Solitário

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Foram dias confusos,sem celular,sem quase nenhum contato humano,no primeiro momento me pareceu o cenário ideal.Eu Wagner,sempre amei a solidão,simplicidade de todas as coisas do mundo,e assim foi,mas tudo era tão igual nada mudava,eu via o mundo de uma janela,comecei a ficar curioso até ansioso do que me esperava e mais dias foram se passando.

Já não tinha mais o que eu fazer,não tinha nem música como acalanto,meus livros pareciam apenas emaranhados de frases sem um sentido, a comida que me era servida era saborosa mas parecia que faltava algo,tentei puxar na memória como era a cozinha do meu apartamento que nesse momento não sabia que era meu,eu não tinha mais certeza de quase nada,ou será que em algum momento eu tivera.Ah sentia falta de picar cebola e temperos,de preparar meu café,de ler as notícias até do caderno de esportes,e por mais que não fosse uma pessoa que acreditasse veemente em horóscopos e signos, senti falta disso.

Mais dias se passaram,já tinha arrumado e desarrumado minha mala tantas vezes que parecia que o dia da partida de Curitiba tinha passado um ano inteiro,e eu estava perdido no meu próprio Triangulo das Bermudas,sem nenhum sinal de radar ou comunicação,e as madrugadas eram dias e dias eram longínquos momentos do qual eu só podia observar de tão longe que ninguém era capaz de ouvir minha voz.Dormia tanto que num dia o rapaz que me trouxe a refeição me disse,o senhor não tocou no seu café da manhã, e eu não sabia o que responder parecia que tinha esquecido como falar,mas quando o rapaz partiu me senti um idiota de ter desperdiçado a chance de uma conversa banal com um desconhecido.Mais dias se passaram no mesmo ritmo arrastado e nas minhas contas o grande dia era amanhã então tentei por tudo na sua devida ordem e decidi me exercitar,ler,puxar na memória as risadas dos meus pequenos e por um longo momento percebi que estava com o rosto molhado,mas veio a palavra que minha irmã Léia falou na despedida que eu deveria ser forte e que todo mundo ia ficar bem,então fui tomar banho,e comecei a gargalhar ao lembrar que hoje seria talvez meu último dia solitário,e ao sair do banho olhei pela janela e me despedi de tudo que ao mesmo tempo era desconhecido tinha se tornado tão familiar pra mim nesses dias de extrema solidão.

Deitei na cama e me cobri,nu mesmo tinha que aproveitar já que ninguém estava a me observar e me senti tranquilo,tão em paz que tive uma noite de sono que parecia que estava no meu mundo,até a roupa de cama branca me recordara a que eu tenho na minha casa,o cheiro do amaciante que envolvia este edredom me embalou de volta para a minha doce e ao mesmo tempo fria Curitiba,num dia de nuvens e temperatura amena.Adormeci.

A claridade do amanhecer me despertara,sentia um vazio no estomago,não era fome,era alguma coisa a mais,não consegui reconhecer.Ainda estava sem roupa alguma,então me dirigi ao box,tomei um longo banho e quando acabara de arrumar meu cabelo fui surpreendido com uma batida na porta,era minha refeição.Comi mas parecia que a euforia não deixava sentir o gosto de nada,e logo fui olhar pela janela,e então mais uma vez fui surpreendido por uma visita,era um rapaz de voz grave que me dava instruções de como seria todo o trajeto,eu concordava mas ao mesmo tempo parecia que não absorvia nada do que este rapaz vestindo preto e sapatos brancos dizia,tão parecidos com os que eu levara,mas pude reparar que os deles eram pequenos e tinha um detalhe de cor dourada,e quando ele me fez a pergunta se eu tinha entendido tudo,prontamente respondi e ele disse ok ,um ok pra que eu me vestisse que minha roupa estava pronta e que ele voltava em meia hora,e eu pensei estou sem relógio,mas não falei nenhuma palavra.

Me vesti tão rápido,meu cabelo e barba pareciam estar impecáveis,me olhei no espelho e disse pra mim mesmo, estou pronto.

E será que estava?

O caminho todo em silencio,só escutei a musica do motorista,não me era familiar,mas não conseguia absorver nada.Chegamos só eu ,sozinho mais uma vez,mas do meu lado o mesmo rapaz baixinho de preto,não era baixinho era normal eu que era alto e ele me falou as instruções me dera uma aula de como usar e funcionava o microfone,aí me caiu a ficha que era tudo real e estava acontecendo,e eu passei num caminho não muito iluminado e uma voz disse espera,esperei e logo em seguida,esse mesmo rosto nada familiar disse pode entrar,toquei naquela maçaneta dourada a porta tinha detalhes e,mais na frente tinha uma moça de verde,será que era uma participante como eu,não sabia dizer,mas ao me ver sorriu e adentrei pela porta, e aí começou minha trajetória nesse jogo.

Olá eu sou o Wagner.


Caminhos até o meu Acre interiorOnde histórias criam vida. Descubra agora