(A)MAR

Transbordar um "desconhecido".

*Pov Day*

Sorri feito uma imbecil com o comentário da Biazin e comecei a digitar:

"A voz da Carol é simplesmente linda. Se eu falar que não fiquei besta, estou mentindo. Fiquei realizada com nossas vozes juntas hahaha. Quero replay, bora @carolbiiazin? 💜"

Enviei e dormi com o celular no rosto. Acordei com o apito do mesmo. Como não era o despertador, resolvi dar uma olhada: @carolbiiazin curtiu seu comentário. @carolbiiazin respondeu: boraaaa!
Ai. Meu. Deus. Meu coração vai sair do peito. A Caroline é tão fofa e foda! Às vezes faz um carão de quem provou e não gostou, mas de resto, tudo é lindo. O sorriso, a imitação de Janete, os olhos, o cabelo. De hétero eu não tenho nada, e pelo visto ela também não. Se eu não tivesse saído de um relacionamento a pouco tempo e não trabalhássemos juntas, talvez,  só talvez, eu teria deixado aquele beijo rolar. Mas nós somos amigas. Amigas, apenas isso. Por que eu fico tentando misturar as coisas? Isso não tá dando certo.

Deixei os pensamentos de lado quando vi a hora. Estava atrasada. Corri, vesti uma roupa e saí as pressas. Entrei na escola correndo e fui até a sala dos professores. Assim que sentei para comer uma maçã que havia levado, a Carol abre a porta. Sorri. Ela desviou o olhar para o celular e vi seus olhos brilharem. Ela sorria com um pouco de preocupação, mas era um sorriso lindo. Levantei e fui me aproximando aos poucos. Sem ao menos pedir, a puxei para perto e dei-lhe um belo de um abraço.

-- Ei, ruiva! Já estava com saudade. - falei.

-- Quem não sente saudade de mim, não é mesmo?

-- Nossaaaa! Depois dessa vou até para sala. - Fiz um movimento indicando que iria soltá-la do laço.

-- Deixa de coisa, vem cá. - Fez um gesto com as mãos, me chamando para mais perto. Senti seus braços nos meus ombros e sua cabeça relaxando nos mesmos. Quando menos esperava, ela sussurrou:

-- Também estava com saudade, morena. - Me arrepiei toda e ela percebeu. Se afastou e me olhou fixamente. Antes que eu pudesse falar algo, me deu um tapa na bunda e saiu correndo.

-- Vai dar sua aula, Lima!

-- Caroline, volta aqui!

Ela soltou uma risada tão meiga! Uma pena que tudo aquilo durou pouco. Nem entendi o motivo do tapinha, mas deixo para entender depois, eu realmente tinha que ir para sala.

Entrei, dei bom dia aos alunos e comecei a escrever o conteúdo no quadro. Todos ficaram em silêncio até o final. Eram realmente bons alunos e eu uma ótima professora. Fiz umas brincadeirinhas aqui e ali, inventei uns shippers e apelidos. Irritei eles falando em inglês e consequentemente deixando-os sem entender nada. Fiquei séria e dei uma broncas. As aulas passaram voando e fiquei assustada no momento que o sinal tocou indicando o fim da terceira aula. Quando estava arrumando minhas coisas, um aluno, o Bryan - que eu estava shippando muito com a menina Estela -, chegou perto e falou:

-- Ow, professora! Todo dia no recreio, nós fazemos um tipo de musical. Não é nem um pouco profissional, mas vi que o Àlax postou algo sobre você e a professora Carol terem cantado juntas e eu queria saber se vocês topavam cantar conosco.

-- Eu topo! Vou falar com a Carol. Onde te encontro?

-- Aqui, quando estiver faltando 15 minutos para o final do intervalo. - Assenti com a cabeça. - Ei, se tu me shippa com a Esté, te shippo com a Cabi.

-- Cabi? - perguntei.

-- Ca de Carol e Bi de Biazin. Felicidades ao casal.

-- Menino, você nem invente! Eu e "Cabi" - fiz aspas com os dedos -, somos apenas amigas.

-- Sei... - ele se despidiu e saiu andando em direção ao pátio.

Eu fui em busca da Biazin, e adivinha? Dei de cara com ela assim que saí.

-- Ei, tu! Vou ser direta: os alunos nos chamaram para cantar, vamos? - estendi a mão.

-- Deixe de viadagem! Não vou pegar na sua mão, a menos que você insista. Mas vamos sim, partiu!

Como alguém pode gostar tanto de fazer palhaçadas?

"Talvez a gente espere demais do outro e isso nos decepcione, não a pessoa em si. Quando entendemos que nós mesmos nos preenchemos e mesmo assim nos permitimos ser transbordados, o paraíso se torna real. Transbordar é incrivel, mas ser transbordado é melhor ainda. O duvidoso é: alguém que mal conhecemos pode nos fazer explodir de amor? Olha, eu acho que sim."