Impulso.

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Kylo acordou. Olhou a hora no relógio ao lado da cama de Hux. O horário de recolher terminaria dali a uma hora. Mas não queria mais dormir, queria ir para seu próprio quarto. Levantou com cuidado e se trocou sem fazer barulho, não queria acordar seu companheiro daquela noite. Se retirou e foi rumo aos seus aposentos. Os quartos de alta patente da primeira ordem eram todos similares: Escuros, extremamente limpos, com uma cama ampla de casal. A de Ren um pouco maior devido a sua altura. O banheiro ficava a esquerda no final do quarto. Poucas particularidades eram diferentes, o quarto de Hux tinha uma mesinha para trabalho cheio de computadores e painéis eletrônicos. Já o de Kylo tinha uma mesa simples com papel e um tinteiro, pois as vezes ele gostava de escrever.

Ali, finalmente sozinho, tomou outro banho para esclarecer as ideias, vestiu apenas uma calça preta e foi para o canto de seu aposento, onde ele mantinha um colchonete, também de cor negra, para meditação. Sentou-se de pernas cruzadas e respirou. A força se ampliava dentro dele, fazendo-o ver em volta de toda a nave; mas espere, ele sentia outra presença, uma força tão poderosa quanto a dele, porém coberta de luz. Era Rey. Ele reconhecia aquela energia de qualquer lugar. Já havia tido outras ligações com ela, não importasse onde Rey estivesse, a força dava um jeito de conectá-los. E esse foi o motivo de ter parado de visitar os aposentos do general Hux. Aquela maldita ligação com a sucateira de Jakku.

Ele se levantou ao finalmente vê-la e se virou para ficar de frente pra ela. Rey se encabula ao ver Kylo com o tronco exposto, os músculos trincados a deixam sem reação. Ela pede para que aquilo pudesse ser feito em outro momento, mas ele não se importa. Apenas fala para que ela prossiga com a pergunta. Primeiro Rey encara o chão ainda envergonhada, depois olha pra ele com lágrimas nos olhos e grita:

- Porque você matou o seu pai? Me dê uma resposta honesta.

- Porque o que? Pergunta ele novamente, sem interesse.

- Seu pai se importava muito com você Kylo, porquê?

- Eles são sua fraqueza Rey. – Disse ele determinado, encarando aqueles olhos verdes, se perdendo neles por um instante – Deixe o passado para trás, você procurou ter um pai em Han Solo e agora em Luke. Todos eles vão te decepcionar, assim como fizeram comigo. Só se libertando deles poderá cumprir o seu destino.

Rey agora estava confusa, parecia que Kylo não se arrependia do que fizera, mas havia uma profunda melancolia em seus olhos que ela pôde notar. E então a force bond se fechou sozinha novamente. Kylo era tão alto, tão musculoso, pensou Rey. Seu cabelo negro comprido até o pescoço era magnífico, com uma elegância e uma selvageria que ela jamais vira. Se repreendeu ao perceber que se sentiu quente com esses pensamentos. Estaria ela interessada no inimigo? Achava-o atraente? Se indagou. E em poucos segundos ela sabia que a resposta era sim. Kylo chamava sua atenção, tanto pela sua aparência física quanto pelos seus sentimentos conturbados. Refletiu sobre o que ele lhe disse sobre cumprir o seu destino e se lembrou da caverna abaixo da ilha. Ela seguiu em direção a este lugar. Sabia que o lado negro estava presente, mas ansiava por respostas e aquele lugar parecia lhe dar isso.

**

Kylo se irritou quando a force bond se fechou. Queria olhar mais para Rey. Começou a imaginar como seria o cabelo dela se estivesse solto. Lembrou-se daqueles olhos de esmeralda olhando-o com raiva, mas dessa vez nos últimos segundos ela parecia diferente... Teria ela simpatizado com ele de alguma forma? Devia estar delirando, pensou. Tinha o desejo de tocá-la. Mas será que algum dia poderia? Ela provavelmente só o veria como o monstro que era.

**

Mais dias se passaram e Kylo evitava Hux a todo custo. Esse por sua vez, as vezes dava investidas em Ren. Mas ele desviava, realmente não queria mais aquilo. Mesmo que ninguém soubesse, nem mesmo seu supremo líder Snoke. Kylo guardava o segredo a sete chaves na sua mente. Treinamentos, rotina, planejamentos de batalha. Nada, absolutamente nada tirava a menina Rey de seus pensamentos. Quando menos esperava ela estava ali, invadindo sua mente. Uma tensão forte crescia dentro dele e não havia coisa alguma que o fizesse relaxar. Num impulso, recorreu mais uma vez, a quem poderia ajudá-lo. Estava andando no corredor, no meio do “dia”. Os corredores estavam movimentados, Hux estava atarefado, mas Ren não aguentava mais aquela agonia. Saciaria sua vontade, mesmo que fosse com ele. Então de supetão, empurrou Hux para o canto do corredor, encostando-o na parede com violência.

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