Capítulo 1

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Olho mais uma vez para o lago que está na minha frente, e fecho os olhos procurando me concentrar o máximo. Encho meus pulmões de ar, sentindo ele um pouco denso e gelado. Ouço o som de pássaros, um Bohemian Waxwing e um Spotted Pardalotes, também ouço o som de algum animal correndo. Sinto o sol queimando em minha face, queria poder apaga-lo. Imagino-me reduzindo a energia cinética dos átomos e ele virando cada vez mais solido. O ar se torna cada vez mais frio, meus fios começam a flutuar. Sinto algo forte crescer dentro de mim, meu poder, e o libero com todas as minhas forças.

"Alcance a aguá! Funcione! Funcione! Congele!"

Imploro mentalmente para que funcione ao menos uma vez. Abro meus olhos devagar, mas logo quero fecha-los novamente. Não funcionou, novamente. Tudo que eu tentei, resultou em uma pequena pedrinha de gelo, menor do que se põe em um copo de água. Bufo irritado e me deito no chão. Eu tenho dezesseis anos e não consigo ao menos congelar a água, enquanto meu irmão, com dezessete, já consegue criar e manipular o fogo. Tudo bem que ele estuda em uma escola de elite, a melhor do país de Lefteris. Mas ainda sim é frustrante saber que não consigo chegar perto do que ele faz.

Solto um suspiro sentindo o vento bater em meus cabelos fortemente, mais forte do que o normal. Me sento rapidamente e olho em volta, sinto algo intenso no ar. Magia. Levanto-me e olho em volta, mas tudo o que vejo são as árvores. Ouço um barulho alto vindo da esquerda, me posiciono para poder correr rapidamente, que é a única opção que me resta. Uma estranha silhueta surge do meio das árvores, e é naque instante que começo a correr. Correr como nunca corri antes. Isso vem acontecendo várias vezes, mas nunca tinha aparecido alguém.

Sei que está correndo atrás de mim, ouço seus passos. Corro ainda mais, mesmo com o sol cegando minha visão. Esse bosque é muito afastado da vila, não tem como pedir ajuda. Viro a esquerda e me escondo atrás de um enorme tronco, tentando apagar a minha presença, mas isso é complicado demais. A silhueta aparece, é um homem. Forte e com seu rosto escondido pelo capuz preto do moletom e por uma mascara preta também. Ele olha em direção ao tronco em que estou e eu me escondo rapidamente, mas acho que não foi rápido o suficiente. Isso se torna uma certeza assim que os passos retornam na minha direção. Olho em volta atrás de algum jeito para poder fugir e a única coisa que penso é: Escalar a árvore. E eu conseguiria, se meus pés não estivessem machucados pela corrida rápida e descalça. Ouço seus passos ficando cada vez mais alto e decido escalar, sabendo que doeria muito.

Escalo a árvore rapidamente, com os pés latejando de dor. Ele aparece bem a baixo de mim, e eu prendo a respiração. Escalo um pouco mais alto e procuro não fazer barulho. Antes que eu consiga pensar em algum meio de sair daquele galho, uma flecha corta o ar e acerta em cheio o centro de sua cabeça, fazendo seu corpo cair para trás. Procuro o responsável pelo assassinato do provável assassino, mas não encontro. Desço lentamente da árvore e chego perto do corpo, a flecha era diferente das que eu já tinha visto antes, olho para a cintura dele e avisto uma espada preta. Ouço o som de um galho quebrando e eu pego a espada me virando para trás, não irei morrer hoje. Aparece uma sombra negra que se transforma lentamente um corpo feminino. Uma garota magra e com os fios castanho avermelhado trançados e franja toma conta de minha visão.

- Opa bebê, relaxa que eu não vim pra te atacar. - diz com um tom de deboche levando as mãos ao ar.

- Quem é você? Por que este homem estava tentando me matar? Por que o matou? - pergunto ainda apontando a espada para ela.

