Era Uma Vez...

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Não houve um desvio de olhar, uma respiração descontrolada e o ar parecia ter parado em torno delas. Avançando rápido a mulher tentou um soco no rosto de Ran, que simplesmente se virou e acertou uma costela desprotegida, seu punho foi parado após atingir o objetivo e ela levou uma cotovelada no queixo, seu lábio foi cortado porém antes de registrar isso, ela torceu o punho saindo do agarre, suas mãos agarraram a jaqueta de Carmem a jogando longe, enquanto sua perna a passava uma rasteira, as mulheres estavam brigando de maneira possessiva. Saltando sobre seus pés, a mais velha atingiu uma das pernas de Ran antes que ela pudesse reagir, seus olhos brilharam em vermelho e ela queria arrancar pedaços por vez da oponente. Seu equilíbrio treinado a permitiu se recuperar mas não antes de sentir um soco na boca do estômago. Raiva estava borbulhando por trás de suas íris. Com um impulso moderado ela saltou sobre o joelho de Carmem a fazendo se curvar enquanto seu punho atingia com toda a força sua mandíbula, zonza a mulher rastejou para longe do alcance de Ranielle.

~~ * ~~

Era uma vez, nada! Essa coisa de "Era uma vez", já está batida e clichê, também não dá pra dizer que "Foi numa galáxia distante", porque foi alí... bem perto, quase tanto que dá pra se alcançar com os dedos... Ok, eu sei que vocês querem saber o que deu em mim começar a escrever essa história? Bem... sabe quando você sente que precisa passar algo em diante? Fazer as pessoas te lerem, se identificarem e passarem menos mal pelos problemas que tu passou? Ah... não é o meu caso, eu só senti vontade de escrever mesmo. Acho que foi ficar tanto tempo enclausurada dentro de mim mesma quando saímos à vontade maior, além de arrancar cabeças, é contar ao mundo o que tu és. Bem... antes de mais nada, eu sou uma lobisomem. E a minha história começa na data do meu nascimento.

Há algum tempo atrás, num lugar à meia distância, ok... é bem distante: o distrito de Beirão em Portugal... Lá é um lugar famoso e adivinha porque? Acertou quem disse que a cidadezinha é, de fato, um lugar extremamente propício para o que eu sou. Exatamente, Lobisomens. Estamos por toda parte e humanos normais nunca nos identificam. O porque disso eu não sei mas acho que vocês só podem ser cegos. Enfim... Um jovem casal teve uma filha, uma menina diferente de tudo o que já tinha se visto e seu nome era Ranielle, ela já nascera com os olhos vermelhos, injetados com sangue vivo que parecia fluir por baixo da íris, cabelos cacheados mel, pele morena clara e bochechas rosadas.

Isso aí, eu falo de mim em terceira pessoa e tenho alterações de consciência, alguém vai encarar?

A menina ao chegar ao terceiro ano, já não apresentava nem sombra dos olhos vermelhos em seu estado normal de espírito e vão por mim, vocês vão entender essa parte daqui a pouco, a única marca que perdeu, pois os cabelos ainda continuam claros e a pele também. Talvez as bochechas tenham deixado de ser rosadas mas isso não importa. A beleza dela era interessante, intrigante... Cresceu como uma garota normal, até o sétimo ano de idade, quando os membros mirins da família são 'iniciados' nas atividades familiares. Para um mero mortal, é complicado entender o que seria ser iniciado, pois bem... Uma das características marcantes de ser um lobisomem é a sede de sangue, é, sim e não... não sangue humano, essa sede na realidade é de exterminar as vidas, e, no caso dos hábitos da minha família, caçamos animais como Antas, Pacas, Coelhos, Tatus, Jacarés, Cotias e Lobos do Mato. É, caçar parentes era proibido mas o tio Herman mudou isso.

Os meus favoritos são antas e jacarés, pela dificuldade de matá-los. Nunca se consegue pegar uma anta se estiver sozinho, elas correm até setenta quilômetros por hora e tem a força de três homens, além de escoicear como cavalos. Jacarés são relativamente mais fáceis... Tu até consegue matá-lo só... o problema é carregar a carcaça pra fora d'água. Ficou curioso pra saber como se matam antas? Simples, tu tem de estar num grupo de três, farejá-la e seguir seu rastro montanha e mata dentro, sem dar um piu. Depois quando encontrada, tu tem de ficar em posições de ataque furtivo. Três de nós, derrubam uma anta em menos de vinte segundos. E... a pele dela, não se perfura nem com balas de revólver calibre 20 ou 38, acreditem eu já tentei. Tem de posicionar um no flanco esquerdo, dois no fronte, os do fronte, tem a responsabilidade de sagrá-la pela jugular, com faca ou facão bem amolado (Que provavelmente terá de ser novamente amolado depois do ataque), fazê-la perder a consciência é muito bom também, se for de montaria, peão treinado como meu primo, tu pode tentar asfixiá-la, pra depois fatiar, mas, como eu não sou, vou pelo básico. Um sangra a jugular, o outro de fronte, corta a junta das patas dianteiras... Aviso, nunca cace com o meu irmão, ele é perito em cortar uma só... e ela corre mancando. O do flanco traseiro, faz a vez de cortar a femural. Quanto mais sangue sái, mais rápido ela morre! A carne dela é muito saborosa, mas, nada supera jacaré ao molho de morango e uvas. Só a minha tia sabe preparar.

Sombras da Lua - Livro 1 [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora