CAPÍTULO 01

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Megan

    Ando lentamente até o meu destino. Meus pensamentos vagueiam por tudo o que eu precisei passar para chegar até aqui. Desde a minha infância tudo foi muito difícil para mim. De início, meu pai já era um alcoólatra que espancava a minha mãe. Eu me sentia impotente toda vez que isso acontecia, já que eu não podia fazer muita coisa. O máximo que eu conseguia fazer, era pegar a minha irmã ainda bebê e ficar com ela trancada no quarto. Isso até dois anos e meio atrás, agora com 19, tenho conseguido cuidar de mim e da Cloe depois que meu pai sumiu e a minha mãe faleceu de um câncer hereditário. Uma das minhas maiores preocupações é eu ou Cloe futuramente sermos vítimas dessa doença também.
   Mas agora penso comigo mesma se o que estou fazendo é uma boa ideia. Eu estou indo pedir um emprego no castelo. Eu já havia tentado de tudo, lojas, restaurantes, lanchonetes... Mas não havia sido chamada para nada. E infelizmente, a única opção que me sobrou foi o castelo.
   Mas qual o problema nisso? É um emprego tão digno quanto qualquer outro, é claro. Só que eu pedir um emprego no castelo, é ter que servir aquele príncipezinho de quinta categoria!
   Aquele homem é tão arrogante, argh! Fora todas as fofocas que saem dele por aí, todo dia uma mulher diferente. Mas quem sou eu para julgar, não é?
   Mas infelizmente quando a dificuldade bate na porta, não podemos simplesmente ficarmos parados e esperar que algo bom caia do céu. O que me resta é ir atrás de uma forma de colocar o pão na nossa mesa. Inclusive, acabei de deixar Cloe na creche. Ela já sofreu tanto nessa vida, merece ser feliz. Tudo o que eu faço é por ela, até mesmo o que estou fazendo agora.
Me aproximo da construção antiga do castelo e vou na direção onde recebem visitantes. O castelo estava servindo como uma espécie de museu ultimamente, tudo isso para gerar fundos ao reino que estava quase falindo, mas nada que afetasse a vida dos nossos queridos monarcas.
Sigo em frente e tento falar com um guarda que esteja em seu turno.
Me aproximo um pouco receosa.
—Com licença, o senhor poderia me informar com quem eu falo para arranjar um emprego aqui no castelo?
Ele nem se dá ao trabalho de me olhar.
 —A senhorita não pode ficar aqui.
 —Você poderia ao menos me informar onde eu posso perguntar sobre o emprego? É rápido, é só falar e eu vou embora.
Eu já estava sem paciência, não era um dia bom. E se aquele lugar era para os visitantes, por que ele estava me tratando assim?
—A senhorita não pode ficar aqui.—diz o guarda tão irredutível quanto antes.
E obviamente não me dou por vencida, não vim até aqui para nada.
—Pelo amor de Deus, o que custa me responder?—nesse momento parece que qualquer resquício de educação que eu tinha, se evaporou.—Parece que aquele príncipezinho ridículo não sabe nem escolher os funcionários para essa jaula.
Ainda bem que aquele lugar estava vazio, porque antes do guarda dizer algo sobre o meu humilde comentário, ouço uma movimentação atrás de mim. Mas antes que eu possa me virar para ver o que está acontecendo, meu corpo finca as minhas pernas no chão quando eu escuto uma voz grossa soar prepotentemente atrás de mim.
—Posso saber o que está acontecendo aqui?
Me viro para saber de quem era a tal voz e, uau.
Saio do transe em que eu estava e me pergunto várias vezes na minha cabeça que porcaria eu ainda estou fazendo aqui, olhando para esse cara, sem dizer absolutamente nada.
E lá estava o Príncipe, utilizando seus belos trajes formais nos quais eu o vira usando diversas vezes na tv. Ele estava encostado em um carro preto. Além dele, tinha mais dois homens de cada lado com uma postura irredutível. Seus seguranças, é claro. Ninguém poderia nem ao menos chegar perto do nosso querido e amado príncipe.
Ele vira meticulosamente a cabeça na minha direção, e então me pergunta:
—O que você está fazendo aqui, senhorita?
O encaro e por um momento eu pude jurar que ele estava dando um sorrisinho para mim. Mas não me deixo distrair por aqueles olhos azuis e aquela sobrancelha arqueada. Falo logo o que eu vim fazer aqui antes que eu fique com a voz presa na garganta.
—Vim atrás de um emprego.
E com o mesmo sorriso no rosto, ele resolve devolver o comentário que eu havia feito antes.
—Jura? Pensei que tivesse vindo me insultar em frente à minha jaula.—ele ergue as sobrancelhas.
Eu poderia voar nesse mesmo instante no rosto dele e arrancar todos esses dentes, mas ainda gosto de ter uma vida para viver.
—Entenda como quiser.—falo e agradeço aos céus por eu não falar mais nenhuma besteira.
Um sorriso brincava em seus lábios. Ele leva uma das mãos até o seu queixo, fazendo com que o terno se apertasse em torno dos músculos do seu braço.
—Acho que seria mais confortável conversarmos lá dentro, vamos. Ricardo, leve-a até o meu escritório.
Ricardo, que era o nome do guarda que estava aqui quando eu cheguei, pega no meu braço e me conduz até o interior do castelo. O príncipe ia logo à nossa frente. O que ele queria comigo? Eu não sabia, mas tinha certeza de que coisa boa não sairia dali.
Entramos pelo portão do castelo e percebo que Ricardo ainda estava segurando meu braço e o chacoalho, fazendo com que ele me solte.
Tinha uma grande fonte de água no meio do jardim, guardas por todos os lados e eu fiquei me perguntando que tipo de privacidade tinha uma pessoa que morava aqui.
O amplo salão principal era lindo, nunca pensei que alguém como eu, um dia teria a chance de pisar dentro do castelo.
Alguns turistas também passeavam por ali, todos estavam sendo direcionados por uma mulher baixinha e de aparência jovem.
Era tudo tão movimentado.
Viramos um corredor à direita e demos de cara com uma porta em mármore branco. Adrian gira a maçaneta e abre espaço para eu passar. Tanto Ricardo quanto os outros seguranças, ficaram do lado de fora, nos deixando sozinhos. O lugar era lindo, os móveis parecem terem sido calculados milimétricamente para essa sala. Nada que não pudesse se esperar do cômodo de um castelo.
Já estava desanimada para um possível segundo diálogo.
—O que estamos fazendo aqui?
Ele me observa atentamente como se pudesse me ler e, então, toma assento em sua enorme poltrona.
—Sente-se primeiro e irá saber.
Contrariada, resmungo.
—Não há nada que eu possa fazer, não é?
Ele resolve ignorar a minha pergunta e continua falando.
—Como deve saber, sou um príncipe e sou o próximo na linhagem do trono. Você me insultou em frente aos meus guardas, pode ter certeza que se fosse com o rei, você já teria sido mandada para a prisão de Khalil. E como não quero levar as coisas à esse extremo, quero que você pague apenas uma pequena taxa ao reino e ninguém saberá de nada.
A prisão de Khalil era a única prisão que havia para todos os reinos do continente, isso devido à baixa criminalidade que tínhamos. E eu ir para lá estava fora de cogitação.
Ele coloca um documento na minha frente juntamente com uma caneta. Quantas pessoas o insultava diretamente para que ele já tivesse tudo aquilo preparado em mãos?
Quando eu olhei a quantia que teria que pagar, eu soube instantaneamente que algo ruim aconteceria comigo, já que eu não iria conseguir pagar o valor que estava ali naquele papel. Naquele momento meu mundo parecia ter desabado no chão, era como se aquilo fosse um pesadelo daqueles que se demoram para acordar. Eu não tenho a mínima condição de pagar esse dinheiro, não tenho nem onde cair morta!
Mas preciso. Afinal, ou é pagar, ou me submeter à essa prisão.
Não, aquilo não poderia acontecer.
Assino sem ao menos ler o documento completo, eu já sabia que não iria ter uma escolha além dessa.
Adrian estava com um sorriso muito suspeito no rosto para uma simples taxa ao reino, ele deveria presenciar esse tipo de situação todos os dias.
Mas é quando ele fala, que eu entendo todo esse seu comportamento.
—Perfeito. Você verá que fez um ótimo acordo, futura rainha de Amberly.
Por um momento achei que estivesse me engasgando com a minha própria saliva. Ah não, eu não só achava, eu realmente estava me engasgando. Depois de uma longa crise de tosse, que por o acaso aquele ser que estava na minha frente nem se deu ao trabalho de me oferecer qualquer tipo de ajuda, eu parei para assimilar tudo o que estava acontecendo.
Ele me encara com um semblante totalmente sarcástico. Nada que eu não esperasse de alguém que até agora não tirou o maldito do sorriso do rosto. Eu já disse o quanto adoraria quebrar todos os seus dentes?
—Não te ensinaram a ler antes de assinar qualquer documento, amor?
Pego o papel da mão dele e leio o texto que estava anterior ao número de pagamento.
Este contrato determina que a pessoa que houver o assinado, se casará com Adrian Henrique Crawford com as seguintes condições:
•O casamento será falso. Não irá conter beijos, abraços, dentre outras demonstrações de afeto atrás das câmeras. Apenas se beijarão em vosso casamento, na frente da imprensa ou quando precisarem fazer isso na frente de alguém.
•O casamento terá duração de 7 (sete)  meses a partir da cerimônia, depois disso irão se divorciar. O príncipe Adrian precisa de uma esposa para se tornar rei, pois quando casar-se será imediatamente coroado. Então depois de um certo tempo (indicado em um dos versos acima) se divorciarão, e o príncipe irá reinar solteiro.
Assinatura: Megan Carter.
—Eu mesmo que criei esse contrato. Gostou? —Pergunta meu noivo, enquanto eu o encaro atônita.
Ainda não estou acreditando. Noivo.

Contrato por Liberdade [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora