânsito infernal.

   Chego no trabalho
   disposta a organizar
   e adiantar algumas coisas
   para ter o fim de semana livre
   para descansar.

   Mas sou manipulada
   por um anúncio de TV
   que diz que as 10 da noite
   passará um filme que
   não serei nem louca de perder.

   Metade das coisas eu faço,
   a outra eu as deixo pra depois.
   Horário do almoço.
   Prometi uma dieta, por favor
   Só um pouco de arroz.

   Propagandas de batata frita
   passam na minha frente.
   "Não vai me fazer mal.
   Só hoje e acabou"
   Dispenso a comida saudável,
   e me acabo nas frituras.
   Preciso comer rápido
   tomar um remédio pra digestão
   enquanto volto para o trabalho.

   Tento me concentrar
   mas o celular ao lado não deixa.
   "Só pra ver as horas, juro."
   Mandei uma solicitação pro meu ex,
   vai que ele aceita.

   Meu expediente acaba.
   Eu não fiz nada.
   Nem recebi meu salário,
   ele sempre atrasa.

   Fui pra casa, batucando no volante.
   Um banho relaxante
   e uma boa noite de sono,
   é o que farei quando chegar em casa.

   Abro o meu apartamento,
   vendo as roupas se acumularem
   na cadeira no meio da sala.
   Acrescento na minha lista:
   "Uma faxina na casa.".

   Tomo um banho,
   coloco minha playlist no aleatório.
   Saio do banheiro ouvindo
   uma música depressiva.
   Olho o relógio.
   São 8 da noite,
   não estou com fome,
   e quando tiver,
   peço pelo telefone.

   Sinto todo o meu corpo
   pousar no colchão.
   Fecho os olhos para dormir,
   mas não consigo de um lado
   E do outro também não.

   Olho o teto e choro.
   O que eu estou fazendo?
   Chorando por quê?
   Tento me libertar da rotina,
   mas ela me arrasta todos os dias.
   Sou sua manivela.
   E não consigo parar de ser.

   Aparelhos eletrônicos,
   mídia e publicidade
   têm afetado tudo isso.
   Não os culpo.
   Eu sou minha responsabilidade.

   Mas a tecnologia tirou
   a minha racionalidade.
   Sou hipnotizada por um objeto
   que me controla,
   e me cobre de tristeza
   quando fica tão tarde.

   Duas da manhã
   e não consigo dormir.
   Pego meu celular,
   talvez ajude o sono vir

   A quem estou querendo enganar.
   Estou me deixando ser levada
   por esses aparelhos que chegaram
   a fim de ajudar,
   mas estou sendo massacrada
   não sabendo como me livrar
   De todas essas coisas atuais
   que me arrastam
   e tiram o meu domínio de mim mesma.

   Malditos.
   Eu perdi o meu controle,
   como muitos perderam também.
   Eles nos ensinem a deixar tudo de lado
   para dar atenção a tudo isso.
   E quando as coisas se acumulam,
   precisamos culpar alguém.

   Tomo uns remédios
   que prometem me fazer dormir
   Queria poder comprar um comprimido
   que pudesse me fazer sorrir.

   Não faça como eu.
   Não se deixe levar.
   A vida está passando
   e você não aproveita
   por estar preso num celular

   Sobre o seu uso:
   Economize.
   Saiba viver sem eles.
   Isso é um vício.
   Se livre.

RascunhosOnde histórias criam vida. Descubra agora