Capítulo 5

217 15 0
                                    

Fallon

Eu deveria estar zangada, eu deveria estar furiosa. Ben invadiu meu local de trabalho, primeiro me assustando, depois me seduzindo e em seguida me fazendo passar pelo maior constrangimento da minha vida. Eu certamente deveria querer matá-lo, mas a verdade é que estou aqui, tentando não sorrir feito uma imbecil e prestar atenção a fala que estou repassando com minha aluna, que provavelmente será a próxima Emma Watson em Hollywood. A garota tem talento, mas neste momento eu só consigo pensar em como eu amo meu exasperante namorado.

- Srta O'Neill - ela me chama e percebo que não é a primeira vez.

- Desculpe Kate - eu digo tocando seu ombro - Pode repetir a última fala por favor, acho que você precisa colocar um pouco mais de emoção.

Ela ergue uma sobrancelha e sorri.

- Acho que a senhorita sequer ouviu o que falei na última meia hora.

- Me desculpe querida - sorrio um pouco sem jeito. Nunca deixei minha vida pessoal atrapalhar meu trabalho, mas aqui estou eu, tendo apenas 2 meses para me separar por um bom tempo do homem que amo.

- Olha, está tudo bem - Kate ri docemente e tenho certeza que não apenas seu talento, mas seu carisma fará dela a queridinha da América - Eu posso repassar as falas com a Maggie hoje, mas amanhã eu gostaria que fosse você, pois o teste será nesta sexta.

- Obrigada, mas vamos focar no aqui e agora - eu inspiro profundamente - Prometo que agora vou me concentrar.

- Jura?! Porque eu jamais conseguiria depois de ser beijada por aquele homem lindo.

Acabo rindo e não sou capaz de evitar sentir com uma pontada de satisfação.

- Você vai beijar muitos homens lindos nos sets de filmagem, se não for capaz de se concentrar depois disso, sua carreira estará arruinada - ela me olha assustada agora - Por isso, como sua professora de interpretação, preciso te mostrar como resistir a isso.

Dou uma piscadela para suavizar o peso de minhas palavras e sou recompensada pelo sorriso de Kate. Retomamos de onde paramos e nem sentimos o tempo passar.

De todas as minhas alunas, Kate certamente é a que tem um futuro brilhante pela frente, me lembra a atriz promissora que um dia eu fui. Durante muitos anos, pensar nisso me deixava triste, mas hoje eu tenho tanto êxito ensinando outros a trilhar o caminho do sucesso que, eu mal me lembro desses sentimentos.

Um arrepio percorre minha pele quando me dou conta que estou prestes a encarar um novo desafio. Isso me apavora até a alma e sinto vontade de desistir. O que tenho é seguro, eu realmente me consolidei como Fallon, a mestra, não só isso, mas depois que duas alunas minhas entraram para uma das séries mais aguardadas da HBO, as coisas cresceram e agora tenho em sociedade com minha melhor amiga, Amber, uma pequena escola de artes cênicas.

Quando aluguei uma sala neste prédio no Centro de Los Angeles, jamais pensei em ocupar todo o andar em tão pouco tempo. Assim que comecei a ter mais alunas, Amber me ajudou com a contabilidade e meses depois, ela largou o que chamava de "trabalho de merda" pois estava cansada de servir "aquele babaca do Stuart". Com isso, viramos sócias. Ela cuida da parte administrativa e, mesmo que agora tenhamos mais três professoras, eu continuo lecionando. Realmente amo o que faço, então penso que se eu desistir de Nova York, não estarei sendo covarde.

Paro e reflito sobre isso enquanto almoço, me pergunto o que diria a Ben se ele cogitasse desistir da publicação de seu livro. A resposta é fácil, mas ainda assim, é diferente quando estamos do outro lado da situação.

- Fallon deixa de ser medrosa! - digo a mim mesma - Você sonhou com isso por anos.

E realmente sonhei. Quis tanto e por tanto tempo, mas nunca aconteceu por motivos óbvios, afinal que papel um produtor teria para uma mulher cheia de cicatrizes?

Bem, no fim das contas Derek tinha, e um dos bons.

Susan, era uma mulher forte e destemida, exemplo e inspiração para muitas mulheres, mãe solteira que lutava para conquistar seu lugar em uma área onde até então, apenas homens se destacavam.

