CAPÍTULO 02

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   Depois de ter me dado essa excelente notícia, ele saiu da sala e me deixou sozinha junto com os meus pensamentos. Agi na impulsividade.
Mas e se fosse verdade? Eu tinha que pensar na minha irmã, se eu fosse presa por não conseguir pagar aquilo, com quem ela ficaria?
Passo mais alguns minutos sentada naquela poltrona que era mais confortável que a minha cama. Depois de um longo tempo pensando, algumas lágrimas começam a descer pelo meu rosto e eu as limpo com o dorso da mão. Eu estava presa em um casamento por sete meses. Minha vida estaria arruinada durante esse tempo.

Depois de me acalmar e me certificar de estar com o rosto limpo, saio da sala atraindo alguns olhares estranhos pela minha cara de choro. Faço o mesmo caminho que fiz para vir até aqui e consigo chegar ao portão, me deparando com Ricardo. Se ele tivesse me falado onde eu pudesse arrumar um emprego, nada disso estaria acontecendo.
Mas quem precisa de um emprego no castelo quando pode tonar-se a rainha do castelo, não é?
Eu sei que ele está apenas fazendo o seu trabalho, mas ter essa série de acontecimentos quando não é nem meio dia, acaba com a sanidade de qualquer um.
Acabo que vou buscar Cloe mais cedo na creche. Preciso da companhia da minha irmã, não quero deixar ela sozinha e também não quero ficar sozinha. Enquanto caminho, meus pensamentos parecem que estão em um confronto dentro da minha cabeça. Minha vida mudou da noite para o dia. Literalmente.
Forço meus pés à andarem mais rápido. Porque se dependesse de mim, eu me encolheria em um canto e não iria parar de chorar.
Depois de alguns minutos que pareceram ser uma eternidade, enfim chego na creche. Vou até a secretaria e peço para chamarem a Cloe. Algum tempo depois, lá surge ela com sua roupa toda rosa que fez questão de usar só para se parecer com a Barbie. Ano que vem ela já estará na escolinha e meu coração já se aperta por saber que o tempo está passando rápido demais.
Ela sorri toda animada enquanto corre na minha direção com os bracinhos abertos.
Meguiiii!!
 Ah, como eu amo esse sorriso. Isso é o que me faz querer levantar da cama todos os dias.
—Oi, minha princesa.
Ela me dá as mãos para seguirmos nosso rumo para casa. Mal saímos de dentro da creche e o som de notificação do meu celular nos para por alguns instantes. Pego o celular e dou uma olhada nas mensagens e, eu juro, que se for a Juliana dizendo que aquele sofá azul chegou, eu mato ela! Essa semana o sofá já chegou 3 vezes, mas sempre com a cor errada e nunca com a azul, que é a que ela tanto quer. A cada vez que chegava ela fazia um estardalhaço.
Mas estranho quando vejo que a mensagem vem de um número desconhecido.
Desconhecido: Direto para o palácio.
O que significava isso? Se for quem eu estou pensando, sou capaz de jogar esse celular na rua e pisar em cima dele.
Logo trato de responder.
Quem é você?
Adrian.
Ah não, ele só pode estar de brincadeira comigo.
Você? Como descobriu o meu número e como sabe que eu não estou indo para o palácio?
Uma pergunta de cada vez. Mas respondendo todas com uma única resposta: Eu sou o príncipe, amor.
Eu vou ter aguentar essa coisa por quase um ano? Deus, por favor me dê paciência ou eu sou capaz de cometer um crime de homicídio.
Eu não vou voltar ao palácio.
Ah, amor, você vai. Aqui é o seu novo lar pelos próximos sete meses.
É um abusado mesmo! Como pode um homem ser tão irritante?
Você não vai me obrigar a nada.
Não? Ok, então. Veremos.
Quem ele achava que era? Aquela postura de homem das cavernas que acha que pode mandar em mim já estava me irritando. Guardo meu celular no bolso e evito pegá-lo até chegar em casa.
Cloe levanta a cabeça na minha direção e, como sempre, me enche de perguntas.
—Quem ela, Megui?
Passo uma das minhas mãos no cabelo pensando no que eu vou fazer a partir de agora.
—Gente desnecessária.
Ela me encara como se eu tivesse falado em outra língua.
—O que é diquequecália?
Dou uma risadinha e puxo sua mão para continuarmos andando.
—Nada meu amor, deixa para lá.
