A descida.

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Fazia uma quarta feira de sol. Uma quarta feira como todas as outras, exceto, por ser essa quarta feira. Às 09:04 da manhã o sol me convidava para uma caminhada, no entanto, sem me avisar ou dar uma margem dos eventos que se sucederiam no restante do dia.

Apesar do sol está raiando fortíssimo lá fora, um súbito arrepio arremeteu-me. Estranhando-o, puxei um pouco mais o cobertor, mesmo falando pra mim mesma que não passaria mais do que cinco minutos na cama. Teria que levantar, pois, as múltiplas tarefas do meu dia não iriam ser feitas sozinhas. Fechei os olhos e fiz uma nota mental das minhas obrigações: Ir ao banco; sair para almoçar com Suzan, amiga de longa data; curtir o dia.

Minhas folgas são as quartas feiras. Então, devo aproveita-las da melhor maneira possível. Trabalho numa multinacional, no ramo de design.  Suzan e eu nos conhecemos desde o ensino médio. Passamos juntas por todas as fases, até o momento. Somos fodidas iguais. Nada de novo no mundo.

Ouvi um latido seguido de um pulo na minha cama. Era Tchai. Meu amor, minha vida. Abri os olhos, e antes mesmo que minha visão focasse nele, o mesmo já estava me lambendo, dando saudações para o meu dia se tornar melhor. Sempre amei animais, principalmente cachorros. E cabras. Nunca consegui compreender o que se passa na cabeça do ser humano que consegue os abandonar, agredir e matar. O Tchai está tão intimamente ligado a mim que o tenho tatuado na pele. No entanto, é algo simplesmente simbólico, pois ele está tatuado, entranhado, no íntimo da minha alma.

- Bom dia, pra você também, garotão. Como você está? -- Saudei-o, como sempre, passando as mãos por seu pelo macio e bem cuidado.

Como se entendesse, e eu creio que entende, ele abanou o rabo. Tchai é um cão de grande porte, sua linhagem é russa, e seu latido, alto. Reverberando assim por todo o andar do nosso prédio. Causa da nossa última reunião de condomínio, onde pessoas mal amadas reclamaram do latido do meu bebê.

Mais latidos do Tchai pra eles.

- Você é a coisa mais linda da minha vida. Eu te amo, garotão! -- Disse, enchendo ele de beijos. -- Me espera aqui enquanto a mamãe se arruma pra tomar café? -- Mais uma vez, como se me entendesse, ele abanou a cauda.

Joguei o cobertor para o lado e fiz aquilo que mais me dói: Levantei da cama e encarei o dia. Caminhei até a janela que estava esvoaçante, mas antes, tropecei em um salto que estava jogado pelo chao. Chutei-o para o lado e prossegui até a janela, abrindo-a um pouco mais, olhando lá para baixo, na altura do meu quinto andar, na famosa avenida West Said, em Nova York. Lá embaixo, pessoas caminhavam apressadas, loucas para chegarem no trabalho, carros mudavam de vias para se livrarem do trânsito, viaturas policiais e ambulâncias acionando suas sirenes para, em busca de um ato de heroico--ou apenas tentando driblar o trânsito com o estigma dos seus carros, uniformes e posições sociais--, tentavam ultrapassar os carros dito cujos, normais. Tudo isso antes das 10 da manhã.

Como hoje é minha folga, acho cedo. Porém, quando estou no trabalho, já é praticamente um dia vivido. Mesmo sendo postergado para mais horas. Ouvi um rosnardo que me tirou do transe e olhei para a cama onde Tchai estava mordendo uma bola que provavelmente encontrou perdida pelo meu quarto. Aliás, preciso limpar esse apartamento. Daqui a pouco nem eu me acho aqui.

Minutos depois, após um banho tomado e energia revitalizada, ou não, estava na cozinha preparando aquilo que me mantém sã: Café.
Dizem que devemos ingerir no mínimo 4 xícaras de café por dia. Sorri sabendo que estou seguindo a recomendação da ONS. Aliás, já seguia antes mesmo dela recomendar, que fique claro.

Um bip soou no silêncio e verifiquei que ele estava pronto. Servi-me e comecei a toma-lo seguido de uma fatia de bolo. Não pensem que sou uma pessoa com dotes caseiros. O bolo foi comprando ontem a noite na padaria. Devemos dar os créditos para seus respectivos donos e, por sinal, o confeiteiro está de parabéns.

A Amada De Dean WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora