Liz

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Observo o fim de tarde chuvoso pela janela, às folhas das árvores balançam incessantes com os pingos de chuva raivosos do início de verão. O vento forte sacode como se quisesse bater o pó das folhas. Lembro-me da casinha de passarinhos que meus filhos estão encantados do outro lado da rua. Como deve ser difícil para mamãe passarinho proteger seus filhos da fúria da natureza. Um tufão de evento embaralha meu cabelo, espalhando-o por todo o meu rosto. Fecho a janela e vou fazer um café enquanto espero as crianças acordarem. Meu marido foi embora na van do patrocinador pela manhã bem cedo. Ainda nem sei como vou suportar esses dias sem ele aqui, mas pelo bem das crianças vou continuar nossa rotina.

Preparo meu café, sento-me na poltrona no canto da sala, alcanço um livro na mesa de centro e começo a folhear as páginas. A bebida quente termina de aquecer meu corpo, que mesmo com meias e moletom não está quente o suficiente. A lembrança do abraço do meu marido me faz sorrir, abraçá-lo é tão reconfortante, é como se eu me reconectasse com minha outra metade, o que falta em mim. Devolvo o livro, pego o celular e resolvo ligar. Desbloqueio a tela e sou recepcionada pelo meu moreno de olhos cor de uísque sorrindo para mim, abraçado com nossos filhos, como protetor de tela. Aperto chamar e aguardo, no segundo toque ele atende.

Minha flor. – Ele fala.

Oi, querido, só queria conferir se você chegou bem. – Só ouvir sua voz aqueceu mais coração do que qualquer roupa que eu pudesse vestir.

Sim, chegamos há algumas horas. Acabei de chegar ao hotel, você iria adorar o lugar, a Big Apple continua linda e alucinante, como sempre. – Ele fala se referindo a Nova Iorque, no fundo sinto uma pontinha de inveja, sempre quis poder viajar para lá e conhecer o Central Park, o Brooklyn e tantos lugares que foram cenários para tantos livros e filmes que já vi.

Que bom, meu amor, aqui está chovendo bastante, fico mais tranquila que você já tenha chegado.

Estou bem. Me conte das crianças? Já estou com saudades.

Estão no cochilo da tarde. Eles ficaram muito manhosos depois que você saiu. – Digo me referindo ao chororó do Arthur procurando o pai pela casa. Foi de partir o coração, mas não preciso informá-lo disso, não quero deixá-lo se sentindo culpado.

Liz, vou fazer o check-in no hotel, assim que me alojar no quarto eu volto a ligar.

Claro, me desculpe atrapalhar.

Não atrapalhou, foi bom falar com você. Te amo.

Também te amo. – Me despeço e ouço-o encerrar a ligação.

Serão longos dias, preciso focar em outras coisas que não me faça pensar que o homem da minha vida está a milhares de quilômetros, rodeado de americanas lindas e muitas fãs. Termino meu café, quando estou levando a caneca para cozinha ouço a companhia tocar. Apoio à louça na pia e vou atender a porta, por segurança olho primeiro pelo olho mágico e me deparo com um par de olhos verdes conhecidos. Thiago.

Abro a porta sorrindo para a visita inesperada.

Oi. – Ele fala com um sorriso de canto de boca.

Thiago continua muito bonito no estilo homem de negócios. Com cerca de 1,90 de pura testosterona, mantém ombros largos, quadril estreito e pernas longas dentro de um belo terno cinza chumbo sem gravata, a barba rala por fazer dá-lhe um ar mais descontraído, e os olhos verdes dóceis dão-lhe um pouco de humanidade. Ele realmente é um bom pedaço de homem. Mas sempre me fez perguntar o porquê ele está sempre sozinho, em todo esse tempo apenas duas vezes o vi na companhia de mulheres, a primeira vez foi no meu aniversário há um ano, e da outra vez foi em um jantar de comemoração a recuperação do Sr. Augusto. As duas moças eram morenas e lindíssimas a seu modo, tenho a impressão que ele tem preferência pelas morenas. Sempre tive a suspeita de que ele e Cris tivessem se envolvido em uma de suas visitas, mas ela sempre negou e deixou claro que se sentiu atraída pelo Guilherme, mas simplesmente não aconteceu.

Azul Tormenta (Livro 2 Série Cores) SEM REVISÃOWhere stories live. Discover now