Enquanto caminhava com o corpo praticamente colocado no muro da casa, Thaynara sentia o coração bater mais forte em um ritmo acelerado. Lembrou-se de um filme, entre tantos que Paloma a fazia assistir — a amiga era viciada nisso —, onde os agentes de alguma organização de espionagem faziam algo semelhante ao que estava fazendo naquele momento. Contudo, as roupas deles eram pretas e usavam gorros que lhe cobriam completamente a cabeça, além de óculos especiais e luvas. Ela, por outro lado, decidira tentar uma abordagem diferente. Não possuía em seu guarda roupa o necessário para se disfarçar de agente secreto, mas tinha o suficiente para esconder a sua verdadeira identidade ou, no mínimo, disfarçar.
Os cabelos foram cobertos por uma peruca de fios roxos e curtos, até a altura do pescoço. Os olhos castanhos foram coloridos com lentes de contato violeta, que, além de deixá-los mais brilhantes, lhe auxiliavam contra a miopia que tinha desde a infância. Nos pés ela calçou uma de suas botas mais confortáveis de cano curto, não usando nenhuma de duas saias naquela noite e, sim, uma calça branca de um tecido que ela não sabia o nome, mas excelente para correr e se abaixar, pois, apesar de colada no corpo, era maleável, permitindo longas aberturas. O único problema, além da cor, era que a calça não combinava com nenhuma outra peça que não fosse branca, então optou por um body da mesma cor. Para amenizar, Aurora, pois agora ela já não se sentia apenas Thaynara, colocou uma jaqueta preta por cima e as luvas que costumava usar na academia, também negras e de couro. Paloma, quando a viu antes de sair de casa, disse que ela estava uma mistura de dançarina de boate e animadora de festa, o que a incomodou um pouco, mas não podia, e nem iria, desistir.
Agora ela estava perto da entrada da casa luxuosa que já havia visitado com a amiga na noite anterior. Fechou os olhos por alguns segundos, tentando se concentrar nos seus poderes. Precisava manipular os seguranças para lhe dar acesso à residência e usaria o controle de auras para isso! De todas as vertentes do seu poder, aquela era a que ela mais tinha domínio. Durante sua vida, experimentara usar os dons de diversas formas e, embora conseguisse utilizá-los de forma ofensiva e defensiva, não acreditava que ele fosse forte o suficiente para torná-la a próxima Tupi Azul, aquele herói que foi símbolo de paz em Minas Gerais nos anos oitenta, segundo as histórias que o seu pai lhe contava quando ela era criança.
Deu mais dois passos em direção ao portão, quando sentiu seu celular vibrar. Parou e retrocedeu para o muro, abrindo a bolsa e pegando o aparelho no meio das pistolas. Viu o número do investigador no visor do celular e pensou se deveria atendê-lo ou não.
— Pronto! — falou logo que atendeu, quase sussurrando. Tinha esperanças que ele tivesse alguma novidade sobre o paradeiro de Roberta e quem sabe ela não precisasse fazer nada daquilo. Não queria ser mandada para a penitenciária São Silva, que era aonde provavelmente ela iria acabar parando por causa dos seus poderes.
— Thaynara? — ela notou que a voz dele estava carregada de pesar e, sem conseguir controlar, sentiu lágrimas vindo aos seus olhos, prevendo as palavras que viriam a seguir. — Aqui é o investigador Fernando... — ele parecia escolher as palavras certas. — Um dos nossos policiais encontrou um corpo em um terreno abandonado, o qual identificamos pelas digitais como sendo o de Roberta Silva Sá.
Thaynara sentiu-se tonta e teve que se escorar na parede para não cair. A voz do policial parecia distante e ela mal conseguia compreender o que ele dizia; aquela última frase ficou se repetindo em sua cabeça. Ela havia falhado com mais uma amiga.
— Como ela tinha ficha por furto em nossos registros, conseguimos identificá-la. Sinto muito! — ele falava, mas ela só conseguia imaginar o corpo de Roberta, sem vida, abandonado em meio ao lixo. — Ela foi encontrada nas mesmas condições dos outros corpos, sem roupa, com machucados no rosto e, segundo o laudo dos peritos, sem uma gota de sangue.
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Aurora - Poder de Sangue - Vol. I
FantasyThaynara Lima acreditava que poderia ser qualquer coisa nessa vida, exceto uma super-heroína, mesmo sabendo das habilidades fora do comum que possui. Contudo, depois que suas únicas amigas são sequestradas e mortas uma a uma, ela não tem outra opção...