Duas Vezes em Roma

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- Autobus di merda! - gritou Isadora quando o motorista passou direto e nem lhe deu atenção. Claro que ela não estava no ponto, porque acordou atrasada mais uma vez, mas ainda assim, fez sinal esperando um pouco de simpatia para começar o dia bem. Ela passou a mão nas têmporas e massageou-as devagar; sua cabeça doía por conta do excesso de vinho da noite anterior.

Ninguém que passava por ali virou a cabeça ou se incomodou com as palavras ofensivas. Ela estava na cidade há quase cinco meses e já sabia todos os palavrões de tanto escutá-los, afinal, os italianos usavam essas expressões o tempo todo, para qualquer situação e em qualquer ambiente. Mais do que os gestos e o sentimento na hora de falar, Isadora tinha uma certeza: os romanos amavam um palavrão.

Ela riu com o pensamento e espiou pela rua, em busca de outro ônibus. Eles sempre demoravam uma eternidade para passar e quando um se aproximava, mais três ou quatro vinham logo atrás. Era sempre assim.

- Me ne fotto! - disse em voz alta, se conformando com a perda da "carona". Isa achava libertador falar palavrão em voz alta e não ser recriminada. Independente de qualquer coisa, ela amava a Itália e essa liberdade meio maluca de se expressar com palavras.

Já próxima ao ponto de ônibus, ela precisou ficar um pouco afastada devido a fumaça que saía de uma chaminé ambulante vestida da cabeça aos pés de vermelho. Claro que o cheiro do cigarro também a incomodava, mas a sua real preocupação era o quanto aquele gás nocivo ficaria em seu cabelo. Isadora passou os dedos pelo cabelo castanho claro e ondulado. Naquela manhã, ele estava preso em um rabo de cavalo no estilo "saidecasaatrasada", que parecia uma forma de fazer aquele charme bagunçado, mas a verdade é que ela não teve tempo de tomar banho. Pela primeira vez naquele dia, ela se arrependeu de não ter acordado cedo para lavá-lo.

Isa bufou com raiva e puxou a calça jeans, que estava apertada demais, devido aos panini que comia diariamente, e seus 1,64m não ajudavam a distribuir o excesso dos deliciosos sanduíches. Ah, ela estava tão de ressaca, que nem mesmo conseguiu lembrar-se de pegar um casaquinho para cobrir a blusa de mangas curtas, só percebendo que estava um pouco exposta quando um grupo de cinco rapazes chamou a atenção dela na rua.

- Ciao, bella! - gritaram, fazendo algazarra e gestos para pedir o número de seu celular.

Não que os italianos fossem tarados ou algo parecido, eles (principalmente os mais jovens) adoravam brincar com as garotas na rua e, se dessem sorte, até poderiam conseguir o telefone de algumas delas. Geralmente, Isa não ligava para o assédio e às vezes até se divertia com ele, mas naquela manhã ela estava sem paciência, a cabeça ainda doía e os acontecimentos da noite anterior ainda a chateavam.

- Ciao! - ela respondeu mostrando o dedo médio para eles.

Parece que a educação ficou em casa junto com o casaquinho.

Os rapazes nem se importaram e continuaram a brincar com ela, mas depois de algum tempo, e da indiferença de Isa, eles seguiram seu caminho e ela suspirou aliviada.

Na noite anterior, sua melhor amiga havia tentado, novamente, arrumar um namorado para ela. Só que dessa vez o cara cismou que Isa iria dormir com ele naquela mesma noite e insistiu o tempo todo em convidá-la para um "vino a casa mia".

Ela não era uma virgem inocente, não mesmo. Isa só não tinha certeza se estava pronta para conhecer alguém e, muito menos, dividir uma cama; não depois de tudo o que tinha passado. Para piorar, ela bebeu a noite toda e nem se lembrava de como conseguiu voltar para casa. Tinha sido mais uma noite memorável para a sua conta. Quando aquilo iria acabar?

Duas Vezes em RomaOnde histórias criam vida. Descubra agora