Derek usou a história de sua mãe e criou uma peça incrível, tenho plena certeza que será um sucesso, meu medo é que ao colocar no papel principal uma mulher como eu, ele poderia arriscar esse sucesso.

Odeio o fato de não acreditar em mim mesma, odeio a forma como estou tentando me esconder na vida que tenho. Respiro fundo mais uma vez e envio uma mensagem para Derek.

"Quando você vem pra eu assinar o contrato?"

Recebo a resposta imediatamente.

"Se dependesse de mim estaria aí agora mesmo, estou louco pra te ver outra vez, principalmente nos palcos. Tenho contratos e parcerias para fechar essa semana, que tal domingo?"

"Ótimo" eu respondo e ele manda emojis sorridentes.

Decido que a melhor forma de superar meus medos é combatê-los e isso reforça minha determinação que começava a esmorecer.

Anoitece e volto para casa. Ben está com a cabeça caída sobre o teclado, quando me aproximo, vejo que entraram várias letras repetidas no texto. Um sorriso lento se espalha por meu rosto, ele fica lindo adormecido, mesmo com a boca aberta e roncando baixinho. Não resisto e toco seus cabelos, estão maiores e o normal e já formam cachos nas pontas. Sonolento, ele abre um pouco os olhos e um sorriso bobo se forma em seus lábio.

-Parece que meu Willian Shakespeare adormeceu - digo me inclinando para beijar sua boca.

- Sabe que se formos citar ingleses, prefiro Lorde Byron - a voz dele estava rouca pelo sono.

- Lorde Byron era um depravado! - eu o recrimino por sua escolha.

- Exatamente - um sorriso malicioso se espalha por seu rosto.

- Vem pra cama - percebo seu olhar mal intencionado e completo - Para dormir! Não quero que fique com torcicolo.

Ele faz beicinho e eu acabo rindo. Quando olha para a tela e percebe que sua cabeça "digitou" várias letras, ele xinga.

- É tão ruim? - eu pergunto preocupada.

- Por sorte costumo fazer backups a cada capítulo finalizado - ele inspira frustrado - Mas ainda sim - ele deixa transparecer sua exasperação.

Ben esfrega o rosto que já dá sinais da barba de um dia. Ele está desgrenhado e lindo. Resmungando enquanto mexe no computador buscando seus arquivos.

- Sabe, aquelas máquinas de escrever antigas quase decepam seu dedo, mas ao menos não saem digitando por você - acabo rindo ao imaginá-lo com uma máquina daquelas, um óculos de nerd e um cardigã de tweed. Meu riso se transforma em gargalhada quando ele me olha de cara feia.

- Você está rindo de mim, Fallon? - ele da um passo a frente de um jeito ameaçador.

Eu nego com a cabeça e percebendo o movimento dele, dou um passo para trás tentando segurar o riso. Lágrimas de diversão rolam por minhas bochechas e minha imaginação fértil já consegue acrescentar ao quadro mental um cachimbo e uma boina.

Ben avança em minha direção e com um gritinho eu pulo o sofá, correndo dele.

- Não pense que vai zombar de mim e se safar, Fallon.

Ainda rindo, eu o encaro tentando prever seu próximo movimento. Assim que Ben dá um passo para a direita, eu corro para a esquerda, ele muda sua direção no mesmo instante e praticamente me pega no ar quando tento pular o sofá novamente. Eu grito e me debato, sei que é inútil, mas tento mesmo assim. Ele me deita no tapete e começa a fazer cócegas em mim até que estou ofegando e pedindo clemência.

- Que fique de lição, mulher! - ele franze a sobrancelha fingindo seriedade - Não zombe do seu homem.

Em seguida ele bate no peito em sua imitação de homem das cavernas e me beija. Parece que se passam horas até que ele afasta os lábios dos meus. Ele me olha nos olhos com tanta emoção que faz meu coração encolher.

Ben acaricia meu rosto, no lado das cicatrizes, depois me beija ali e me abraça. É um abraço desengonçado pois estou deitada no chão, mas é um abraço tão cheio de significado que faz meu peito vibrar.

- Vou sentir falta disso - ele sussurra em meu ouvido e uma lágrima rola em meu rosto.

Depois de NovembroOnde histórias criam vida. Descubra agora