Preparativos

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Depois de uma madrugada da qual o sono fora constantemente interrompido por angustias outrora por sede,ou qualquer outro motivo. Gleici no meio da noite levantou e me trouxe água e conversamos um pouco até ela voltar pra sua cama,pude perceber que ela também estava inquieta e seus pés ficavam balançando,eu fiquei muito tempo observando,isso me acalantava.

O dia estava nublado e até frio tanto que ao sair da cama tive que por uma camisa de mangas. Gleici permaneceu dormindo,a casa toda estava silenciosa,mas eu estava com muitas palavras entaladas na garganta,preparei um café e fiz uma torrada e pude observar que o silencio da casa se estendia até o exterior,nem os passarinhos cantavam,eu sentei na varanda e pude observar tudo sem precisar falar nada.Ayrton veio até mim e fizemos nossa caminhada habitual,ambos na maior parte do tempo falando apenas o que era preciso,já estávamos em clima de despedidas,sim despedidas.Ou seria um recomeço.

Depois da caminhada,percebi que Ayrton tinha assuntos a tratar com quem lhe pôs nessa situação,resolvi sair de cena tomar um banho, a água estava morna e terminei de me enxugar no quarto,coloquei uma camisa de malha azul,minha bermuda cor terra,fui até a cozinha e Viegas estava lá ,não tentei ignorá-lo mas a nossa última conversa e suas atitudes me mostraram que era melhor manter distancia e foi o que eu fiz,deixei minhas palavras se calarem.Cada um no seu tempo espaço.Não era mágoa mas sim um cuidado com minha sanidade neste momento.

Toda a casa acordada e todos estavam meio reservados,os olhares eram tímidos as falas eram proferidas com cuidado,pois qualquer resquício de magoa da noite anterior poderia causar um desconforto ainda maior,eu estava mais observador e queria analisar tudo com cautela mesmo sabendo que hoje poderia ser minha ultima noite.Tinha roupas a organizar,lavar e foi o que eu fiz,o sol já dava as caras,desci do único lugar que não tem câmera desta casa e onde somos proibidos de falar qualquer palavra e fiquei um tempo admirando a natureza que nos cercava em silencio,apenas organizando os pensamentos.

Desci e fui até o quarto organizei minha cama recolhi algumas lembranças desta maravilhosa aventura,fiquei observando tudo aquilo em silencio,algo tão apreciado por mim,pois a língua é chicote da bunda muitas vezes,preferi guardar o momento e não por palavras,minha cabeça já estava confusa demais,enquanto fazia isso olhei pro meu par de tênis que tinha pra mim um apego sentimental,tantos lugares me acompanhaste e que outros mais viria,meu caminho seria qual?Eu não tinha certeza de nada somente que caso eu partisse seria algo que me marcaria pra sempre.

O silencio fora quebrado pela voz dela, de quem eu mais sentiria falta e me dói de pensar que deixaria para trás,mas eu tinha que me manter firme,pois estava no seu semblante que ela estava chateada,sua voz não escondia.Me perguntou se eu queria ajuda,falei que estava tudo bem enquanto dobrava minhas camisetas que tinha passado a alguns dias e nesse dia ríamos dentro da despensa,guardaria essa risada pra sempre.É estranho pensar isso mas era como eu sentia,mesmo tendo a esperança de ficar tinha que sentir que caso acontecesse ia ficar tudo bem era apenas um ciclo encerrado e que novos caminhos seriam traçados,assim como um desenho terminado da qual eu já estaria pronto pra colorir um novo,mas que cor eu usaria neste novo desenho?Verde,azul,vermelho ou apenas branco,não tinha resposta apenas perguntas.Mais pessoas adentravam o quarto e mais uma vez eu pensava que valeu a pena cada minuto aqui.

Terminei de arrumar a primeira mala,resolvi preparar um café na cozinha,Gleici me acompanhava assim como Ana Clara,sentamos naquela mesa e começamos lembrar de cada um que tivera passado,estávamos todos nostálgicos naquela tarde que estava escurecendo devagar,eu agradecia por isso,era mais uma chance de permanecer ao lado de pessoas tão queridas,mas também temia o que me esperava.Terminamos aquele café e Gleici e eu voltamos ao quarto e mais um pouco de arrumação de malas .Mostrei a foto dos meus pequenos a Gleici enquanto falávamos de como era minha rotina e ela escutava atentamente,nós olhamos e disse a ela mais uma vez que ia ficar tudo ela me abraça e falo no seu ouvido

-'Quero te mostrar meu mundo ', ela sorri e fala,

-'Quero que você venha para o meu'.Depois disso nos abraçamos e deitamos e assim ficamos até pegarmos no sono,mas antes disso muita coisa aconteceu...E nós levou pra outro caminho.Mas isso eu falo depois,porque minha garganta está quase fechada o nó só aumentou.

Caminhos até o meu Acre interiorOnde histórias criam vida. Descubra agora