Capítulo 4 (Parte 1)

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No caminho para casa, milhões de coisas passaram pela cabeça de Isa. Ela não tinha muita certeza de onde tinha vindo aquela sensação de traição, pois, como Allegra  havia comentado, ela mal conhecia Luca. Mas era como se a culpa a estivesse consumindo de novo e a raiva de si mesma por entrar em uma história que não lhe dizia respeito. Eles eram o casal e ela era a outra. Era bem simples quando se entende o papel de cada um numa situação como aquela.

Ela fechou os olhos e colocou a cabeça para fora da janela. Era uma sorte que não tivessem passado das palavras e dos olhares.

- Provavelmente foi tesão - Allegra comentou.

- O que? - Isa fingiu não ouvir.

- Tesão. Pele. Vontade de se agarrar com ele naquele SUV - a amiga brincou.

Isa fez um muxoxo.

- Cedo demais? - Allegra perguntou, passando um sinal vermelho.

- Eu quero chegar em casa viva - Isa comentou.

- E eu quero chegar em casa rápido.

O celular de Isa avisou que uma nova mensagem de texto havia chegado. Sem ânimo, ela a leu.

Só queria dizer que sinto muito por essa noite.

Luca :(

Isa odiava emoticons. E também estava começando a odiar Luca. Será que ela não tinha sido clara o bastante?

- Algum problema? - Allegra perguntou lendo a expressão irritadiça de Isa.

- Nenhum - ela respondeu, guardando o celular na bolsa. Até parece que ela ia responder.

Alguns minutos depois, Allegra mudou de assunto.

- Você viu o Pietro na festa?

- Não.

- Ele estava lá.

- Hum.

- Com a Gabriella.

Isa finalmente prestou atenção.

- E o que você fez? - perguntou ela.

- Coloquei os dois na melhor mesa possível e ainda pedi que não faltasse champanhe a noite toda.

Isa riu.

- E ele só ficou olhando para você e a ignorou completamente? - perguntou.

- Exatamente - Allegra respondeu animada - foi por isso que demorei um pouco para chegar ao carro no fim da festa, fomos conversar no banheiro do primeiro andar - completou.

- Conversar. Sei.

Allegra passou outro sinal vermelho.

- Não consegui falar muito, entretanto, a língua dele na minha boca foi mesmo um empecilho - ela disse fingindo prestar atenção na rua.

- Você adora esse poder, né?

- Não tenho culpa se sou irresistível - ela respondeu jogando o cabelo para trás.

- Qual é número dele na lista, mesmo?

- 3 - Allegra pensou por um momento antes de responder.

Ela tinha uma lista de 12 homens com os quais já tinha saído, e que não tinha interesse algum em ter um relacionamento sério, mas que, quando ela estivesse a fim, seriam ótimos para uma noite divertida.

Isa achava essa lista muito egoísta e fútil, Allegra dizia que era a melhor maneira de ser feliz com muito pouco. Ela simplesmente não estava interessada em felicidade eterna, ela só queria ser feliz ali, no agora.

Sorte a dela.

- Eles têm direto de querer algo sério também - Isa começou seu discurso habitual.

- Claro que têm, mas se fosse sério ele não teria ido comigo para o andar de cima.

- Teria sim.

- Não teria.

- Claro que teria, Allegra, ele tem 24 anos.

- E isso é desculpa agora? - ela perguntou passando outro sinal vermelho - Amiga, tendo 15, 24 ou 40, se um homem quer mesmo estar com você, pode aparecer a mulher que for, a promotora de eventos mais linda do mundo, mas ele não vai ceder. É simples assim - concluiu.

- Não é tão simples.

- Claro que é, Isa, querer ficar com você, quer dizer abdicar de todas as outras. E eles fazem isso porque sabem que só querem ficar com você - ela disse - a gente faz isso o tempo todo.

- Tá, mas você talvez tenha estragado um relacionamento ótimo para eles. E agora ele continua a ser o 3º da sua lista, nada mudou. Nem para ele e nem para você.

- E quem disse que eu queria que tivesse mudado?

- Ele talvez quisesse.

- Acorda Isadora, o que ele queria ele conseguiu - ela disse virando o rosto para Isa - e sorte a dele que eu também queria.

Pelo resto do caminho, as duas não se olharam ou trocaram qualquer palavra.

Isadora ficou pensando que não queria descontar na amiga sua frustração, mas Allegra às vezes era moderna demais. E Allegra sabia que a amiga só estava chateada com o passado e com o presente, mas os olhares de julgamento de Isa a irritavam profundamente. No fundo, ela sabia que aquela postura que a amiga tinha adotado, de sair, beber e se divertir, era só uma fachada para se proteger, mas ainda, assim, ela não tinha o direito de julgar as atitudes dela. Ninguém tinha.

Chegaram em casa e se despediram com um boa noite seco, típico de duas desconhecidas.

Quando deitaram a cabeça para dormir, porém, Isa pensou na amiga e Allegra também pensou nela. Seu celular informou sobre uma nova mensagem de texto. Ela leu e respondeu.

Allegra

Acho que deixei meu sutiã no restaurante! Só agora percebi hahaha Vadia o bastante pra você?

Isa

Hahahaha de jeito nenhum, se fosse a calcinha eu teria que concordar.

Allegra

opsssssssssssssss

Isa

hahaha Duvido! Não dorme com raiva de mim, tá? O problema é comigo.

Allegra

Se é com você, é comigo também.

Isa preferiu não responder. Levantou-se e foi correndo abraçar a amiga. Afinal, amizade que é amizade é assim, não precisa concordar sobre tudo, não precisa gostar de tudo igual, não precisa nem levar uma vida parecida; amizade que é amizade se faz só no prazer de falar mal de quem quer que seja a garota que estragou a noite de Isa. E foi o que elas fizeram até caírem no sono.

Duas Vezes em RomaOnde histórias criam vida. Descubra agora