Cativo

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  Alguns poucos meses se passaram desde então, mas foi o suficiente para que eu me desesperasse. Entrei na vida adulta, e aqueles que conheci na jornada me diziam diversas coisas, que eu deveria ter dinheiro, ser responsável, ou ter algum parceiro.

  Por falar em parceiro, conheci ultimamente Atlântico Norte. Engraçado, todos aqui eram tão estranhos, andavam sempre com as cabeças erguidas, se vestiam bem, nunca pareciam estar satisfeitos, e com ela era o mesmo. Ela me aceitou rapidamente, tão rápido que não senti emoção alguma vindo dela, mas resolvi me empenhar em muda-la. E assim, nosso tempo passava, ela sempre me incentivando a ganhar cada vez mais. Ela queria de tudo, porém, nunca queria nada. Eu obedecia a suas vontades, e quando tinha uma chance tentava conversar profundamente, mas essas águas eram fundas demais, inalcançáveis, inacessível. Sim, estava cativo de sua luxuria. Deve ser por que há algum tempo estou precisando de alguém. Desculpe-me Pacifico Sul, ainda não consigo me amar.

  Como se não soubesse nadar, me afogava. Eu sei nadar? Isso não importa, estou asfixiando a mim mesmo, me condenando. Este mar exerce uma bruta pressão contra meu barco, meu pequeno e trincado barco. Quero me libertar, mas sou impotente, depressivo, deixo de gostar dos prazeres e das alegrias. Ela percebe isso, percebe que não sorrio em nossas gravuras, que não digo "Te amo'' toda noite. E então, ela me descarta me joga de volta na correnteza, mas claro, não antes de me tirar muito. Ela é assim e nunca irá mudar, é mar de um fluxo só, ou ela ruma ao sul, ou ruma ao norte, mas nunca aceita mudar de direção.

  Eu saio daquele ambiente hostil, mas saio ensinado. Ensinado de que não se muda alguém com palavras e dificilmente com ações, não em pouco tempo. Estou cansado, acho que voltarei a navegar.   

Os Sete AmaresOnde histórias criam vida. Descubra agora