Velhos amigos - Kamala

127 9 6
                                    

Logo no primeiro dia de aulas, eu acordei atrasada. Isso nunca tinha me acontecido antes. Não sei se foi por causa do clima, da ansiedade ou se eu realmente estava cansada, mas eu consegui levantar-me quase uma hora depois do programado.

Eu pretendia me arrumar com calma, preparar um café para tomar com os biscoitos de mamãe, mas tive que levantar correndo, vestir qualquer roupa, pentear os cabelos com pressa e pegar um café no caminho. Saí de casa, usando uma calça jeans, uma camiseta de banda e um rabo de cavalos feito às pressas.

Eu não queria ir com aquele carro luxuoso que papai comprara, mas eu estava muito atrasada. Joguei minhas coisas no banco de trás, dei a partida e segui para a faculdade. Entrei no auditório quase correndo.

A aula já tinha começado, mas o professor estava de costas. Se eu me sentasse rápido, ele não perceberia meu atraso. Assim, sentei-me na primeira cadeira vazia que vi à frente, ofegante, coloquei minha bolsa no chão, peguei caderno e caneta e comecei a anotar, concentrando-me totalmente na aula.

Quando o professor finalmente anunciou o fim daquela aula, eu suspirei e só então relaxei, deixando minhas costas tensas encostarem-se na cadeira. Então ouvi uma voz familiar falar comigo:

— Oi Kamala, há quanto tempo.

Virei-me devagar em direção àquela voz e deparei-me com o sorriso simpático e sincero do meu ex-amigo, que esteve sentado ao meu lado o tempo todo, sem que eu o percebesse. Meu coração bateu mais forte e eu fiquei sem graça. Tentando disfarçar a falta de jeito, coloquei um sorriso no rosto.

— Sohan, desculpe, eu não vi que era você aí do meu lado. Como vai?

— Ah, eu percebi. Você estava muito concentrada — Ele deu uma risadinha — Estou muito bem. Eu esperava te ver ontem, quando Anik e seus pais foram me visitar.

Eu gaguejei, tentando responder rápido.

— Ham. Sim. É... Eu estava cansada e ainda precisava arrumar minhas coisas. Desculpe, mas eu esperava ter outras oportunidades de te encontrar...

Percebi um brilho no olhar de Sohan, e um leve sorriso com o canto da boca. Voltei a falar rápido, para evitar mal-entendidos:

— É que estamos na mesma faculdade e, até onde eu soube, somos vizinhos.

— Claro. — Ele se levantou— Com licença Kamala, já vou indo. A gente se vê. Tchau.

— Tchau.

Durante aquela semana, eu voltei a ver Sohan, todos os dias. Nós estávamos fazendo as mesmas aulas. Muita coincidência. Coincidência também, foi encontrá-lo em uma festa de fraternidade no fim de semana.

Apesar de estarmos no vendo diariamente, nós não conversamos, nem nos sentamos perto um do outro novamente. Nós apenas nos cumprimentávamos educadamente, acenávamos com a mão ou com a cabeça e nada mais. Eu fiquei surpresa em encontrá-lo na festa, pois ele não me parecia ser esse tipo de garoto.

Eu também não era o tipo de garota que frequentava festas de fraternidade, mas eu estava sozinha pela primeira vez na vida, longe de casa, sem meus pais, sem meu irmão. Apesar de falar todos os dias com Anik e com meus pais, não era a mesma coisa. Eu sentia a falta do colo de mamãe, do abraço de papai, e dos tapinhas carinhosos de Anik.

Fiquei amiga de uma garota da minha turma. Ela dividia um apartamento com duas veteranas e me convidou para irmos à festa. Eu não queria ir, mas ela insistiu, então eu acabei aceitando.

As colegas da minha amiga nos apresentaram às pessoas e eu me entrosei rapidamente. Apesar de eu não gostar daquele tipo de festa, tentei não ser a chata, estraga prazeres e me divertir. Depois de algum tempo, uma das veteranas, que estava de frente para a entrada da casa arregalou os olhos, agarrou o braço da minha amiga e falou com ar de surpresa.

Os filhos do tigreOnde histórias criam vida. Descubra agora