u m d e s a b a f o

82 40 12
                                    

às vezes eu não me sinto.
não me sinto bem,
não me sinto disposta,
não me sinto capaz.

e qualquer coisa que me aflige
me faz querer parar.
parar de sentir,
parar de tentar estar bem,
parar de tentar ser capaz.

às vezes sinto descrença no oxigênio,
esse que me promete vida.
esse que diz acabar com o venoso do meu sangue...
sangue esse, que sai da epiderme como um suplício.

e meu corpo grita enquanto eu recordo as mentiras,
por dentro não tenho nada além do vazio torpor.
ainda disseram-me para não comentar a morte;
pediram-me cautela com a vida.

disseram-me que passaria...
eu não gosto de esperar, porém.
enquanto tudo que eu faço, toco, tento, ouso
vira areia ou lágrimas.

não é homogêneo
não é natural
não traz vida
não é fácil de enxergar.

é em vão
qualquer coisa quente
que toque minha pele fria e morta
com o propósito de passar-me energia.

é em vão
qualquer coisa reparadora
que tente juntar os pedaços
do que eu sou hoje espelhando-se no que eu fui um dia.

é em vão
qualquer arrependimento
de não ter dito ou se importado.

é em vão
qualquer luto.
porque o que se foi,
não volta mais.

•••

atenciosamente,
eu.

Ditados RefratáriosOnde histórias criam vida. Descubra agora