- Meu nome é Lalisa Manoban, mas pode me chamar de Lisa, e eu o matei porque ele estava tentado te matar! Apesar de ser uma missão também. - Diz se recostando no tronco. - Agora o motivo dele vir atrás de você, eu não sei, mas eu achei bem estranho também. Vou ter que relatar isso.

- Mas que ótimo, um cara estranho me atacou sem motivo algum aparente. - digo irritado, e se fosse alguma "missão" também? - Espera, missão? Como assim "missão"? - a olho confuso e finalmente reparo em seu traje, era um macacão preto, de um tecido que não reconheço, com um simbolo discreto em seu peito - De onde você é?

- Isso não importa agora, o que importa é: Você tem talento. - Que? Talento?

- Do que você ta falando?

- Do seu poder, eu vi você congelando o lago a pouco tempo. Sem contar a rapidez que você conseguiu criar um meio de escapar das mãos desse cara.

- Como assim congelar o lago? Eu só criei uma pedrinha de gelo. - digo e ela me olha surpresa

- Você congelou o lago todo! Como você não pode ter o controle dos seus poderes? Você me parece bem grandinho já. Que decepção hein bebê, seus pais precisam falar com seus professores. - ela zomba de mim, me lembrando mais uma vez algo que vem me atazanando a vida inteira.

Solto um suspiro cansado e jogo a espada no chão. Fecho os olhos e presto atenção aos sons. O som dos pássaros está ao leste, o vento bate nas folhas com uma certa calmaria agora, ele vem do oeste. O lago tinha sua corrente voltada a posição do vento e os pássaros pareciam próximos. Abro os olhos e começo a andar com o objetivo de voltar a vila. Eu não sei quem é essa garota, mas seu jeito cínico já esta me irritando. Ando o mais rápido que consigo, a deixando para trás. Meus pés pedem por clemencia, estão ardendo, e tenho certeza de que se eu não lava-lo, irá infeccionar.

- Onde você vai? Está fugindo de mim? - ela diz vindo atrás de mim.

- Estou indo ao lago, meus pés estão machucados e eu tenho que lava-los. Esse bosque é muito frequentado por animais e deve ter inúmeras bactérias por aqui.

- Então você é um maníaco por limpeza?

- Não. Se fosse isso, não estaria ao menos descalça. Acontece que eu não quero pegar uma doença nos pés logo após ser perseguido por um doente desconhecido e ainda ser insultado por uma garota que ao menos me conhece. - digo irritado e antes que ela fale alguma coisa, eu continuo - Eu sei que não tenho controle, mas não é como se eu pedisse por isso! Eu me conheço muito bem, para sua informação. Não preciso que alguém que eu acabei de conhecer diga isto. Além do que, eu não lembro de te perguntar nada. - Meu tom de voz sai mais frio do que o esperado, mas o que eu posso fazer? Eu sou do gelo.

Ela não diz nada o resto do caminho, mas continua a me seguir. Eu também não falo nada, não vou expulsa-la do bosque. Ao chegar no lago, meus pés chegam a latejar. Lavo eles com cuidado, eles estavam cortados e com algumas farpas. Ela continuava ali parada, divagando sobre algo, quando do nada sacou de seu bolso um pequeno aparelho que nunca tinha visto pessoalmente antes: Um celular. Não temos esse tipo de coisa aqui na vila, afinal, o governo nunca liga para uma pequena vila. Vivemos humildemente, somente luz, gás, rádio e jornal. Ou seja, monótono e irritante. Então, ela é obviamente da cidade.

- Qual o seu nome garoto? - Ela pergunta me retirando de meus desvaneios, ela guardou o pequeno aparelho de volta no bolso e se aproximou.

- Park Jimin, por que?

- Bom Park, eu gostaria de ter uma pequena conversa com você.

- Sobre o que?

- Sobre a Organização Artems.

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Ai olha, nem sei se deveria ter publicado isso aqui. Mas enfim, por hoje é só isso.
Obrigada 💞

ᴄᴏʟᴅ · ᴊᴊᴋ + ᴘᴊᴍOnde histórias criam vida. Descubra agora