Prólogo

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Era a segunda vez que ele passava pela avenida.

Os olhos atentos procuravam com total dedicação àquelas que em breve estariam juntas a ele, servindo-lhe a um propósito muito além dos prazeres da carne. Embora aquela parte da cidade fosse bastante conhecida e movimentada por ser um dos maiores e melhores centros de prostituição, não era atrás disso que o homem estava, ao menos, não nessa noite.

Algumas das belas mulheres que se exibiam repletas de sorrisos, poses e seduções, enquanto ele passava com o vidro do carro baixo pela metade, eram ideais para os seus planos. Avaliaria somente mais uma vez os espécimes antes de recolher a sua primeira amostra. Não havia um critério específico para a escolha, mas ele tendia a preferir as mais belas e as que de alguma forma chamasse sua atenção por ter um diferencial. Girou o volante e deu mais uma volta na quadra.

Enquanto o carro seguia vagarosamente pelo asfalto, ele pensava em como seriam as próximas horas e, mesmo que não tivesse qualquer dúvida de que iria com aquilo até o fim, não podia deixar de se sentir ansioso. Já havia feito, ao longo dos seus quarenta anos de vida, muitas coisas inapropriadas e até mesmo perigosas, mas o que faria naquela noite superaria qualquer experiência que os seus cabelos brancos já haviam testemunhado.

Estava de volta à parte onde ficavam as garotas e estacionou próximo à esquina onde três belas mulheres conversavam e não demoraram a percebê-lo. Sem demorar muito, desceu por completo o vidro do passageiro e olhou fixamente para a que estava com um belo vestido vermelho, bem justo ao corpo e que pouco cobria a pele. O decote no meio do busto permitia que muito dos seus fartos seios fossem apreciados, assim como o cumprimento da peça permitia que suas pernas ficassem quase por completo à mostra. As outras duas, que a incentivaram a ir até o potencial cliente, eram igualmente belas, mas os longos cabelos loiros, embora não fossem naturais, chamaram a atenção do homem.

— Pensei que você não iria parar essa noite, querido! — ela falou em uma voz doce, movendo os lábios vermelhos de forma expressiva, entonando com uma boa dicção cada palavra. — Como posso tornar a sua noite mais divertida? — indagou, olhando-o diretamente nos olhos, apoiando ambos os braços na porta do carro de alto valor, permitindo que o homem tivesse uma visão ainda melhor dos seus seios.

— Tenho uma ideia do que podemos fazer, boneca! — ele respondeu de prontidão, destravando o carro. — Entre aí — ordenou usando um tom empolgado. De fato, estava bem animado, mas não pelos motivos que a mulher estava imaginando. Fazendo como fizera inúmeras vezes em noites anteriores, a loira abriu a porta do carro e antes de entrar olhou para trás, lançando um beijo no ar para as companheiras em uma brincadeira interna entre elas, que sempre se vangloriavam quando conseguiam um cliente que certamente lhes renderia um bom dinheiro num único programa.

Tão logo o carro começou a distanciar-se novamente, a loira levou a mão até a perna do homem ao seu lado, acariciando-a com suas longas unhas pintadas de um tom forte de rosa.

— Para onde vamos, querido? — indagou, sorrindo largamente.

— Logo você verá, boneca. E tenho certeza que essa noite vai ser inesquecível — ele disse olhando-a brevemente, conferindo que ela era de fato uma bela mulher.

— Farei o possível para que você não se esqueça de mim, meu bem! — estava acostumada a usar esse tipo de frases, afinal, era o que os seus clientes geralmente procuravam ouvir e mesmo que aquele homem a tratasse apenas como um pedaço de carne ou uma boneca, como ele já a chamara várias vezes até então, aquele era o seu trabalho.

— O que eu quis dizer foi que essa noite será inesquecível para você, boneca! — ele novamente olhava para ela, mas agora havia um sorriso débil em seu rosto que de imediato assustou a garota de programa. Involuntariamente ela desfez o seu próprio sorriso largo. O homem estendeu a mão direita até o rosto da loira depois de acelerar mais o veículo. Seus dedos lhe acariciaram a pele e percorreram até o seu pescoço, posicionando-se ali. — Poderia lhe dizer que sinto muito por isso, mas eu realmente não sinto! — antes que a mulher pudesse compreender o que ele estava querendo dizer com aquelas palavras, o homem usou toda a sua força para lançar a cabeça da loira contra o painel do carro, batendo três vezes seguidas seu belo rosto contra a superfície dura, até ela desmaiar. — Ainda bem que se despediu de suas amigas, porque essa será uma viagem da qual você não voltará, boneca!

Aurora - Poder de Sangue - Vol. IOnde histórias criam vida. Descubra agora