Carolina, A mulher do povo

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Povos diferentes habitavam o vilarejo de Neon, mas não eram os povos que tornavam aquele pequeno lugar distinto, mas sim as castas que o formavam. Cada casta tinha sua característica mágica destinada a uma tarefa específica. Carolina era da casta gastronômica e sua mágica enfeitiçava todo o povo com suas deliciosas receitas, principalmente as de doce, que eram tão doces e coloridos quanto o pequeno Vilarejo.

Os mais ricos pertenciam à casta das minas, onde se encontravam ouro, metais e pedras preciosas, donde eram distribuídos por todo vilarejo e até por fora dele. O corpo dos seres dessa casta era como se fosse, literalmente, um ímã para a os metais e minerais de alto valor. Os que faziam parte dessa casta, eram os verdadeiros donos de tudo.

Toda manhã, Carolina abria a loja de doces de sua família com um grande sorriso no rosto.

– Bom dia – acabara de passar outra mulher da mesma casta, que era dona da padaria da esquina, – hoje o dia vai ser ensolarado.

– Bom dia, vai ser sim, senhora. Mande um bom dia para o senhor, seu marido.

A menina sorriu entrando em sua pequena loja de vidro, já lotada àquela hora da manhã. Suas vitrines tinham grandes adesivos colados que imitavam pétalas de flores em uma tarde de outono, além de uma lindíssima placa esculpida com uma madeira bem lisa e arredondada pender do alto de sua faixada com os escritos: "Doces de Neon".

Carolina passava toda sua delicadeza para suas guloseimas e seus clientes fiéis adoravam tal doçura. Seus cabelos ruivos presos em um perfeito coque davam a visão completa de sua nuca esguia. O dia passava rápido na pequena lojinha da família e quando chegava à tarde, o movimento aumentava cada vez mais.

– Boa tarde, – um garoto a cumprimentou secamente, ao adentrar sua loja de doces.

O silêncio pairou pela loja até o garoto continuar.

– É para hoje? – o garoto pareceu sarcástico.

– Desculpe, é... – Carolina gaguejou. – desculpe.

– Quero uma fatia da Tortinha de Neon para consumir agora, e desejo fazer uma encomenda para a festa em minha casa.

– Pode sentar-se que vou levar a tortinha até sua mesa, e, também, o caderno para fazer a encomenda.

O garoto sentou-se à mesa mais próxima da vitrine e a menina foi preparar seu pedido.

O que fazia o menino destratar Carolina, era pelo fato de serem de castas diferentes. Aquele garoto era da casta mais rica, a das minas. Só os membros de mesma casta se davam bem uns com os outros, o resto apenas convivia.

A Tortinha de Neon era uma combinação de várias frutinhas e chocolate com amêndoas, com cobertura de brilho mágico que faiscava no topo daquela sobremesa.

– Sua Tortinha senhor – a menina colocou o prato à frente do garoto.

Assim que Carolina percebeu que todos os clientes haviam ido embora, à exceção do rude garoto à mesa de fronte à vitrine, a jovem doceira correu à porta de entrada da loja e a trancou, fechando as persianas gentilmente.

– Você não precisa ser tão grosso comigo.

O garoto levantou-se e se aproximou de Carolina com um fraco sorrisinho.

– Desculpe, Carol, mas meu pai tem estado bastante desconfiado.

Carolina e o menino eram de castas diferentes, mas eram melhores amigos desde sempre. Na verdade, eles eram melhores amigos desde que a menina o salvou de cair na correnteza do Grande Rio e depois do garoto tê-la defendido de crianças maldosas.

O Segredo dos NomesOnde histórias criam vida. Descubra agora