Passos

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O pianista se sentiu incrivelmente bem no dia seguinte. A presença do bailarino havia feito bem para si... Como se sua irmã tivesse voltado. Sabia que ele não era sua irmã... Mas mesmo assim... Sentia uma familiaridade nele. Como se... Os passos dele espelhassem os de sua irmã.

Não foi ao trabalho. Tudo o que queria era ver aquele bailarino. Mas algo lhe dizia que apenas à noite conseguiria vê-lo. Até mesmo havia sonhado com ele...

"...Meu nome é Kim Taehyung."

Não poderia confiar em apenas um sonho. Mas parecera tão real... Tocar a pele nua e bronzeada do bailarino... Observar avidamente seu corpo suave e delicado... Sentir o calor dos lábios dele...

Balançou a cabeça antes que deixasse isso lhe subir à mente. Mas era tarde; seu rosto estava tão vermelho quanto a aurora. Pensar nisso o deixou atônito: a aurora estava começando a despontar no horizonte, uma faísca de luz dourada cortando a escuridão perversa e profunda que era aquela fria noite de outono. E bem que diziam que a aurora pouco antes do nascer do sol sempre era a mais escura...

Essa frase não poderia estar mais certa.

Uma nuvem de vapor condensado saiu de seus lábios quando soltou um suspiro. Normalmente quem lhe acordava era a irmã. E pensar que jamais ouviria a voz carregada de carinho dela novamente... Era repulsivo para si pensar em como alguém conseguia tirar a vida inocente de uma criança. Esse homem merecia o pior dos destinos. Pior que a própria morte.

Sentiu um arrepio lhe subir a espinha, e jurou ter sentido uma presença familiar em seu quarto. Porém era só sua mente lhe pregando peças... Morava sozinho. Agora que a irmã se fora por um motivo injusto.

O dia se prosseguiu de maneira lenta. A falta da irmã, a curiosidade sobre o bailarino, as cenas de seu sonho... Tudo estava o torturando. Não conseguia evitar o rubor quando se lembrava da sensação fantasma de tocar aquele corpo maravilhoso. Mas ao mesmo tempo era impossível para si negar que se sentiu atraído pelo bailarino. Era como se ele o chamasse...

"... Meu nome é Kim Taehyung."

Ah, aquela voz! Grave, rouca, sexy... Ainda mais por ter sido proferida por lábios tão convidativos...

... E não havia hesitado em atender a esse convite.

Devagar, se permitiu lembrar do sonho, mesmo que tivesse sido apenas fruto de uma mente perturbada e caótica. O rubor subia à sua face a cada vez que se lembrava daquilo... A sensação dos lençóis lisos e suaves da cama em que estavam... Aqueles lábios macios e com um leve sabor de mel... A maneira com que seus corpos nus se encaixavam perfeitamente, de modo com que nenhum espaço sobrava... Tudo era perfeito. O momento, o sonho, o garoto. Tudo estava absolutamente numa calmaria... De emoções.

Nem notou a noite chegando. Apenas teve noção que o tempo passava pela luz que o sol emitia lá fora. Estava aturdido em seus próprios pensamentos...

Quando a noite caiu, estranhou a escuridão repentina. O bairro em que morava estava vazio à essa altura, porém... Tudo parecia incrivelmente morto.

Memória de sua irmã.

Em pouco tempo, se viu chorando no canto do piano velho e empoeirado da antiga mansão dos Kim. Não se lembrava de ter chegado ali... Mas quem ligava? Sua irmã não estava ali consigo para lhe ajudar mais... O mundo era realmente uma droga...

E do nada, escutou.

Não os sons da noite.

Uma melodia melancólica de piano.

Gelou até os ossos ao reconhecer a música: era a mesma que estivera tocando no dia anterior. A que o bailarino havia dançado.

Ergueu os olhos num tremor gélido, e lá estava.

Olhos azuis, suave sorriso. Envolto em névoa azul clara brilhante. O bailarino.

O piano estava simplesmente tocando sozinho, mas não se importava com aquilo, mesmo que não estivesse dentro de sua concepção de "real"; cada segundo passado com o bailarino parecia surreal para si.

- Você... De novo... - murmurou baixinho para ele, que sorriu para si. - Como se chama?

O bailarino nada disse. Apenas continuou dançando e sorrindo, parecendo inebriado pela fumaça que o envolvia como um turbilhão rodopiante, acompanhando os próprios movimentos.

- Kim Taehyung. - o pianista sussurrou baixinho, sem certeza. De repente, o ar ficou pesado, e tudo pareceu se intensificar: o som do piano, a velocidade da música, a dança do bailarino... E sua beleza.

Em toda a vida, nunca havia visto um ser tão deslumbrante. Sentindo uma dormência no corpo, observou o bailarino se aproximar, sorrindo, e se abaixar perto de si.

- Sim. - ele lhe disse, com a mesma voz grave e sexy com que o pianista havia sonhado e desejado. - Sim.

O toque do bailarino era gélido, porém suave. O pianista sentiu arrepios de frio e prazer quando o garoto subiu os dedos pelos seus braços, demoraram-se em seu pescoço, e descansaram sobre seu rosto. Uma sensação de sonolência o atingiu em cheio quando o bailarino se aproximou ainda mais de si, ficando a poucos centímetros.

Corou quando percebeu que o bailarino não usava roupa alguma senão um leve tecido azul. Com um leve movimento dos ombros, o bailarino deixou o tecido cair em seu colo, ficando praticamente despido.

Acomodou-se no colo do pianista, que já nem se importava com o fato de não conhecer o bailarino. Só queria afundar seus lábios naquela pele aveludada e fria... As mãos tiveram o prazer de subirem pelas pernas, cintura, braços, rosto do bailarino... Ah, aquilo era tão maravilhoso...

- Min Yoongi... - o bailarino sussurrou. O pianista não ligou para o fato do garoto saber seu nome; queria apenas aquele corpo junto ao seu...

Não impediu o garoto de retirar sua camisa. Sentia cada botão saindo do encaixe, e quando sentiu as mãos frias dele em seu peito nu, soltou um suspiro de prazer.

O puxou contra si violentamente, arrancando um som da boca do bailarino. Sorriu com o som e finalmente fez o que tanto desejou: afundou os lábios no pescoço do bailarino. Um gemido de prazer escapou dos lábios dele.

Apagou. Simplesmente apagou.

Não se lembrava praticamente de nada da noite anterior... Mas os toques do bailarino ainda estavam vívidos em sua pele. Sorriu idiota ao lembrar dos sons que ele havia soltado, mas corou ao ver que ainda estava sem a maioria de suas roupas. Na verdade, nem lembrava de tê-las tirado. As vestiu rapidamente, surpreso ao notar que já era dia novamente.

Quando foi para casa, resolveu tomar um banho para tirar a poeira daquela casa do corpo. Foi quando retirou novamente a camisa que percebeu.

Na curva de seu pescoço.

Um pequeno "KTH", em letras aglomeradas.

Queimado em sua pele.

The PianistOnde histórias criam vida. Descubra agora