Capítilo III: Tres populi, parum iustus.

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O silêncio que pairou no ar após Marco ter interrompido Ruth criou um certo desconforto em ambos, ou talvez só no garoto. Ela parecia absorta em pensamentos.

E se ele prestasse atenção, veria que a ausência de som também vinha pelo fato do álbum do Legião Urbana já ter terminado há alguns minutos.

Decidiu então quebrar o clima começando por uma adequada apresentação entre os dois. Não queria ficar com a impressão da recepção rio-clarense ser péssima.

- Er... Como eu poderia chamar a senhorita? Percebi que ainda não sei o teu nome - disse Marco, já arrependendo-se.

"Talvez essa segunda chance não tenha começado bem, afinal, quem chama jovens de 24 anos de senhorita?" pensou ele, que já encontrava-se com pequenas gotas de suor prontíssimas a descer por seu rosto a uma velocidade semelhante de um carro da Fórmula 1.

Sentiu-se pequeno diante ao olhar que ela lhe lançou, e detestou isso.

A jovem não conseguiu conter uma gargalhada, lembrando que estava acostumada a apresentações mais confiantes. Além disso, o garoto continuava agindo como um bocó.

Para Ruth não fazia muito sentido, afinal, ele era alto e magro. Tinha uma cor de pele amendoada, que se ela não fosse tão orgulhosa de si poderia admitir o quanto era atraente.

Também vestia uma camisa social branca acompanhada de um jeans azul, uma combinação que deveria deixa-lo confiante. Até que era bonito, cabelos pretos bem penteados. E também não parecia ser o tipo característico de amigo que o Lucas têm, além de parecer possuir um leve aspecto de nerd.

- Sou Ruth. Segundo ano de Biologia. E senhorita é a tua mãe. Quando Lucas chegar, converse com ele. Eu espero que você não seja um assassino, durmo com o quarto trancado e se por algum motivo não explicado pelos deuses você consiga entrar, estou sempre preparada - disse ela, que já estava cansada e desejava dormir antes que todos chegassem do show.

Discursou e simplesmente saiu, andando por um pequeno corredor que provavelmente dava ao seu quarto. Bateu a porta.

Marco respirou fundo.

Haviam lhe dito que moravam quatro pessoas ali. Ele só esperava que as outras três não fossem tão perfeitamente receptivas como Ruth.

Virou-se para a porta da sala, certificando-se que estava fechada e foi em busca do seu quarto.

Encontrou sozinho o que seria o quarto dos meninos, devido a evidente bagunça que ali existia.

Era um cômodo espaçoso, não tinha muito o que reclamar. Cabia direitinho a beliche, a cama de solteiro e o gigante guarda roupa embutido. O chão não tinha tapetes, e sim um piso branco salpicado de roupas, calçados jogados, e algumas latinhas de cerveja.

"Nada que não possa ser arrumado", pensou.

As paredes tinham um leve tom esverdeado e havia uma janela: não muito grande, não muito pequena. Mas revelava uma pequena e boa visão do céu. Marco já se imaginou deitado na cama olhando para lá.

As vezes ele comparava o céu ao oceano. E até que fazia sentido. Os dois encontravam-se em tons semelhantes, e o mar podia ser considerado como o espelho do outro: Qui diligit Oceanum, também pode amar o céu.

E se não fosse possível levar as águas consigo, era só olhar para cima que estava levando o reflexo do que amava com ele.

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