Prólogo

639 92 134
                                    


Dez anos atrás

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Dez anos atrás


Por que, sempre quando estamos em uma rua vazia e mal iluminada, temos a sensação de que há alguém nos seguindo?

Patrícia apertou o embrulho de presente contra o peito, temendo que o papel fosse molhado pelas gotas grossas que despencavam do céu.

O ar carregava o cheiro das primeiras horas do anoitecer, um misto de concreto resfriado, umidade, fumaça e lixo; assomado a um toque discreto de suor e apreensão.

Ela arriscou olhar para trás. Somente sua sombra a seguia.

O vento soprou, engrossando a chuva, e Patrícia acelerou, atravessando a entrada do hospital e seguindo para a ala da maternidade. Era estranho como sentia suas mãos suadas conforme avançava pelo corredor; uma preocupação mordaz a assolava de uma forma inquietante.

Com o canto dos olhos, notou um senhorzinho careca em uma cadeira de rodas, observando a chuva e murmurando uma melodia arrepiante.

As paredes bufavam. Patrícia apertou o passo. Era como se nenhuma luz fosse tocar o seu rosto outra vez.

— A chuva fria atinge a janela — ele cantava baixinho —, enquanto dormimos entre os mortos.

Patrícia virou o rosto. Se acelerasse mais um pouco, estaria correndo; ou será que já estava? As enfermeiras lhe lançavam olhares feios. Ela as ignorou. Seu coração era um nevoeiro de sombras e impressões ruins, uma certeza ingrata da morte da inocência.

Tremia quando parou em frente ao quarto de sua amiga.

Puxou o ar e empurrou a porta abruptamente, como se algo maligno estivesse muito perto e só ela pudesse impedir sua ascensão.

— Duzentos mil reais, tia! — Na cama hospitalar, Simone sorria de forma incrédula, segurando o celular. — Ainda penso que estou sonhando! Sim, sim! Viu, minha amiga acabou de chegar. Conversamos depois, ok?

Simone desligou o celular no mesmo instante em que a enfermeira entrou no quarto, com Emília nos braços.

— Venha conhecer minha princesa, Patrícia — ela disse, recebendo a menina e a aninhando em seu colo. O sorriso de Simone era uma ruptura da sensação obtusa que pulsava sob sua pele.

— Desculpe-me pela indiscrição, mas... Sobre o que você estava falando com a sua tia? Que história é essa de dinheiro?

— Caíram duzentos mil reais na minha conta! André e eu jamais conseguiríamos juntar tanto dinheiro assim em tão pouco tempo! 

— E esse dinheiro simplesmente apareceu em sua conta bancária? — Patrícia perguntou, desconfiada. Seu olhar vagueou até a janela do quarto; era uma noite tempestuosa, e uma chuva torrencial despencava do céu. — Que estranho.

Crisântemo Kell (Livro 2 - Saga Ellk) | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora