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Lucas ficou ali sentado por vários minutos, demasiado sobrecarregado para se mexer.

Ele finalmente esforçou-se para olhar para o edifício desfigurado. Um grupo de rapazes juntaram-se do lado de fora, olhando ansiosos pelas janelas de cima como se estivessem à espera que um monstro horrendo salta-se cá para fora no meio de uma explosão de vidro e madeira.

Um clique metálico entre os ramos acima chamou-lhe à atenção, fazendo-o olhar para cima; um raio de luz prateado e vermelho apanhou os seus olhos mesmo antes de desaparecer para o outro lado do tronco.

Ele pôs-se em pé e andou em volta da árvore, esticando o seu pescoço procurando um sinal do que quer que seja que ele tivesse ouvido, mas a única coisa que ele viu foram míseros galhos secos, cinzentos e marrons, abrindo-se em forquilhas como os ossos dos dedos — e pareciam vivos.

"Isso foi um daqueles besouros mecânicos," alguém disse.

Lucas virou-se para a sua direita e viu um miúdinho perto dele, pequeno e magrinho, a olhar para ele.

Ele era novo — provavelmente o mais novo do grupo que ele já viu até agora, talvez ele tenha uns dezasseis ou dezassete anos. Ele tinha cabelo tingido de roxo escuro, e os seus olhos brilhavam no seu rosto triste, fofo e corado.

Lucas assentiu para o mais pequeno.

"Um besouro quê?"

"Besouro mecânico," o rapaz disse, apontando para o topo da árvore. "Não te fazem mal nenhum a não ser que sejas estúpido o suficiente para tocar num deles." Ele pausou.

Outro grito, desta vez longo e arrepiante, rasgou o ar e o coração do Lucas sobressaltou. O seu medo era como se fosse um orvalho congelado na sua pele.

"O que é que se está a passar ali?"

"Não sei," o rapaz disse; a sua voz tinha um tom agudo mas não muito, típico de uma criança a passar pela puberdade. "O Ten está lá, mais doente que um cão. Eles apanharam-no."

"Eles?" O Lucas não gostou da maneira de como o rapaz disse a palavra.

"Yup."

"Quem são eles?"

"É melhor para ti, não o descobrires," o miúdo respondeu, agindo demasiado confortável com a situação. Ele estendeu a sua mão.

"Chamo-me Haechan. Eu era o Novato antes de tu teres chegado." O Lucas estava horrorizado pelos gritos.

"Parece que alguém está a morrer ali."

"Ele vai ficar bem. Ninguém morre, apenas ficamos inconscientes."

"O que queres dizer com isso?" Lucas perguntou, mais confuso que nunca.

"Toda a gente aqui tem algo injectado nos seus corpos. E tu também o tens. Isso impede-te de morrer. Em vez disso, ficas apenas inconsciente até ficares curado. Olha para o teu pulso esquerdo." Haechan explicou.

Lucas olhou para o seu pulso esquerdo, tal como Haechan lhe disse para fazer.

Ele notou que tinha uma cicatriz com números nela. Isto era um pouco estranho para ele. Ele não se lembrava de ter alguma cicatriz no seu corpo.

"Essa cicatriz foi por onde — supostamente — te injectaram o líquido," Haechan disse.

Os dedos do Lucas lentamente tocaram na cicatriz no seu pulso. O seu dedo estava frio na sua pele, ele tremeu um pouco.

"Quem é que injectou isto?"

"Não sabemos, aliás ninguém sabe. Mas nós acreditamos que foram os Criadores."

"Aqueles que nos puseram aqui?" Haechan assentiu.

A perda de memória do Lucas estava a irrita-lo. Ele nem sequer sabia a sua idade.

"Haechan.... quantos anos achas que eu tenho?"

O rapaz olhou-o de cima a baixo, "Eu diria que tinhas uns dezoito. E se caso perguntares, tens à volta de 1.60cm de altura, cabelo castanho. Oh, e feio que nem um fígado frito espetado num pau." Ele bufou uma gargalhada.

Lucas estavam tão atordoado que mal ouviu a última parte. Dezoito? Ele tinha dezoito anos? Ele sentia-se mais velho que isso.

Ele levantou-se e passou pelo Haechan, em direção ao edifício antigo.

À medida que se deslocava no pátio, o cheiro distinto a lenha e algum tipo de comida a ser feita fez com que o estômago de Lucas resmungasse.

"Qual é o teu nome?" Haechan disse trás dele a correr, tentando o acompanhar.

"Quê?"

"O teu nome? Ainda não nos disseste — e eu sei que te lembras disso."

"Lucas." Ele quase que não ouviu ele próprio a dizer isso — os seus pensamentos estavam noutro lugar.

Se o Haechan estiver certo no que disse, ele acabou de descobrir uma ligação com os outros rapazes. A perda de memória seria uma coisa em comum.

Todos eles só se lembravam dos seus nomes. Porque não dos nomes dos seus pais? Porque não o nome de um amigo? Porque não os seus apelidos?

"É bom conhecer-te, Lucas," Haechan disse. "Não te preocupes, eu tomo conta de ti. Eu estive aqui um mês inteiro e sei este sítio como a palma da minha mão. Podes contar comigo, ok?"

Lucas quase chegou à porta da frente de uma choça e um pequeno grupo de rapazes reunidos quando ele foi atingido de repente por um ataque de raiva. Ele voltou-se para o Haechan.

"Tu nem sequer me consegues avisar nada. Eu não chamava a isso de tomar conta de mim." Ele voltou-se para a porta, tencionado encontrar respostas. De onde esta coragem e determinação vieram, ele não fazia ideia.

Ele tinha chegado à porta, era uma chapa de madeira feia e desgastada por causa do sol sempre a bater nela.

Ele abriu-a vendo vários rapazes à espera ao pé de uma escada torta, os degraus e corrimões que estavam torcidos e virados para várias direções.

"Hey, olhem só, é o Greenie," um dos rapazes mais velhos disse.

Com esse começo, Lucas apercebeu-se de que ele era o rapaz de cabelos pretos que lhe tinha lançado um olhar de morte à pouco. Ele parecia ser ligeiramente mais velho que ele e era bastante alto.

"Este gajo provavelmente molhou as calças quando ouviu os berros de menina do Chittaphon. Precisas de uma fralda nova, trolho?"

"O meu nome é Lucas." Ele tinha que se livrar deste rapaz.

Sem dizer mais nada, ele foi para as escadas, só porque estava mais perto, só porque ele não sabia o que fazer ou dizer. Mas o bully pôs-se à sua frente, pondo uma mão para cima.

"Espera aí, Novato."

"Qual é o teu problema?" O Lucas perguntou, tentando tirar o medo da sua voz, tentando não levar o que o rapaz disse a sério. "Eu não sei onde estou. Tudo o que eu quero é ajuda."

"Olha uma coisa, Novato," o rapaz franziu a sua cara, cruzou os braços. "Eu já te vi antes. Algo não bate certo na tua vinda para aqui, e eu vou descobrir o que é." Um calor pulsou pelas veias de Lucas.

"Eu nunca te vi na vida. Eu não faço ideia de quem tu és, e isso pouco me importa." Ele cuspiu.

Mas sinceramente, como é que ele saberia? E como é que este gajo se lembrava dele?

O bully riu-se em silêncio, uma pequena gargalhada misturada com frieza. Depois o seu rosto ficou sério, as suas sobrancelhas franziram.

"Eu... já te vi, trolho. Eu sei o que é que o Ten está a passar neste momento. Eu já estive lá. E eu vi-te durante a Transformação." Ele chegou-se mais perto e cutucou o peito de Lucas. "E aposto que depois da tua primeira refeição do Kun, o Ten vai dizer exatamente a mesma coisa."

the maze runner ;; nct 127Onde histórias criam vida. Descubra agora