A escola

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 Segunda-feira 5 e meia da manhã, e eu lá na minha cama pensando, por que meus pais tinham ido morar tão longe? O pessoal da escola morava perto, e eu morava tão longe, que tinha que acordar mais cedo que todo mundo e ainda pegar um ônibus para chegar até a escola.

 Minha mãe entrava no trabalho ás seis horas, todos os  dias me acordava, enquanto lá estava eu na cama pensando na minha grande sorte de morar longe da escola, fui trazida de volta dos meus pensamentos pela minha mãe que falava brava.

 - Valentina levanta, porque o ônibus não vai te esperar no ponto menina! -disse Marina

 - Já vou mãe! -disse Valentina 

  Marina foi até a sala onde a filha dormia, lhe deu um beijo e disse.

- Para de sonhar Tina e levanta se não você vai perder a hora.

 Concordei com a minha mãe, me despedi dela e enquanto  me arrumava fiquei pensando, como ela era guerreira e batalhadora. Minha mãe trabalhava 12 horas por dia para nos dar uma vida melhor. Meu pai já estava aposentado, mas ganhava tão pouco e ainda gastava esse pouco com bebida. Então o esforço da minha mãe era dobrado, ela cuidava da construção da casa, dos gastos da casa e mantinha os filhos estudando em escola fora do bairro, porque o ensino das escolas que tinham perto da minha casa era muito fraco e minha mãe sempre dizia que queria um futuro diferente do dela para os filhos.

 Acabei de me arrumar e fui para a escola, que para mim era um lugar terrível. Eu era boa em todas as matérias, mas o pior eram os alunos. As meninas da minha idade só falavam de meninos, que tinham ficado, beijado que tinham saído. Eu no meio disso tudo ainda tinha que tentar me enturmar,  fingir que era a que saía e que beijava todo mundo. Isso me deixava triste, fingir ser o que não era, mas o pessoal da escola não poderia saber que eu ainda não tinha ficado com ninguém. Imagina se alguém descobrisse a vergonha que eu iria passar, então para mim o melhor era mentir. 

 Em toda a sala eu só tinha uma amiga em quem eu podia confiar, a Patrícia, ela me entendia como eu era e não me fazia perguntas sobre meninos. Nós falávamos de tudo e fazíamos tudo juntas, só nós duas. Era a única pessoa que eu podia confiar, e só ela sabia que eu tinha uma paixão secreta por um menino da sala o Felipe.

 O Felipe era lindo e simpático, estava sempre conversando com a gente, ele dizia que na sala nós éramos as únicas amigas dele. Amiga, não era bem isso que eu queria, mas só de ter ele perto me dava uma alegria imensa e quem sabe um dia ele não olhasse pra mim de um jeito diferente. Só os dois, minha amiga e minha paixão, me davam forças pra enfrentar aquele lugar terrível que o povo chamava de escola.

 - Oi Tina, tudo bom amiga! -disse Patrícia abraçando com carinho a amiga 

 Cheguei na escola correndo, quase atrasada, o ônibus tinha demorado quase um ano pra chegar.

 - Oi Pati, que saudade, como foi seu fim de semana? - disse Valentina, subindo as escadas para ir para a sala 

 - Foi ótimo, saí com o meu pai, nós fomos para o sítio da minha avó, me diverti muito, e o seu como foi?

 Como eu ia falar do meu fim de semana, eu não  fiz nada e não fui pra lugar nenhum, os pais da Patrícia eram separados e cada fim de semana ela ia pra um lugar diferente. Mas eu, como ia sair, minha mãe sempre trabalhando e o meu pai sempre bebendo, não saia nem pra tomar sorvete. A única resposta que eu dei foi essa.

 - Foi do mesmo jeito!

 Quando chegamos na classe, lá estava o colírio dos meus olhos, o Felipe. E com aquele sorriso que derretia o meu coração, ele veio nos cumprimentar.

 - Bom dia meninas! -disse Felipe 

 - Bom dia Fê! -disse Patrícia 

 Eu não sei o que aconteceu comigo naquela hora, mas eu estava tão encantada com aquele sorriso que eu nem consegui responder, só senti um puxão da Pati, me falando.