Andamos por mais um tempo e quando já estamos na rua de casa, Cloe dá umas batidinhas no meu braço para me chamar.
Megui, tem um moçu olhando pa cá.
Tento achar a pessoa de quem ela está falando, mas não consigo encontrar ninguém.
—Aonde?
Ela aponta para um homem que está parado próximo ao nosso portão.
—Ali, ó.
Me deparo com o Ricardo olhando atentamente para nós duas, confesso que me deu um pouco de medo, mas é claro que não deixei transparecer nada. Depois que ele percebe que eu o vi, vem caminhando rápido na nossa direção.
—Senhorita, vim levá-las ao palácio.
Olho atrás dele e constato que havia de fato um carro preto ali, com mais dois seguranças em pé do lado de fora.
Cloe se vira para mim com os olhinhos brilhando.
Palaçu, Megui?
 Ignoro com uma dor no coração a pergunta dela e me volto para Ricardo para dizer minha decisão.
—Não vamos.
Pego na mão dela e a puxo comigo, a levando para longe daquele homem.
Ele me acompanha nos passos.
—Espero que tenha conhecimento de que o príncipe Adrian mandou. E como príncipe, não deveria desacatá-lo.
Paro, ficando frente a frente com ele.
—Ele não manda em mim, senhor guardinha.
Ele me encara levantando uma das suas sobrancelhas, como se me desafiasse.
—Esqueceu do contrato?
Esse maldito contrato! E como ele tinha conhecimento sobre isso? Solto um suspiro e me dou por vencida, melhor eu ir logo de uma vez. Eu não conheço esse homem, não sei do que ele pode ser capaz.
Dou mais um suspiro pesado e o encaro.
—Já que é assim, preciso pegar as minhas coisas junto com as da minha irmã em nossa casa.
—O príncipe Adrian já mandou buscar tudo em sua casa.
Aquele homem fez o quê?
Cruzo os braços na frente do peito.
—E eu posso saber como ele conseguiu entrar na minha casa?
Ricardo me responde como se fosse óbvio.
—Sua vizinha.
Eu vou matar a Juliana! Maldita chave extra que eu fui entregar para ela.
—Isso é invasão de propriedade, sabia?
Ele faz questão de me ignorar e dá uns passos para a frente, virando a cabeça para trás logo em seguida.
—A senhorita vem?
Tem como eu excluir esse dia da minha vida?
Dou de ombros.
—Minhas coisas já estão lá mesmo.
Cloe me olha dando pulinhos.
Noi vai moia no casteio, Megui?
Suspiro.
—Talvez Cloe, talvez.
Entro no carro junto com minha irmã, mas minha vontade mesmo era de passar esse carro por cima da cabeça daquele homem.
Da minha casa para o castelo, o trajeto não era grande. Cerca de poucos minutos depois nós chegamos e Adrian nos esperava em frente aos portões com um semblante misterioso. Um milagre aquele sorrisinho de lado não estar complementando seu estilo. Não que eu esteja sentindo falta, é claro.
—Olá, Carter.—diz enquanto eu o encaro e Cloe observa tudo ao seu redor. —E essa menina seria... sua irmã?
Arqueio minha sobrancelha.
—Sim, algum problema?
Ele dá de ombros.
—De modo algum. Subam para seus quartos, Ricardo irá acompanhá-las.
Ele só pode ser louco se acha que vou seguir suas ordens aqui dentro.
—Até porque não tem nada melhor para fazer aqui nessa jaula, a não ser ficar olhando para essa sua cara. Sinceramente, juntando todas as minhas opções, prefiro ir ao quarto.
Ele me olha incrédulo. É, talvez eu tenha me exaltado um pouco. Eu com certeza não deveria falar assim com ele. Mas já que agora ele é meu noivo, eu consigo algumas exceções, não é?
Cloe cheia de curiosidade se aproxima um pouco dele.
—Quem é voxe?
Ele se abaixa para ficar do tamanho dela.
—O príncipe de Amberly, garotinha.
Me coloco na frente dela sem nem ao menos hesitar.
—Fale com a minha irmã direito!
Ele levanta as sobrancelhas como se fosse surpresa para ele eu o enfrentar.
—Você também fala assim comigo, amor.
—E o que a minha irmã tem a ver com isso? Quem fala assim com você sou eu, não ela.
Cloe fala em meu ouvido como se simulasse um segredo.
Megui, não podi fala assim cum ele. Ele é o plicipi.
Adrian esboça mais um daqueles sorrisinhos sem vergonha.
—Fique tranquila, nada e nem ninguém irá nos fazer mal aqui.—digo a olhando e acariciando seu cabelo.
Adrian se levanta e faz menção de entrar no castelo.
—Agora vá para seu quarto e não saia de lá até segunda ordem.
Eu me aproximo mais dele e ergo meu rosto em sua direção.
—Desculpe, mas eu fui obrigada a me casar com um estranho. Não a ser prisioneira desse estranho.
—Muitas gostariam de estar em seu lugar. Todo mundo almejaria se tornar rei ou rainha de Amberly, mesmo que fosse por tempo limitado.
—Se todo mundo almejaria, porquê não colocou outro para assinar aquele contrato?
Adrian não diz nada, acho que toquei em algum ponto fraco.
Que seja.
Não é como se eu me importasse com o que ele sente.
Me viro para Ricardo para pedir que ele nos mostre o quarto, mas paro quando escuto Adrian dizer algo que instantaneamente me viro.
—O rei quer lhe conhecer, iremos jantar todos juntos. Uma criada lhe avisará quando for a hora.
Eu o olho meio nervosa. Como assim ele já falou de mim para o rei? Não faz nem uma hora que ficamos noivos!
—Eu vou conhecer o rei?
Adrian parece se divertir com a minha expressão surpresa.
—Sim.
Eu prefiro ignorar a sua resposta e me dirijo até Ricardo novamente.
—Poderia nos levar ao quarto?
Ele olha para Adrian que assente levemente com a cabeça.
—Claro, me sigam.
Subimos a escada e mal consigo andar por estar prestando atenção nas decorações que haviam nas paredes. Diversos quadros estavam pendurados e eu tenho certeza que só um deles já custaria a minha alma. Também achei uma espada dentro de um vidro estranho, que coisa mais esquisita! Mal me dou conta quando paramos no final do corredor, que é quando Ricardo aponta para uma porta designando o nosso quarto.
—Será aqui o quarto de vocês duas. Haverá uma criada para auxiliá-las em tudo.
Suspiro baixo.
—Tudo bem, obrigada.
Abro a porta junto com a Cloe enquanto Ricardo se afasta. Entramos em um quarto com a decoração inteiramente azul turquesa. O quarto tem uma cama de casal enorme no centro, duas cômodas (uma de cada lado) em tons leves de azul e a cortina era branca. Quando me deparo com a penteadeira, quase caio para trás, ela era maravilhosa!
Cloe observa tudo espantada, prestando atenção em cada detalhe.
—Esse quato é como os da cindelela.
—Você tem razão.—diz uma voz feminina atrás de mim.
Pulo de susto e coloco a mão no coração. Achei que só estávamos nós duas ali.
Dou uma risada nervosa e Cloe ri desesperadamente.
—Ai meu Deus, você me assustou!
A senhora que estava com um avental branco parece prender o riso.
—Perdoe-me senhorita, sou sua criada. Meu nome é Ângela.
—Tudo bem, já passou. Meu nome é Megan, e essa criaturinha aqui é a Cloe.
—Ah, sim.—ela sorri baixinho.—As senhoritas desejam alguma coisa?
Não queria abusar da disponibilidade dela, então prontamente eu recuso.
—Não, muito obrigada.
—Então vou me retirar. Qualquer coisa é só me chamar que eu virei.
—Certo.—digo enquanto ela vira as costas e sai.
Reparo que minhas roupas e da Cloe estão em um closet que até agora eu não havia notado. Como eles conseguiram fazer isso tão rápido? Vou até lá, pego uma muda de roupa para mim e outra para ela.
—Ei, vamos para o banheiro que eu vou te dar um banho.
Já que estávamos aqui, nada melhor do que usufruir de algumas coisas que estão à nossa disposição.
Chamo Cloe para ir ao banheiro, mas ela recusa com os braços cruzados.
Megui, eu já sei toma banho sozinha. E eu também sei toma sem ninguém pa ajudá.
—Sabe nada.—digo enquanto dou uma risada baixinha. Essa menina não existe mesmo.—Vamos logo.
Dou banho nela e a coloco para deitar na cama, logo ela adormece. Agora quem precisa relaxar sou eu. Tomo um banho rápido, coloco uma roupa e vou me deitar apesar de ser umas duas da tarde. Meu dia teve muitas emoções e um cochilo agora cairia bem.
Enfim, um pouco de descanso.

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