 - Ei volta pra terra, aterrissa menina e dizendo isso caiu na gargalhada.

 - Ah você sabe né Pati, não resisti, esse menino me deixa doida.

 - Você devia perder o medo e se declarar pra ele, o que pode acontecer de errado?

 - Você é doida, o que pode acontecer é ele me dar um belo fora e aí sim acabaram todas as chances da minha vida.

 - Nossa como você é exagerada e medrosa, eu ainda acho que você devia falar com ele, só assim pra você ter certeza.

 - Ah amiga esquece isso depois a gente conversa que a professora da primeira aula já entrou.

 Naquela manhã foram duas aulas de matemática (que eu adorava) e uma de português (que eu detestava), antes do intervalo. Na hora do intervalo, aconteceu uma coisa que eu me arrependi na hora que eu falei.

 Eu estava na cantina lanchando com a Pati, eu nem percebi quando e nem como, o quarteto maravilha da sala chegou e as meninas já começaram a conversar com a gente também sobre vários assuntos.

 O quarteto maravilha, era composto pelas meninas mais lindas da sala. Elas eram tudo o que as meninas normais queriam ser, populares. Tinha a Camila, ela era loira dos olhos azuis e tinha um corpo que dava inveja em qualquer uma, parecia a Carla Perez, aquela dançarina daquele grupo baiano. Tinha a Fabiana, ela era morena dos cabelos cacheados até a bunda. Tinha a Gabriela, ela era morena também, mas com os cabelos lisos e os olhos verdes. E tinha a Mônica que era a mais linda de todas e os meninos babavam quando ela passava, ela tinha os cabelos castanhos claros quase loiros e quando saia no Sol eles até brilhavam. Essas meninas sempre se vestiam bem, tinham as melhores maquiagens e sempre estavam nas conversas de todo mundo. Sabe aquela conversa, você viu o quarteto maravilha estava lá, o quarteto estava fazendo aquilo, o quarteto estava no baile e por aí a fora. 

 Eu particularmente não gostava delas, eram muito exibidas e passavam na mão de todo mundo. Mas naquele dia, elas estavam conversando com a gente não sei nem por que. A conversa estava indo bem, falávamos sobre várias coisas, mas foi aí que a conversa tomou um rumo inesperado, meninos. Uma falava que namorou com fulano, outra que ficou com ciclano e eu bem quietinha no meu canto, foi aí que a Mônica me perguntou.

 - Tina e você, quantos você já beijou? -disse Mônica

 Não sei se eu fiquei vermelha, azul ou roxa sem fala, aí foi aquela falação, ah não ficou com ninguém, boca virgem. A única coisa que eu fiz naquela hora foi mentir.

 - Nada a ver, eu fiquei com vários e tô até namorando! Falei sem pensar, porque se eu tivesse pensado eu não teria nem começado essa conversa.

 - Ah mentirosa, se você tá namorando como que é o nome dele, a idade e onde ele mora? -disse Mônica 

 - O nome dele é Beto, ele tem 17 anos e mora na rua da minha casa. -disse Valentina 

 - Olha meninas, deve ser verdade porque ela respondeu muito rápido. -disse Mônica. 

 Na hora em que ela disse aquilo o sinal bateu e já era hora de voltar pra aula, quando voltávamos a Pati me perguntou.

 - Tina por que você disse aquilo, essas meninas não merecem nenhuma satisfação da nossa vida?

 - Ah Pati tô cansada dessa vida sem graça que eu vivo, e além do mais se eu dissesse a verdade eu ia virar a gozação da sala. 

 - Você quem sabe, mas você é mais especial sendo você mesma e não uma pessoa criada a partir de uma mentira.

 Naquele dia a Pati disse a verdade, eu era mais especial do que todas aquelas meninas juntas. Mas lá no fundo o que eu queria era conhecer alguém legal, e quando e se eu conhecesse eu ia ser só dele e ele só meu.

 Só assim eu poderia ser eu mesma, sem as mentiras que eu tinha que inventar sobre uma vida que eu não tinha. Quem sabe alguém desse mundo já não estava sendo preparado para mim?

 Era pedir muito da vida?


A história de um grande amorOnde histórias criam vida. Descubra agora